segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Marx, Trotsky, Lenine e outros Santos Padroeiros


Hoje deparamo-nos com várias correntes e pontos de vista que florescem. Uns mais à esquerda outros mais à direita. Vimos neste século o florescimento de teóricos como Toni Negri, David Harvey, Tony Judt, Slavoz Zizek, Noam Chomsky, Elinor Ostrom, Boaventura Sousa Santos, José Reis, entre muitos outros a desempenharem um papel essencial na cena intelectual e no debate teórico à esquerda tanto a nível nacional como internacional.

Enquanto uma esquerda mais moderna ouve atentamente os novos teóricos, outra limita-se a repezinhar os velhos santos padroeiros da esquerda e a adoptar os seus discursos, análises, e livros como fundamentalistas religiosos.

É nestes casos que a religião e a política se assemelham mais intensamente.

Existe um culto em certas áreas políticas de preservar um certo vocabulário que só interessa aos próprios crentes/militantes e que só eles sabem decifrar. Alguns até vibram quando alguma dessas palavras são proferidas, entrando quase em estado pós-hipnótico. Burguesia, proletariado, operariado, entre outros arcaísmos que a sociedade contemporânea percebe, mas que absorve estas palavras como quem come um pastel de nata fora do prazo. As palavras cheiram a bafio. Não têm eco na sociedade, só mesmo nos corredores destes partidos e movimentos. Falar nesta linguagem oitocentista é falar para dentro.

Não só é preciso adoptar um discurso mais contemporâneo. Com uma linguagem que não vá na mesma linhagem que o "Das Kapital" de Karl Marx. Que não caía na constante repetição da análise marxista que todos nós conhecemos. Que tem todo o mérito. Mas que não basta, e é insuficiente para os dias de hoje. É preciso uma renovação do método de análise da sociedade.

Depois de uma revolução tecnológica, cientifica digital e de uma sociedade pós-moderna que enfrenta desafios novos e complexos, não será viável perder muito tempo a revisitar santos como Lenine, Trotsky, Mao, como muitos outros. Não faz sentido. A não ser num ponto de vista mais historicista e numa "de aprender com os erros do passado".

É preciso romper com o tradicionalismo de esquerda e com todo o sacralismo que alguns gostam de fazer à volta de figuras como essas, transformando-as em santos rebeldes e anti-capitalistas, e os seus fiéis em gentes de uma procissão esquizofrénica e oitocentista, que ruma em direcção a uma pátria vermelha que os próprios não sabem dizer o que é. Mas que julgam sentir ao longe como um evangélico sente Deus quando entra em transe.

É preciso acabar com esta mitologia, com esta sacralização, com esta ideia de fado, com o repisar os mesmos ídolos e personagens o resto da vida. São coisas que não fazem sentido à maior parte da juventude de hoje e até a mais seniores. Quer-se uma ideia radical? Essas não o são de certeza, a de Trotsky, Lenine e Mao, que já há algum tempo foram corcomidas pelas traças.

A resposta está nos vivos, e não em mortos que já jazem nas suas campas há mais de um século.
É preciso não esquecer as suas obras, mas daí vai uma diferença enquanto a por as mesmas no pedestal da actualidade, e a procurar respostas para os problemas actuais vindas daí.

É preciso menos teoria crítica pura e menos alternativa política à priori. É urgente uma análise cientifica baseada em factos e em experiências empíricas e com métodos científicos do século XXI, coisa que a esquerda não se tem empenhado a fazer.

É preciso uma esquerda que experimente, que pesquise, que analise com mais detalhe e rigor cientifico. Uma que desconstrua os dogmas e que acabe com o espírito messiânico de uma certa esquerda inspirada inconscientemente pelo messianismo judaico-cristão. Paira por aí uma esquerda que espera por uma "revolução", que nascerá num dia de nevoeiro sabe-se lá por que razão e instaurará a utopia socialista, e seremos todos felizes para sempre. Esta crença tem que ser desconstruída. Para o bem de quem quer mudar as coisas realmente existentes.

Deixar o fetiche puramente ideológico e as utopias puras e ingénuas e pensar nas sociedades que foram mais longe na realidade em termos de alcançar os ideais do bem-estar, justiça social, democracia, liberdade e solidariedade. E pensar em métodos organizacionais que possam ser aplicados na realidade e experimentá-los. Exemplos como o OE participativo, o conceito "the commons" (de Elinor Ostrom), Demoex, entre outros projectos bastante interessantes que precisam de ser postos em prática que envolvam relações sociais novas, e novas formas de produção e preservação naturais.

É preciso desconstruir o mito de que o próximo modo de produção será determinadamente o modo de produção socialista e por consequente comunista. Isto é uma das crenças mais irracionais do pensamento marxista, que deve ser desconstruído e posta a nu.

Apelo a todos os interessados no debate e no progresso social que se faça um debate mais inovador, baseado mais em factos e experiências empíricas que em dogmas e escrituras de autores que já morreram há mais de um século.

É altura do método científico ser utilizado com mais intensidade. É altura de começar a incluir teorias e análises vindas de áreas como a sociobiologia, e de incluir mais análises vindas de áreas como a criminologia ou ciências jurídicas.

As análises sociais, e as alternativas sociais venham de onde vierem só poderão ser realmente positivas se envolverem no seu processo intelectual uma riqueza e pluralidade de análises, de disciplinas, de pessoas diferentes mas tolerantes. Não precisamos de mais dogmas ou esquerdas messiânicas que usam "O Capital" nas suas rezas ou outro holy book.

A esquerda advoga a mudança, mas a mudança na esquerda também é complicada.

Ar fresco. Anti-dogmático. Racionalidade, pragmatismo, tolerância e muita pluralidade.

O pior defeito da esquerda não está em ser demasiado anti-capitalista ou social-democrata, mas em ser dogmática.

Não deixa de ser engraçado como uma certa esquerda se aproxima da religião na sua lógica irracional, fé messiânica, determinismo e culto de personagens e livros de uma forma sacra, literal e tão pouco crítica e mesmo conservadora.

domingo, 30 de janeiro de 2011

O "Nada" e o "Ninguém"

"Digital" (2005) - curta metragem de Elias Leon Siminiani




Uma cidade que se substitui.
Um cidadão que se perde.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O futuro incerto da Revolução tunisina

[Manifestantes tunisinos]

A Revolução de Jasmim foi um movimento verdadeiramente popular, de aspiração à liberdade, manifesta por fim no derrube da cleptocracia totalitária tunisina. O governo-fantoche instalado (dominado pelo partido de Ben Ali e apenas a semana passada expulso, com um timing notável, da Internacional Socialista), poderá cair em breve, e mesmo que o não faça o distanciamento das políticas despóticas é inevitável, pela rejeição popular do regime monárquico e medievalesco que era, na Tunísia, a ditadura da família de Ben Ali.

É de notar o papel que a internet teve neste movimento: como o único meio verdadeiramente capaz de abolir fronteiras e unir os insurrectos, como expressão suprema da ausência de coerção e da construção comunitária. É tempo de abraçar a internet como instrumento revolucionário e de intensificar a defesa dos seus conteúdos, sublinhando que a proibição do acesso à internet é a forma mais inaceitável de censura, como outros eventos este ano — o caso WikiLeaks sendo o principal exemplo —, vieram demonstrar. A internet teve na Tunísia o papel de conectar e organizar o movimento revolucionário; a tirania egípcia, compreendendo isto, proibiu não apenas as manifestações mas também os blogues e redes sociais.

A Revolução de Jasmim foi já uma vitória, pelo que alcançou. Mas lançou no Magrebe um abalo cujo desfecho é incerto e imprevisível. No Egipto, na Argélia, em Marrocos, na Mauritânia e na Líbia, os cidadãos olham para a Tunísia com esperança e solidariedade, mas os déspotas estão também atentos. Se as ondas de choque da Revolução se espalharão, é impossível dizer, mas o Egipto e o Líbano começam já a experimentar uma revolta popular em estado embrionário. No Cairo, a polícia dispersou uma manifestação contra o regime de Hosni Mubarak, usando gases lacrimogéneos e jactos de água; a proibição das manifestações é um sinal claro do medo da classe dominante.


[Conflito entre a população egípcia e a política de choque]

No meio das vitórias populares, contudo, a imprevisibilidade caótica do curso da Revolução cria a incerteza: a esperança de uma democracia, ou o medo de uma teocracia. A influência islâmica torna difícil o percurso para a democracia. Os partidos islâmicos, há muito banidos na Tunísia, anunciam-se reconstituídos. No Líbano, a tensão manifestou-se com a designação do primeiro-ministro apoiado pelo Hezbollah, Nagib Mikati. E a Arábia Saudita está pronta para espezinhar o jasmim onde quer que este comece a florescer, apoiando monetariamente os extremistas islâmicos no Iémen, na Jordânia, onde quer que se encontrem.

A vitória popular tunisina foi conduzida por jovens universitários laicos, cujas preocupações eram o futuro, a fome e o emprego, não as madraças e as mesquitas. A Revolução de Jasmim foi produto de necessidades seculares, não do ódio aos infiéis. Mas as forças teocráticas poderão estar prontas para reclamar outros fins em nome da população que não representam.

Há que ter atenção ao caso tunisino e ao seu desenlace ainda imprevisível. Aqui temos um microcosmo do zeitgeist da nossa época: uma época em que os valores da democracia e do iluminismo competem contra o fundamentalismo, a intolerância e a resposta prosélita à globalização. Neste microcosmo, as forças antagónicas e as tensões que marcam o presente do Magrebe e do Mundo estão a protagonizar uma experiência política e social cuja importância não convém menosprezar.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A Nossa Maior Glória não está em Cair, mas em Levantar a Cada Queda.


Cavaco Silva eleito por cerca de 25% do total de portugueses e Manuel Alegre votado por cerca de10% dos portugueses. O que ficou a nu foi que nenhum deles tem grande credibilidade perante o povo português.

Mas mesmo assim do universo de eleitores Cavaco Silva ganhou. Manuel Alegre saiu derrotado, e a esquerda sai de ressaca como era previsível pelos críticos mais racionais desta fantochada.

Por mais jogos de palavras que queiramos fazer, Manuel Alegre não atraiu a confiança dos portugueses e teve um resultado pior que quando concorreu como "independente".

O que ficou patente, é que os candidatos "anti-sistema" saíram vitoriosos destas legislativas. Tanto Coelho como Nobre tiveram votações surpreendentes. O que mostra bem o descrédito que o povo português tem na classe política em geral.

Tal classe política que é bem representada na figura de Manuel Alegre e Cavaco Silva.

Pois um não teve outro trabalho que ser deputado na Assembleia da República e fazer poemas (Manuel Alegre), outro é o político que há mais tempo está no poder (Cavaco Silva). Os portugueses estão fartos deste tipo de oportunistas políticos, como mostra a abstenção, os votos brancos, nulos e os votos em Nobre e Coelho.

Tanto Cavaco Silva como Manuel Alegre estiveram nos corredores do poder nos últimos 37 anos. Tanto um como outro são são as faces da mesma moeda. Cada um à sua maneira. Cada um com o seu estilo e partido, cada um com as suas hipocrisias.

Manuel Alegre não representava uma real mudança, mas sim a perpetuação do mesmo, visto que quem apresenta o programa político estrutural para o país não é o Presidente da República.
Manuel Alegre poderia ser um garante da não dissolução da Assembleia da República, sim, mas não poderia impedir a acumulação de forças do PSD e CDS e da sua previsível chegada ao poder, a curto-médio prazo. Manuel Alegre foi uma má escolha da esquerda, de uma que se rende à falta de rigor, à mediocridade e ao mais fácil nos seus critérios políticos para apoiar certa personagem. Como sempre disse e continuo a dizer. Está na hora de prestar contas, está na hora de assumir os erros e aprender com eles. Mas não desistir, nunca. Nem desistir de aprender.

Está na hora de não voltar a apoiar candidatos medíocres, mas sim ter critérios mais rigorosos e também convergentes na escolha dos candidatos, e trabalhar para isso.

Cavaco ganhou, mas é a última vez que ganha. Prometemos dar luta.
Tenho pena daqueles que se deixaram iludir em demasia pela figura do Manuel Alegre, e dos que hipocritamente apoiaram a sua candidatura. O povo português conhece-os e não acredita neles.
Como mostraram as eleições.

Só 25 % dos portugueses acreditam em Cavaco Silva, e menos de 10% em Manuel Alegre.

Aprender com os erros, e toca a levantar.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Cavaco, O Candidato do Grande Crime Económico Português



Mais um caso que envolve o candidato Cavaco Silva, que num dia destes afirmou gloriosamente o homem que nunca se engana, "Para ser mais honesto que eu tem de nascer duas vezes".

Este senhor com discurso sempre moralista, não o é igualmente moralista na sua vida pessoal e nos seus negócios e escrituras da casa, onde aí reina a incerteza e o obscurantismo dos seus negócios e amigos. Este senhor que paira pela política, e se tenta distanciar dela e dos políticos, é o político que há mais tempo está no poder, não será isto irónico?

São casos como estes que expõe a podridão do nossa classe política e o cinismo de alguns.
Além e tudo isto, nas últimos dias Cavaco Silva tem cedido a um estilo de campanha cada vez mais populista e demagoga, mostrando o seu lado mais oculto, o lado de uma personagem que sempre conviveu mal com a democracia e a livre escolha dos cidadãos, como indica o seu último argumento em defesa da sua candidatura, "os portugueses que deixarem ir isto a segunda volta não são patrióticos, porque uma segunda volta vai ter despesas insuportáveis para o país".

Não será isto uma sinal de preocupação e de mal convivência com a livre escolha das pessoas?

Pois vamos analisar a falsa honestidade deste candidato à luz de mais um caso pouco explicado.
A revista "Visão", com este artigo expõe a honestidade falsa deste candidato, um artigo com factos que expõe a podridão dos seus negócios:



Cavaco não é só o candidato do CDS e do PSD. Cavaco é o candidato dos antigos administradores e grandes accionistas do BPN, é o candidato que simboliza a face mais hipócrita da política. É sem dúvida o candidato que mais unifica em torno da sua candidatura o Grande Crime Económico Português.

É triste os portugueses deixarem-se ser enganados por este senhor que tanto apresenta uma figura idónea e sacro-santa, que nada tem haver com as suas práticas e negociatas.

Dia 23 não dou para esse peditório, não voto em Cavaco, ainda tenho princípios.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Pré-Crime e Castigo


O FBI quer acesso às bases de dados biométricas e biográficas dos portugueses que constam no Arquivo de Identificação Civil e Criminal, bem como à base de dados de ADN de Portugal. Isto significa acesso ao bilhete de identidade de todos os cidadãos portugueses bem como registo criminal e informação genética de todos os cidadãos condenados.

Isto, claro, para combater esse inimigo terrível, sedicioso e incorpóreo que é o terrorismo. Em nome do combate a uma entidade inexistente, vendemos a nossa identidade, base fundamental da liberdade pessoal, a um país estrangeiro. Como quando os EUA mandam, Portugal obedece, encontramo-nos na situação humilhante e insultuosa de cedermos, de joelhos, informação sobre a nossa identidade — morada, impressões digitais, nome e fotografia de todos os cidadãos portugueses — sem pedirmos, sequer, reciprocidade.

O acordo completo está na internet (apesar de ao que parece ser secreto), e merece alguma reflexão. A começar pelos cidadãos cujos dados genéticos e registo criminal serão partilhados. Os condenados, naturalmente, bem como, diz o artigo 11.º, todos os que «irão cometer cometer ou cometeram infracções terroristas, infracções relacionadas com terrorismo ou infracções relacionadas com um grupo ou uma associação terrorista», «estão a ser ou foram treinados para cometer as infracções referidas» «irão cometer ou cometeram uma infracção penal, ou participam num grupo criminoso organizado ou numa associação criminosa».

Os cidadãos que irão cometer infracções terroristas. Ou, por outras palavras, cidadãos que não cometeram infracções. Cidadãos que estão a ser, para todos os efeitos, punidos sem qualquer atitude que mereça tal punição.

A fim de combater o terrorismo, elaboram-se listas de pessoas que cometeram crimes, listas de suspeitos que cometeram crimes, listas e listas. As listas da CIA incluem já um milhão de nomes (incluindo alguns suspeitos improváveis); os cidadãos proibidos de viajar são cerca de dez milhares, sem incluir falsos positivos. Acrescentam-se agora listas de cidadãos passíveis de virem a cometer crimes no futuro (Minority Report, alguém?).

E quem decide se os cidadãos «irão cometer crimes»? Com uma redacção elegantemente dúbia, o Acordo esclarece que as partilhas serão determinadas por «circunstâncias particulares que justificam ter razões para crer». Com esta ambiguidade, não sabemos nem quais são as circunstâncias particulares (provas de planeamento de um crime?, relatórios anónimos?, “não ir com a cara do gajo”?), nem quem é que tem de ter razões para crer (tribunais?, polícia?, o Serviço de Informações?).

Por fim, os dados biométricos, que em Portugal devem ser destruídos quando é provada a inocência do acusado, são mantidos nos EUA, onde podem ser usados, por exemplo, para uma condenação à morte. Conclui-se que o «reforço da cooperação no domínio da prevenção e do combate ao crime» inclui a remoção de direitos consagrados pela lei.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

SERÁ O HOMEM COM FOME LIVRE?




Muitas são as pessoas que falam de liberdade desde os comunistas passando pelo centro-esquerda acabando nos anarco-capitalistas. Mas todas entendem e tentam monopolizar essa palavra "liberdade", que tantos corações e espíritos conquista em votos e adorações. Mas o que será o raio deste conceito?
É mais um, demasiado subjectivo para ser entendido objectivamente.
A mim sempre me intrigou a prossecução da liberdade em sentido puro, aquela liberdade que agrada o máximo a todos e todas. Por vezes via os libertários de direita como prossecutores dessa liberdade mais pura, ora, via os comunistas. Quem será que é mais fiel à liberdade, perguntava-me eu.

O conceito de liberdade sempre teve presente na política. Já os donos de escravos falavam que ser dono de escravos era uma liberdade que não poderiam abandonar. Então o que será isto de liberdade num sentido político? Uma palavra de todos e de ninguém. Que é livre e que não pode ser fiel a nenhum monopólio, por ser livre, não é de ninguém e de todos.

Numa acepção mais política descobri que a "liberdade" é uma arma de vários gumes. Não existe liberdade pura e libertadora para todos, aquela "liberdade" consensual e que a todos convém.

O que interessa realmente no problema da liberdade, é a pergunta.
A quem é que vais dar essa liberdade?
Ou, melhor como é que vais distribuir essa liberdade?
E no meio disso tudo quem é que ganha com essa liberdade?
Será essa liberdade a mais abrangente e inclusiva?

A partir desta acepção do conceito de liberdade no sentido político. Comecei a demonstrar o conceito que tão bonito soa aos ouvidos mais libertários/anarquistas, o do, "livre-mercado", que aparenta ser uma coisa altamente liberta e sem opressão. O que é realmente o contrário. É dada a liberdade do mercado ser desresponsabilizado perante o cidadão e os danos que causa à natureza e às próprias sociedade humanas. É dada a liberdade do mercado ser a autoridade controladora e influenciadora da vida humana, mesmo que esta não esteja submetida a um controlo democrático.

Não devemos dar a liberdade de existirem sociedades polarizadas e altamente desiguais, onde uns morrem à fome e outros morrem por comer demasiado e não saber o que mais comer.
Não devemos dar a liberdade de não existir regulação económica, não devemos dar a liberdade de não existir uma distribuição forte da riqueza. Porque quem não tem que comer também tem que ser livre, livre desse abismo.
Não devemos dar liberdade à exploração intensa e desumana dos homens e mulheres. Não devemos dar liberdade nem tréguas a quem ameaça o bem-estar dos cidadãos.

Não devemos dar a liberdade de nos escravizarmos. Não devemos dar a liberdade que nos tirem a democracia. Não devemos dar a liberdade ao tirano.

Liberdade, liberdade, liberdade e mais liberdade.
Toda a gente defende a liberdade, e a cita, salvo excepções muito raras.

Mas o que destinge as pessoas que falam em liberdade, não é o axioma em si, mas a pergunta, mas a quem é que vão dar essa liberdade? Ou pedófilo? ao corrupto? ao empresário? ao trabalhador? ao tirano? ao democrata? ao mercado? ao cidadão? ao Estado Democrático? ao autoritário?

O que é liberdade para uns, não o é para outros.
A liberdade do trabalhador, não é a mesma liberdade do empresário, além de não serem a mesma, são contrárias e inconciliáveis. O que para um é liberdade para o outro é autoritarismo. A escolha democrática da liberdade política é aquela que escolhe o lado da maioria afectada/oprimida e que tenta incluir o máximo de cidadãos na maximização da sua liberdade.

Ao final de um dia de trabalho, o trabalhador norte-americano chega a casa, repara que os filhos choram e dizem aos soluços «a mãe está muito doente» a família não tem sustento para ir ao médico, que vamos dizer ao homem e à mulher?
É o livre-mercado, é a liberdade...?

E tu a quem dás a liberdade?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Wake-up Calls

No espírito de bom gosto que marca toda a linha política de Sarah Palin, foi publicado no seu website um cartaz de um mapa dos EUA com alvos representando candidatos Democratas selectos.


De forma completamente inesperada, um dos «alvos», a Representante Gabrielle Giffords (aparentemente, porque apoiava a reforma do sistema de saúde), Democrata do Arizona, foi atacada a tiro por um assassino com uma arma automática. No tiroteio, catorze pessoas ficaram feridas e seis pessoas jazem mortas, incluindo uma menina de 9 anos.

O assassino, Jared Lee Loughner, tem ligações ao grupo nazi American Renaissance e tinha o Mein Kampf e o We the Living (de Ayn Rand) entre os seus livros preferidos (bem como o Manifesto Comunista, como a Fox News não para de nos recordar).

A tentativa de assassinato ocorre num estado onde o discurso político se transformou numa verborreia inclemente de retórica eliminacionista, em que qualquer pessoa à esquerda da direita republicana é classificada como um traidor e inimigo do Estado. A situação política nos EUA chegou a uma situação em que a atmosfera tóxica produzida pela direita republicana e libertária polui o discurso com ódio e a retórica da violência.

A CNN diz que «isto pode ser uma wake-up call». Isto? Os membros do Tea Party levarem armas para as manifestações não foi? A retórica assassina e os apelos repetidos à violência por parte dos glenn becks, rush limbaughs, michael savages e sarah palins não foi? O culto das armas da NRA não foi?

Esta imagem do Pina County Republican Website não foi?


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"Também tu podes ser o avô de Portugal" por Cavaco Silva


















[Atenção: Este post tem o propósito de ajudar o leitor a encontrar o seu avô político interior.]

Muito de mal se tem apontado sobre o Presidente Cavaco Silva e as suas decisões políticas. Chega! Afinal, também temos de evidenciar o lado positivo do Presidente.

Cavaco Silva é um enigma, um quebra-cabeças e uma das personalidades mais complexas da actualidade portuguesa. Para compreender todas as suas decisões políticas, temos de estar cientes de uma das brilhantes características do seu discurso: o didatismo. Tudo o que Cavaco diz e faz é uma lição de vida, só não vê e aprende quem não quer.

Com a devida atenção, podemos verificar que o percurso de vida do actual Presidente da República Portuguesa, em conjunto com todas as suas medidas, nos dão tópicos essenciais para a nossa vida. Talvez, algum dia, alguém os aproveite para fazer um livro de Auto-Ajuda. Cavaco é um autêntico camaleão político: consegue modificar a opinião pública e reforçar a convicção dos seus apoiantes com três ou quatro medidas. Fez uma passagem de podre da política a herói pacifista, através de uma observação minuciosa do português comum.

Cavaco Silva viu aquilo que mais faltava ao povo português e deu-lhe. A figura do avô conservador, mas preocupado, o avô pacifista e que tenta de tudo para nos dar o melhor: o eterno generoso. Com Cavaco, aquela figura geralmente perdida na infância é ressuscitada.
Talvez esta ideia lhe tivesse surgido enquanto assistia ao nascimento do seu primeiro neto. Geralmente, é entre estas banalidades que surgem as ideias dos génios.

Para os menos atentos, colocarei aqui alguns dos seus sagrados ensinamentos, com base em medidas e promulgações/vetações polémicas e relativamente recentes:

1) Promulgue a maioria dos diplomas, vete o menor número destes. O exemplo cavaquista foi fenomenal neste sentido: A 28 de Setembro de 2010 atingiu os 2.000 diplomas promulgados e a 6 de Janeiro de 2011 perfez os 15 diplomas vetados.

2) Escolha, minuciosamente, os diplomas a serem vetados. Nunca promulgue um diploma que possa criar questões ou dúvidas quanto à linha política do Presidente. Nunca vete um diploma que possa trazer benefícios financeiros a si ou a uma indústria financeira ou que possa denegrir a sua imagem de generosidade.

3) Nunca se esqueça: é o avô de todos e tem de manter uma imagem agradável para a maioria absoluta dos portugueses, de forma a conseguir apoiantes suficientes para um segundo mandato.

4) Escolha um discurso adequado para apoiar as suas promulgações ou vetações mais polémicas. Nunca contradiga a sua linha de pensamento. Conforme convenha à imagem da sua linha política, revele um grande conflito moral, de quem não pode fazer nada em contrário, e/ou crie um motivo hipoteticamente forte para tomar uma determinada decisão ao promulgar uma lei que não defende. No caso de ser necessária a vetação, demonstre que consultou especialistas na matéria (mesmo que não tenha consultado especialistas de todas as opiniões) e/ou vete por necessitar de revisão.

5) Vá dando "rebuçados" liberais, enquanto tira outros mais pequenos. Ninguém lhe pode acusar de não ter feito um esforço.

6) Mostre-se sensibilizado com o Estado Social, compreendendo o problema das pessoas, mesmo que tenha tomado medidas que piorem a sua situação. ( Tenha especial atenção à visibilidade dos discursos feitos no ano novo ou em épocas mais simbólicas. Exemplarmente: http://www.youtube.com/watch?v=BEO40SZCWRs )
Repita palavras como direitos e igualdade.

7) Evidencie a sua impotência quanto às decisões que foram tomadas. Faça um discurso que leve o povo a concluir que a pressão social realizada sobre o Presidente da República impede que este vete os diplomas e que o seu poder é praticamente nulo junto dos demais orgãos governativos. A representação do País é o seu principal papel. Mostre que fez um esforço claro para não tomar a decisão que, com efeito, tomou..

8) Nunca enfatize demais a tentativa de mudança antes da tomada de decisão. Efectivamente, tem de assinalar este esforço equilibradamente, permitindo uma ambiguidade entre as medidas tomadas e o conflito moral sentido.

9) Exponha, sempre que puder, as suas crenças conservadoras e o seu modelo de família, mas deixe sempre um pouco de subjectividade no discurso. (http://www.youtube.com/watch?v=QfGjx8UnHI0&playnext=1&list=PL9E39A22A9A611043&index=54 , como se pode verificar, não se refere ao modelo da mulher trabalhadora como algo negativo, simplesmente elogia as mulheres que são donas de casa. O comentário conservadorista é feito tão subtilmente que passa practicamente despercebido)

10) Sobre a crise, mostre-se contra as proposta do Governo, mas enfatize sempre o sentido de responsabilidade que caracteriza o Presidente da República e reforce a ideia de impotência ao ter sido "pressionado" a promulgar diplomas como o do Orçamento de Estado.

11) Nas suas campanhas, apresente-se ao lado da sua mulher, dos filhos e dos netos, dando um exemplo secular de família, essencial num país tão religioso como Portugal.

12) Demonstre total confiança no que faz e diz.

Em linhas gerais: demonstre amabilidade por todos, carinho e generosidade; aposte numa ambiguidade crescente entre as acções tomadas e o que defende, de forma a confundir a opinião pública e convencer o povo de que é O homem de confiança; refira convenientemente a importância da moral e da família.

Após estas medidas depressa se tornará na figura mais querida do povo português. Do que está à espera? Pode ficar como Cavaco nas sondagens: 67,1% !


[Nota: Aposte, também, na manutenção de um bonito cabelo grisalho.]

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Opinião : Infelizmente, a lei vetada a 6 de Janeiro de 2011 não trazia qualquer vantagem. Ali ficou: vetada. Não nos esqueçamos disto ao aplaudir a promulgação do casamento homossexual por parte de Cavaco Silva.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Partidos recebem proposta para tornar pobreza ilegal



Este artigo foi tirado das notícias Lusa/Sol. Um artigo que achei interessante e que espero vir a abordar um destes dias. O tema da pobreza em Portugal. Boa leitura.


A CAIS, uma associação de apoio aos sem-abrigo, vai apresentar uma proposta aos partidos com assento parlamentar para que a pobreza seja ilegalizada e o Estado seja multado por não conseguir reduzir o número de pobres em Portugal.

«Há muito tempo que me preocupa que o combate à pobreza seja feito num contexto de tolerância, ou seja, vai fazendo-se o que se pode ou que, muitas vezes, podendo, não se faz», explicou à Lusa o director executivo da CAIS.

De acordo com Henrique Pinto, os números da pobreza têm vindo a aumentar e «já se fala» que em Portugal atinge 22 por cento da população. Número que poderia chegar aos 41 por cento se não existissem as transferências sociais do Estado, que, segundo Henrique Pinto, «não têm feito mais nada do que aliviar» o problema.

«O que queremos é que a pobreza seja tratada num contexto de total intolerância. É preciso que a pobreza se combata dentro de um contexto de ilegalidade para que seja levada a sério, como a escravatura se aboliu em 1869 em todo o território português no dia 25 de Fevereiro», defendeu.

Nesse sentido, explicou, a associação tem levado a cabo um trabalho de construção de um documento que pretende apresentar aos partidos com o objectivo de que algum o proponha como projecto de lei.

«O que fizemos foi reunir toda a legislação abraçada pelo Governo e dizemos o seguinte: se com esta legislação, que tem muitas vezes a ver com legislação europeia, não conseguimos reduzir os níveis de pobreza, então, das duas, uma: ou a legislação não está a ser cumprida devidamente ou então a legislação em Portugal não chega para reduzir a pobreza», sublinhou.

O documento defende que o «Estado está num total incumprimento» porque a legislação existe, mas os níveis de pobreza em Portugal não diminuem e coloca a fasquia ainda mais alta para o lado do Estado.

«O que vamos exigir do Estado é que ele reduza num ponto percentual o nível de pobreza em Portugal todos os anos. Estamos em 22 por cento neste momento, para o ano deveríamos ser capazes de reduzir para 21 por cento. E caberia à Assembleia da República monitorizar este trabalho», explicou Henrique Pinto.

Se o Estado não for capaz de cumprir essa meta, o documento prevê penalizações que passam por aumentar num ponto percentual o valor das transferências do Estado para as Organizações não-governamentais (ONG) ou para as Instituições Privadas de Solidariedade Social (IPSS) e aumentar também o valor das pensões de reforma mais baixas.

Henrique Pinto disse que o documento já está finalizado e que durante o primeiro trimestre de 2011 será entregue a «alguns peritos», como Marcelo Rebelo de Sousa, Garcia Pereira ou o bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, para darem um parecer.

O documento será depois apadrinhado por figuras públicas que o darão a conhecer em conferência de imprensa e só depois será levado a discussão com todos os partidos para que algum o leve a plenário como proposta de projecto de lei.

Paralelamente, a CAIS vai tentar reunir quatro mil assinaturas para que o documento seja discutido no Parlamento.

«Queremos que seja uma grande provocação nacional», resumiu Henrique Pinto.

Fim do artigo*

Achei interessante este projecto-lei, mas a minha conclusão, embora que imatura, diz-me que este não deixa de ter o seu interesse e relevo mas considero-o demasiado ingénuo. Qual é a sua conclusão? Será este projecto viável?