quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Até o Adolf (líder promissor da JP) reagiu ao "Novo PEC"!

Do Tea Party (outra vez)


A Rolling Stone, de vez em quando, publica umas coisas interessantes. Desta vez, o Matt Taibbi dedicou-se a escrutinar o Tea Party num artigo de 15 de Outubro. Ele infiltrou-se no movimento, aprendeu as motivações, a história e a retórica teabagger e expôs toda a sua inanidade hipócrita de forma demolidora.

«Vastas florestas têm sido sacrificadas pelo debate público sobre o Tea Party: o que é, o que significa, onde se dirige. Mas após estudo aturado do fenómeno, concluí que toda a narrativa miserável se resume num facto marcante: eles são infundados como a merda. Todos eles. Ao nível do eleitor, o Tea Party é um movimento que afirma estar furioso a respeito de gastos do governo — mas na realidade a vasta maioria dos seus membros são ex-apoiantes de Bush que bocejaram durante dois termos de défices recordes e passaram os dois últimos ciclos eleitorais a preocuparem-se não com os gastos mas com as medalhas do John Kerry e as associações dos anos ’60 de Barack Obama. O membro médio do Tea Party é sinceramente contra os gastos do governo — com a excepção do dinheiro gasto neles

Explica Taibbi, expondo as conclusões a que chegou após interrogar os pseudo-insurgentes numa manifestação. De seguida, Taibbi descreve o percurso histórico do movimento, desde a sua origem como um movimento genuinamente insurgente de dissidentes anti-GOP, preocupados com a intervenção estatal em todas as áreas (incluindo em campos que são tipicamente o domínio do GOP, como guerra, drogas, o Pratriot Act, a prostituição, o aborto e o jogo, etc), até ser assimilado e transformado num fantoche republicano. Mantendo a retórica ultra-reaccionária e ultra-conservadora, o Tea Party foi reduzido a uma amálgama entre pseudo-valores conservadores e um vago sentimento pró-corporações e anti-governo (ou, melhor dizendo, anti medidas governamentais que desagradam às suas opiniões).

Esta situação, como o Taibbi descreve, não deixa de ser ilustrativa de outro problema na política americana, nomeadamente o bipartidarismo exacerbado, de tal forma que qualquer movimento dissidente da linha guia Republicana-Democrata é abortado, ainda numa fase incipiente, e incorporado num desses dois grandes grupos.

«Na narrativa do Tea Party, a vitória nas eleições representa uma nova revolução americana, uma que “trará o nosso país de volta” de tudo aquilo de que desaprovam. Mas o que não se apercebem é que há um círculo vicioso: estamos na América, e temos um sistema oligárquico arraigado que nos isola de toda e qualquer mudança política significativa. O Tea Party está hoje a ser representado nos media como uma grande ameaça ao GOP; na realidade, o Tea Party é o GOP. Quaisquer poucos elementos do movimento que ainda não estejam sob o controlo do Partido Republicano estarão em breve, e mesmo que alguns poucos candidatos genuínos do Tea Party consigam esquivar-se, é apenas uma questão de tempo antes que a revolta como um todo seja castrada, tal como todos os movimentos das massas neste país. Os seus líderes serão comprados e absorvidos na burocracia bipartidária, onde a sua plataforma será diluída até que as únicas coisas que restam sejam as que os contribuintes do GOP desejam: quebras de impostos para as camadas elevadas, negócio livre e desregulação financial.»

(De facto, eu acrescentaria que qualquer movimento que procure a mudança, por suave que seja, se vê estrangulado pelo status-quo. Recordemos as tentativas fracassadas de Obama para promover mudanças significativas no sistema de saúde, sistema prisional, entre outros. Convém recordar que, embora as promessas eleitorais do presidente americano se tenham revelado vácuas, em grande parte isso se deveu às contingências sistemáticas enraizadas na inércia política americana. Mas fujo ao assunto…)

A nova organização do Tea Party, que deixa de ser um movimento de massas conservadoras (que procurava «inverter o relógio, trazendo a América até ao momento da sua criação constitucional») para passar a ser um movimento conservador associado a temas típicos do retrogradorismo americano, promove portanto uma nova aliança com as massas rurais, através dos iscos típicos da religião, da homofobia e, claro, da raça (mesmo que disfarçada como uma questão de “patriotismo”), um ponto de grande importância no contexto do Tea Party. O movimento não tem nada de inerentemente racista, mas parece atrair toda a extrema-direita e aproveita-se dos preconceitos da população branca, de meia-idade e rural que é o seu público-alvo. A título exemplificativo, o artigo relembra o Acto dos Direitos Civis de 1964, que proibiu a descriminação racial nas empresas privadas («a ferramenta que os americanos se viram forçados a usar para acabar com um monstruoso sistema de apartheid que por um século fora a vergonha de toda a civilização ocidental»), e que os teabaggers consideram ser um abuso de poder governamental — um modo perfeito de mascarar a opinião racista de que os estrangeiros (negros, mexicanos ou quem quer que seja sobre quem a paranóia anti-imigração recair amanhã) não têm os mesmos direitos, incorporando-a na fraseologia de emancipação do Estado.

Em suma, o Tea Party torna-se num golpe mediático republicano. Como diz Taibbi, na sua exposição da realidade do movimento:

«Sob a superfície, o Tea Party é pouco mais que uma estranha e desorganizada multidão, uma federação de riscas de conservadorismo distintas e frequentemente competidoras que se viram incapazes de convalescer sob um líder por eles escolhido. As suas manifestações incluem não apenas libertarians hardcore deixados dos “Tea Parties” originais de Ron Paul, mas também promotores do direito às armas, cristãos fundamentalistas, grupos de pseudo-milícias como os Oath Keepers (um grupo de agentes da autoridade e profissionais militares que juraram desobedecer ordens “inconstitucionais”) e Republicanos mainstream que simplesmente perderam a fé no seu partido. É um erro considerar o Tea Party como um movimento coesivo e unificado — o que os faz uma presa fácil para as próprias pessoas contra quem deveriam estar a dirigir as suas forquilhas. Uma definição vaga do Tea Party pode ser milhões de pessoas brancas furiosas que foram enviadas para perseguir mexicanos que beneficiam do Medicaid pela mão-cheia de bancos e firmas de investimento que anunciam na Fox e na CNBC.»

Eis uma definição que acerta no âmago da identidade teabagger. Proponho que leiam o artigo completo.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

The Trotsky - Trailer (até os filmes de "plástico" falam do Trotsky)

O Analfabeto político, a ideologia, e o Reality Show.


Um miúdo olhou-me nos olhos, e perguntou-me o que era um analfabeto. Espantado com tal pergunta, apontei para um pobre homem que aparecia na Televisão e que dizia que não precisava da política para nada, e que não sabia política nem queria saber. Voltei a ponta do meu dedo para o ecrã onde estava um homem engravatado a falar, e disse ao miúdo, aquele ali é um deles, um analfabeto.

Sabendo que a ignorância, é o melhor instrumento de domínio. Os vários tipos de analfabetismo aprisionam a sociedade e florescem dentro dela, criam um pensamento réplica da ideologia dominante, e reproduzem-no, ganhando este mais adeptos e assim mais acríticos. Cada vez é menor o analfabetismo literário mas maior o político.

Já dizia Bretch, o pior analfabeto é o político. E cada vez há mais este tipo de analfabeto, um que conformado aceita a realidade social por inteiro sem pôr em questão essa realidade, dando-a como imutável e inevitável. O individuo, torna-se frágil e impotente para imaginar outra realidade e para mudar esta. A realidade social é dada como algo estático.

A democracia liberal é aceita como um dogma, como-se fosse a sociedade melhor possível e a sociedade do fim da história.

Todo o Analfabeto político absorve estas ideias e interioriza-as mesmo podendo não ter consciência de que as está a interiorizar. Mas o apelo ao conformismo e à impossibilidade de mudança está lá e floresce no seu pensamento destruindo qualquer crítica social mais profunda.

A política transforma-se em espetáculo, puro marketing e jogos de aparências, a própria é despolitizada e perde o seu conteúdo e interesse. O Analfabeto rende-se às aparências e às ilusões marketeiras de mudança (Obama.) ou aos populismos circences de políticos do espetáculo (Berlusconi.). As palavras perdem significado, os cortes de cabelo e os vestidos é que contam.
O discurso é feito à medida, encomendado, feito como um bolo de casamento.
Os apoiantes tranformam-se em firgurantes, em objectos que quantificam a popularidade do individuo que discursa palavras encomendadas.

O Estado como antigo orgão soberano, perde o seu poder sobre a realidade social e sob a economia (liberalização). Perdendo o seu poder e impotente para mudar a realidade social, a suposta democracia também perde poder, e acaba por ser inútil. Para quê votar na eleição de alguém, se esse alguém nunca teve tão pouco poder sobre a economia e sobre a realidade social?
A resposta será: Para nada mudar.

O intuito é esse, despolitizar para reinar. Tirar poder ao Estado, mas mesmo assim fingir que ele ainda tem poder e que o acto de eleição ainda significa algo, ainda influência, ainda manda soberanamente, para fingir que ainda existe democracia, que os cidadãos ainda tem uma palavra a dizer.

As Democracias Liberais, a pouco e pouco, estão a revelar a sua natureza, uma natureza cínica enquanto ao conceito de democracia, e a sua realidade oligopolística.
O seu maior apoiante e defensor é o Analfabeto político, que sem saber reproduz as suas intenções perpetuando o sistema e a sua ideologia.

Passado uns belos anos, o miúdo, agora adulto, perguntou-me:
Qual é o pior analfabeto?

domingo, 26 de setembro de 2010

Coreia do Norte!

A proibição do véu integral islâmico em França

Foi no dia 13 de Setembro do presente ano aprovada, em França, a proibição de ter a cara coberta em lugares públicos. Esta lei foi votada, tanto pelo partido do governo, como por esquerda e direita, abstendo-se o partido socialista.

A adesão a esta proposta foi grande, mas teme-se que possa ser reprovada pelo Conselho Constitucional. A argumentação que é feita no sentido desta lei apela àquilo que são os "valores republicanos" que estão na base da sociedade francesa.

Gostaria de fazer comentários acerca deste assunto, que se torna muito mais complicado do que parece, e que, a meu ver, vai bem além do pragmatismo adoptado em favor dos "valores republicanos" franceses.

Em primeiro lugar, é preciso ter muita atenção a quem se dirige esta lei. Não são todas as mulheres muçulmanas em França que usam, de facto, cobertura de rosto. Muitas delas usarão lenços como forma de cobrir o cabelo. É de notar que destas mulheres que se cobrem totalmente serão, de acordo com o Público, 1900 em toda a França.
A grandeza deste número é variante conforme a perspectiva. Observe-se desta forma: Temos 1900 mulheres para quem se legisla, que terão de pagar 150euros caso não cumpram a lei; mas temos, segundo o público, entre 5 e 6 milhões de pessoas muçulmanas em França.
Podemos concluir que os em nome das 1900 mulheres que atentam "gravemente" contra os "valores republicanos" franceses, cria-se um problema de discordância de 5 milhões de pessoas.

Depois de ter tido o privilégio de passar bons tempos em Istambul, Turquia, este Verão, um país conhecido por ser particularmente liberal quanto às diferentes práticas religiosas, pude ter um contacto com jovens de religião islâmica.

Assim, ao me propor a escrever sobre este assunto, enviei uma mensagem à minha amiga Esra, residente em Istambul, estudante Universitária, pedindo que me desse a sua opinião quanto a esta nova legislação em França. Esra, simpaticamente, enviou-me um texto escrito por si…



“Olá a todos! O meu nome é Esra, da Turquia,
E gostaria de partilhar um pouco sobre um tópico muito recente e que desperta em mim preocupação como à maioria das pessoas.

Após uma certa idade, (geralmente considerada como o inicio da idade adulta), nós, raparigas islâmicas, começamos a vestir uma nova peça de vestuário para sair à rua… um lenço para cobrir o cabelo.
Porque usamos nós isto? Porque usamos este lenço ainda que esteja tanto calor e sol? Se não se encontram informados sobre o Islão, pode-vos parecer estranho ver algumas mulheres cobrindo os cabeços com um lenço, certo?

Então vou tentar explicar de forma mais simples, sendo eu uma rapariga de religião islâmica, que também usa o lenço.
No Sagrado Corão, está escrito que as mulheres que atingem uma certa idade deverão cobrir certas partes do seu corpo. Ainda que certos estudiosos tenham pontos de vista diferentes quanto às partes do corpo que se deverão cobrir, é no entanto bastante claro que a cabeça deve ser coberta.

Eu sou de religião Islâmica, eu acredito em Allah e o seu Sagrado Corão, ele disse-nos no seu livro para procedermos de determinada forma… e esse é o motivo para o fazer, para cobrir a minha cabeça com um lenço. A verdade é que existem mulheres de religião islâmica por esse mundo fora, que, de outra perspectiva, entendem que, para além da cabeça, deverão cobrir o rosto. Façamos claro que isto é uma opção, não uma obrigação. Eu pessoalmente não quero cobrir a minha cara, mas enquanto pessoa que ama a tolerância e o respeito, não tento fazer da cobertura de cara, algo negativo.

E agora, pessoas estão proibidas, em França, de cobrir os seus rostos? Em nome de quê? Segurança? Secularismo? De certeza que não em nome da Liberdade. Esperava que a França fosse um país que não interferisse com as ideias livres de cada pessoa, e os seus estilos de vida.

Sinceramente, sou uma pessoa extremamente optimista, embora por vezes, saia magoada com a realidade.
Um dia seremos capazes de nos respeitar uns aos outros. Espero que esse dia não demore a chegar. “

Esta é a opinião de uma jovem de religião islâmica, que, embora não seja directamente ofendida pela legislação, tanto por não cobrir a sua cara, como por não ser cidadã francesa, mas que se sente indignada. É em nome de um "problema", (é muito discutivel se será ou não um problema), que se cria um problema de indignação tanto a nivel de toda a comunidade islâmica francesa, como também a nivel mundial, como podemos verificar pelo testemunho de Esra.

Fico-me com um video que descobri no Youtube, em que Miguel Portas fala sobre este assunto.


sábado, 25 de setembro de 2010

O Cavaco e a sua arte, a ordenha.

Parece que o nosso querido Presidente da República tem uma especial qualidade extra sensorial que lhe permite sentir o prazer que as vacas retiram de uma boa ordenha robótica, não só tem esta belíssima qualidade, como revela também ser um especialista nessa mesma arte.

Nos passados anos em que esteve no poder como Ministro, pouco aprendeu, mas muito se "deliciou" a "ordenhar"e a ver "ordenhar". Talvez venha daí a qualidade extra sensorial e a maneira poética de ver a ordenha. Coitadas das vacas e do povo português. Até a uma próxima, ordenha...

Ordenha

O Conhecimento é Livre!

A ACAPOR, Associação representativa dos clubes de vídeo portugueses, iniciou um procedimento administrativo com vista ao bloqueio do acesso ao site “The Pirate Bay” através de território português.

E viva a legislação de copyright! A fim de proteger o monopólio dos clubes de vídeo sobre um objecto físico, de plástico, a ACAPOR quer interceptar toda a troca de informação entre Portugal e os servidores suecos do Pirate Bay.

Já vai sendo altura de acabar com esta aldrabice. O sistema de software livre é uma necessidade dos tempos modernos, de um mundo não mais adaptado às relíquias históricas das patentes sobre informação. É por isso que é preciso lutar pelo fim das restrições monopolistas que nos privam das liberdades básicas da era da informação, nomeadamente:

  • A liberdade de executar programas como quisermos;
  • A liberdade de estudar programas, perceber o que fazem e alterá-los;
  • A liberdade de distribuir cópias dos programas e ajudar os outros;
  • A liberdade de distribuir as alterações feitas aos programas, contribuindo para os melhorar.

Estas liberdades fundamentais seguem do facto de um programa de computador ser um conjunto de instruções matemáticas que o hardware calcula. Por outras palavras, o software é álgebra. Imagine-se alguém a querer impedir a liberdade de fazer contas, estudá-las, ajudar os outros e distribuir novas equações matemáticas e percebe-se o absurdo das limitações distributivas de software. O que temos é um sistema em que compramos contas para fazer nas nossas calculadoras mas estamos proibidos sequer de saber que contas são essas!

O software não é propriedade. É conhecimento. E o conhecimento, como dizem as palavras de ordem, é livre. Não se vende, distribui-se, investe-se na sua criação. Examina-se, compreende-se, usa-se e partilha-se.

O Código de Direitos de Autor diz que posso copiar para uso pessoal desde que não afecte o seu valor comercial. A lei é pouco abrangente, porque fala só acerca de «cópia», um conceito mal definido — posso pedir emprestado, emprestar, cantar, memorizar? O problema com estas leis é que são anacronísticas, relíquias de um tempo em que não havia computadores nem Internet, em que copiar um livro era imprimir um molho de papéis e copiar um disco exigia equipamento especializado. A lei regulava a distribuição e a cópia apenas enquanto actividades comerciais, especializadas, fora do alcance das pessoas comuns.

Mas a informática mudou o mundo da cópia radicalmente. Neste momento uma cópia (de um livro, filme, música, programa informático) é um conjunto de dados, de zeros e uns. Ao ler uma webpage estamos a copiá-la do servidor para o nosso PC. Ao enviar um e-mail, estamos a enviar uma cópia daquilo que escrevemos. Ao instalar um programa, estamos a copiá-lo para o disco e ao executá-lo, estamos a copiá-lo para a memória. Na era informática, a cópia é trivial.

Desta forma, uma lei que regulava apenas algumas actividades especializadas, procurando equilibrar direitos do distribuidor, do autor e do consumidor, passou a fazer com que as actividades mais básicas se tornassem proibidas. A tecnologia melhorou e, por esse motivo, tudo o que antes se fazia sem regulação passou a exigir autorização dos distribuidores.

As companhias de distribuição, possuidoras do copyright («direito de cópia», como se alguém tivesse o monopólio da imitação, algo que está na base do avanço cultural-científico!) agarram-se às suas leis desajustadas da realidade para proteger os seus interesses (não os interesses do autor e certamente não os do consumidor).

Está na hora de reformular radicalmente as leis de copyright! Não eliminá-las, mas reformulá-las para que cumpram as suas verdadeiras funções: regular o comércio de software sem se intrometerem na vida privada e sem cortar o acesso à cultura.

Um post num blogue não é o sítio ideal para expor todos os aspectos técnicos ou comerciais que rodeiam a questão e as questões que deixei por responder são muitas: serão as leis de copyright em benefício dos autores? Deverá a liberdade de cópia ficar restrita ao software? E economicamente, será verdade que o download «ilegal» é responsável por milhares de euros de prejuízo? Talvez volte a abordar alguns destes temas no futuro. Por agora, proponho que passem pela Associação Nacional para o Software Livre e dêem uma vista de olhos ao que eles têm a dizer.


Impudícia! Devassidão! Valha-me N.ª Sr.ª Mãe de Deus!!!

IMORALIDADE!
DESREGRAMENTO!
IMPROBIDADE!
PERVERSIDADE!
INDECÊNCIA!
ESCÂNDALO!

CHAMEM O CURA!

Algumas escolas do 1.º ciclo recomendam um dicionário com palavrões.


Os pais estão INDIGNADOS!!! com a situação.


(Que espécie de dicionário seria se não tivesse as palavras que compõem o léxico da língua portuguesa? Mas, claro, para estes pais o modo de impedir a DEVASSIDÃO IMORAL!!! é manter os rebentos na ignorância...)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

E que tal sobre os computadores?



Um anónimo perguntou-me se os computadores são um meio de produção, e acho que é uma pergunta muito pertinente. É tão pertinente que até a vou publicar como texto, e não como resposta a comentário, para memória futura.

Recorreu à expressão "e que tal sobre os computadores?" para me perguntar se estes são m.p, daí o meu título.

"Meios de produção: é o conjunto formado por meios de trabalho e objectos de trabalho - ou tudo o que medeia a relação entre o trabalho humano e a natureza, no processo de transformação da própria natureza em produto para satisfazer as necessidades humanas." - definição básica.

Para se avaliar o que é de facto um meio de produção ou não, tem de se ter em conta o contexto em que o mesmo objecto está inserido. Tal como as palavras, o sentido de uma palavra muda consoante o contexto.

Esse é o caso do computador, num call-center, ou num serviço de telecomunicações (tele-trabalho) o computador pode ser um meio de produção, na minha casa não o é. Vejamos o caso do carro. O carro é normalmente utilizado como um bem pessoal de transporte. Mas existem ocasiões onde o carro é um meio de produção, como por exemplo, os taxis, não são já um bem só pessoal, são algo necessário para prestar aquele serviço. Como no caso dos taxis muitas das vezes o condutor não é o proprietário do veiculo portanto aquele "carro" é meramente um meio de produção.

Como a foice e o martelo podem ser meios de produção, ou, objectos decorativos, dependendo da função e do contexto onde estão inseridos. Ou seja, o que faz um objecto ser um meio de produção são também as relações sociais que se desenvolvem em seu redor, se a relação tem um carácter produtivo, então o objecto poderá ser considerado um meio de produção porque tem como objectivo gerar riqueza. Se a relação for simplesmente de usufruto, o objectivo do mesmo é satisfazer pessoalmente o seu detentor. Esta última é chamada propriedade pessoal, exemplo: os meus sapatos, calças, telemóvel, carro ect.

Vamos, complicar o problema dos meios de produção.
Concentremo-nos agora no trabalho intelectual, aquele em que o principal meio de produção é o cérebro, ou seja a produção de ideias. Neste caso não poderemos dizer que os meios de produção concretamente são de um Capitalista, ou os instrumentos auxiliares para a produção de ideias. Agora o leitor poderá pensar, mas então esse trabalhador é livre e não está sujeito ao jugo capitalista. Mas o leitor que julgará isto, está enganado, porque apesar dos meios de produção poderem não ser do Capitalista, o trabalho "imaterial" depois de produzido tem de ser distrubuido à sociedade, e é na etapa da distribuição que hoje temos mecanismo de apoderação do trabalho, como o caso das patentes, das empresas que compram ideias e que não permitem que novas ideias se possam gerar se se basearem na ideia patenteada. No caso das editoras/distribuidoras de toda a cultura desde a música, filmes e livros.

Estes são os mecanismos de apoderação/exploração do trabalho "imaterial", com o famoso exemplo de que nesta cadeia de distribuidoras e editoras os autores são os que acabam por receber menos no meio deste complexo mercado.

Chegamos à conclusão que para se apoderar e explorar o trabalho não basta só que os meios de produção sejam privados, mas também os meios de distribuição, como é exemplo a produção cultural.

e que tal sobre os computadores?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O anarco-capitalismo não é só bipolar, é também arrogante. Receita médica: COMUNISMO


Um anónimo comentou isto no post "Anarquismo bipolar" em defesa do anarco-capitalismo :

""olha agora vem um menino com conhecimentos de wikipedia e youtube falar do que não sabe. podia ao menos refutar um único principio do anarco-sindicalismo? li e não encontrei uma única refutação. pelo menos uma, num texto tão grande...
os unicos argumentos provêm de erros semanticos, ou das varias interpretações que as palavras possam ter actualmente, e que não corresponde à sua verdadeira origem e que tocam superficialmente (de raspão) os temas."

"em vez de empreender por um discurso que não acrescenta nada, a não ser a pessoas ignorantes, poderia ter alguma honestidade intelectual, mas como Hoppe afirmou: «logical consistency is not a requirement for an anti-rationalist»
se calhar se lesse mesmo adam smith, perceberia o grande erro que acabou de cometer e que só comprova que não faz a menor ideia do que fala."

O Anarco-capitalismo bipolar e arrogante

Além deste ser, pensante, não só ser pensante, mas majestoso sábio e intelectualmente muito avançado, fala muito de refutações mas mal sabe que o texto não é sobre anarco-sindicalismo, mas anarco-capitalismo.

"podia ao menos refutar um único principio do anarco-sindicalismo? li e não encontrei uma única refutação. pelo menos uma, num texto tão grande..."

Deve ter lido sem óculos, coitadinho do Sábio. Num comment tão pequeno pode se dizer realmente muito disparate, ora é óbvio que o nosso caro amigo não encontra nenhuma refutação ao anarco-sindicalismo num texto tão grande, mas sim algumas refutações ao anarco-capitalismo, que é algo um "poucadinho" (muito) diferente. Mas percebesse que alguém que leia tantos livros tenha estes lapsos. Todos os grandes sábios o têm, não é verdade?

"Os unicos argumentos provêm de erros semanticos, ou das varias interpretações que as palavras possam ter actualmente, e que não corresponde à sua verdadeira origem e que tocam superficialmente (de raspão) os temas."

Este sábio, é como os sábios, nao poderia deixar de ser como eles. É tão sábio que fala, fala, e até insulta, mas concretiza pouco, e objectiva pouco, para alguém que filosoficamente deveria ser tão objectivo como o objesctivismo de Ayn Rand.
Concretize, ninguém leva a mal, meu velho sábio.

Acusa o texto de tocar nos temas de forma supreficial, mas esquece-se que o comentário que deixa não tem nada de profundo. Chamem-me o Lacan, a psicanálise de Freud ajudariam a compreender este anónimo e a sua patologia, uma patologia de sábio!

"em vez de empreender por um discurso que não acrescenta nada, a não ser a pessoas ignorantes, poderia ter alguma honestidade intelectual, mas como Hoppe afirmou: «logical consistency is not a requirement for an anti-rationalist"

Falam tanto do principio da não-agressão, estes sábios, mas para agredir verbalmente parecem estar prontos.
Mas como eu não sigo esse principio, e até acredito na coerção, permita que lhe diga algumas palavrinhas, Hoppe, é um senhor que prefere a monárquia à democracia, e que diz que a monarquia é um mal menor. Um tipo que opõe a liberdade à democracia, é realmente um senhor com muita autoridade para falar de rationalidade. Anti-racional são os mercados.
O mesmo senhor diz "Liberdade em vez de Democracia", este anormal nem é levado a sério, e chamê-mos outra vez o Lacan, para ver que patologia este senhor poderá ter.

Se calhar se você parasse de ler tanto, meu caro sábio, e se saísse mais à rua para ter contacto com o ar fresco e realidade do mundo poderá o fazer, e o Lacan, aconselha-o. Disfrute das paisagens, dos rios, dos bosques, dos mares e praias enquanto não são privadas. Apanhe ar fresco e tome comprimidos meu velho sábio, você com tanto conhecimento deveria escrever um livro.

Tente usar o principio da não-agressão não só para o que convem, e use o objectivismo nos seus comentários e não só na filosofia. Nós agradecia-mos.

O Aluno.

Tea Party e os seus malucos!

O «anarquismo» bipolar

Enquanto o tema está em voga, gostava de dizer algumas palavras a respeito do bizarramente baptizado libertarianism (em inglês porque o seu significado, na América, difere do significado daquilo a que o resto do mundo chama libertarismo) e do seu filho mimado, o «anarco»-capitalismo (passe o oximoro).

Estes seres desorientados podem ser encontrados na marcha do Tea Party mais próxima, transportando o Atlas Shrugged num braço e cartazes denunciando o Big Government no outro… e já vai sendo tempo que se reconheça a sua retórica lunática pela verborreia bipolar que é.

Bipolar por causa das suas duas pretensões concorrentes: por um lado, pela pretensão de um capitalismo laissez-faire, sem Estado, ou de Estado limitado (algo naturalmente contraditório). E por outro, pela pretensão de que possa haver anarquismo sob o capitalismo, de que a messiânica liberdade possa alcançar-se pela dissolução do Estado sem um processo prévio de socialização dos meios de produção.

Começando pela segunda, é verdade que o Estado é um mecanismo coercivo, e o socialismo faz tradicionalmente uso deste facto quando afirma que o Estado é o mecanismo de legitimação da opressão da classe explorada pela classe opressora. Analisaremos mais à frente as implicações desta constatação quando nos debruçarmos sobre a primeira pretensão que eu enunciei mais acima.

Por outro lado, é evidente que o conflito de mercado é conducente ao estabelecimento, se não de monopólios, pelo menos de grandes grupos económicos; ou por outras palavras, o capitalismo promove (aliás, define-se como) acumulação de capital (nas mãos dos proprietários). Porquê?

Porque é apanágio do capitalismo — a livre troca de bens e serviços — que o receptáculo da riqueza produzida seja o proprietário do capital, e não o trabalhador que produziu essa riqueza. Posto desta forma, torna-se evidente que aquele que possui capital está apto a coleccionar mais, à custa daquele que não o possui. Este sistema é inevitavelmente conducente à desigualdade social e à acumulação do poder económico nas mãos de uma minoria burguesa. O Capital concentra poder económico à custa do Trabalho.

Ora, poder económico equivale de facto a poder político e, como o Miguel expôs e eu tentei clarificar, equivale a poder de coerção — a propriedade privada e o mercado são contendores de poder coercivo. Afinal de contas, a motivação primária do Privado é a maximização do lucro (a função de utilidade do Homo œconomicus) e o modo que a História demonstrou ser mais conducente à acumulação do lucro é a exploração capitalista do trabalhador — uma forma de coerção.

Os empresários assemelham-se portanto menos a benfeitores e mais a mercenários, pois como disse Adam Smith n’A Riqueza das Nações, «Não é da benevolência do talhante, do cervejeiro ou do padeiro que esperamos o nosso jantar, mas da sua consideração pelo seu auto-interesse». Um mundo governado por uma oligarquia burguesa é a consequência inexorável do «anarquismo» capitalista, e nesta situação a liberdade económica é a liberdade da classe privilegiada para explorar livremente a grande maioria da população.

Alguns exemplos práticos da exploração que floresce sob a ausência de regulação são o despedimento sem justa causa, a competição sem consideração pelo bem-estar social ou ambiental, os horários à vontade do patrão, a discriminação na hora da contratação, o trabalho forçado e o trabalho infantil, et cætera. E, como a acumulação de capital se traduz no estabelecimento de monopólios, verificar-se-ia igualmente a eliminação do negócio tradicional e regional, a prática de preços à vontade do produtor, a homogeneização da oferta e a desconsideração pela qualidade dos produtos a nível, por exemplo, de saúde ou de carácter educativo.

É este o resultado quando o Capital decide limitar o Estado: a criação de um substituto para o mesmo, composto pela oligarquia burguesa, conducente à exacerbação da exploração capitalista. De forma aparentemente contraditória, mas em verdade inevitável, resulta daqui que o libertarianism, ao aumentar a liberdade da classe burguesa, reduz a liberdade da população em geral.

É esta a primeira das contradições do «anarco»-capitalismo (espero que por esta altura o leitor consiga identificar o porquê das aspas, dado que a mesma ideologia que promete esmagar a liberdade, embora de forma dissimulada, se denomina anarquista e usa fraseologia libertária). A segunda é talvez mais subtil: o facto de o capitalismo ser dependente da existência de um Estado.

Dizia eu mais acima que o Estado é um mecanismo de legitimação da opressão de uma classe por outra. É necessário um Estado para justificar a exploração do proletário pelo burguês e sem Estado a burguesia perde qualquer base em que sustentar a sua actividade.

Isto ocorre porque é necessário um Estado coercivo que garanta ao Capital o «direito» de propriedade. O Estado é uma peça-chave do capitalismo, reestruturado numa superestrutura de repressão, de uso imperialista e de reforço da hegemonia de classe.

Ocorre ainda porque o Estado é detentor de sectores não-rentáveis, mas que são fundamentais à actividade das áreas de lucro máximo. O Estado, ao assegurar a manutenção das áreas pouco lucrativas da economia, garante portanto o suporte do próprio sistema capitalista, que não se vê forçado a fazer investimentos que lhe não sejam lucrativos.

Assim, para os defensores da economia de mercado, o único papel em que o Estado é eliminado é enquanto detentor de meios de produção, retirando proveito dessa eliminação a élite proprietária e o patronato, mas não o resto da população. O ideal capitalista, portanto, é de um sector público em regressão, mas apenas nos meios de produção que se tornaram rentáveis!

Conclui-se, então, que o Estado é instrumento necessário à ditadura da burguesia, sendo esta a segunda contradição irreconciliável do libertarianism.

Por outro lado, vejamos o que nos diz a alternativa socialista: que os meios de produção são um produto comunitário e o capital é um bem social. Deste ponto de vista, o Estado é manifestamente supérfluo, tornando-se um anacronismo, pois não há classe exploradora que exija legitimação. Como diz o próprio Frederick Engels, em Socialismo: Utópico e Científico:

«A interferência estatal nas relações sociais torna-se, num domínio a seguir ao outro, supérflua, e eventualmente morre por si mesma; o governo das pessoas é substituído pela administração das coisas, e pela conduta dos processos de produção. (…) Na proporção em que a anarquia da produção social se desvanece, a autoridade política do Estado morre.»

Então afinal, quem é que quer menos intervenção estatal?