sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"Também tu podes ser o avô de Portugal" por Cavaco Silva


















[Atenção: Este post tem o propósito de ajudar o leitor a encontrar o seu avô político interior.]

Muito de mal se tem apontado sobre o Presidente Cavaco Silva e as suas decisões políticas. Chega! Afinal, também temos de evidenciar o lado positivo do Presidente.

Cavaco Silva é um enigma, um quebra-cabeças e uma das personalidades mais complexas da actualidade portuguesa. Para compreender todas as suas decisões políticas, temos de estar cientes de uma das brilhantes características do seu discurso: o didatismo. Tudo o que Cavaco diz e faz é uma lição de vida, só não vê e aprende quem não quer.

Com a devida atenção, podemos verificar que o percurso de vida do actual Presidente da República Portuguesa, em conjunto com todas as suas medidas, nos dão tópicos essenciais para a nossa vida. Talvez, algum dia, alguém os aproveite para fazer um livro de Auto-Ajuda. Cavaco é um autêntico camaleão político: consegue modificar a opinião pública e reforçar a convicção dos seus apoiantes com três ou quatro medidas. Fez uma passagem de podre da política a herói pacifista, através de uma observação minuciosa do português comum.

Cavaco Silva viu aquilo que mais faltava ao povo português e deu-lhe. A figura do avô conservador, mas preocupado, o avô pacifista e que tenta de tudo para nos dar o melhor: o eterno generoso. Com Cavaco, aquela figura geralmente perdida na infância é ressuscitada.
Talvez esta ideia lhe tivesse surgido enquanto assistia ao nascimento do seu primeiro neto. Geralmente, é entre estas banalidades que surgem as ideias dos génios.

Para os menos atentos, colocarei aqui alguns dos seus sagrados ensinamentos, com base em medidas e promulgações/vetações polémicas e relativamente recentes:

1) Promulgue a maioria dos diplomas, vete o menor número destes. O exemplo cavaquista foi fenomenal neste sentido: A 28 de Setembro de 2010 atingiu os 2.000 diplomas promulgados e a 6 de Janeiro de 2011 perfez os 15 diplomas vetados.

2) Escolha, minuciosamente, os diplomas a serem vetados. Nunca promulgue um diploma que possa criar questões ou dúvidas quanto à linha política do Presidente. Nunca vete um diploma que possa trazer benefícios financeiros a si ou a uma indústria financeira ou que possa denegrir a sua imagem de generosidade.

3) Nunca se esqueça: é o avô de todos e tem de manter uma imagem agradável para a maioria absoluta dos portugueses, de forma a conseguir apoiantes suficientes para um segundo mandato.

4) Escolha um discurso adequado para apoiar as suas promulgações ou vetações mais polémicas. Nunca contradiga a sua linha de pensamento. Conforme convenha à imagem da sua linha política, revele um grande conflito moral, de quem não pode fazer nada em contrário, e/ou crie um motivo hipoteticamente forte para tomar uma determinada decisão ao promulgar uma lei que não defende. No caso de ser necessária a vetação, demonstre que consultou especialistas na matéria (mesmo que não tenha consultado especialistas de todas as opiniões) e/ou vete por necessitar de revisão.

5) Vá dando "rebuçados" liberais, enquanto tira outros mais pequenos. Ninguém lhe pode acusar de não ter feito um esforço.

6) Mostre-se sensibilizado com o Estado Social, compreendendo o problema das pessoas, mesmo que tenha tomado medidas que piorem a sua situação. ( Tenha especial atenção à visibilidade dos discursos feitos no ano novo ou em épocas mais simbólicas. Exemplarmente: http://www.youtube.com/watch?v=BEO40SZCWRs )
Repita palavras como direitos e igualdade.

7) Evidencie a sua impotência quanto às decisões que foram tomadas. Faça um discurso que leve o povo a concluir que a pressão social realizada sobre o Presidente da República impede que este vete os diplomas e que o seu poder é praticamente nulo junto dos demais orgãos governativos. A representação do País é o seu principal papel. Mostre que fez um esforço claro para não tomar a decisão que, com efeito, tomou..

8) Nunca enfatize demais a tentativa de mudança antes da tomada de decisão. Efectivamente, tem de assinalar este esforço equilibradamente, permitindo uma ambiguidade entre as medidas tomadas e o conflito moral sentido.

9) Exponha, sempre que puder, as suas crenças conservadoras e o seu modelo de família, mas deixe sempre um pouco de subjectividade no discurso. (http://www.youtube.com/watch?v=QfGjx8UnHI0&playnext=1&list=PL9E39A22A9A611043&index=54 , como se pode verificar, não se refere ao modelo da mulher trabalhadora como algo negativo, simplesmente elogia as mulheres que são donas de casa. O comentário conservadorista é feito tão subtilmente que passa practicamente despercebido)

10) Sobre a crise, mostre-se contra as proposta do Governo, mas enfatize sempre o sentido de responsabilidade que caracteriza o Presidente da República e reforce a ideia de impotência ao ter sido "pressionado" a promulgar diplomas como o do Orçamento de Estado.

11) Nas suas campanhas, apresente-se ao lado da sua mulher, dos filhos e dos netos, dando um exemplo secular de família, essencial num país tão religioso como Portugal.

12) Demonstre total confiança no que faz e diz.

Em linhas gerais: demonstre amabilidade por todos, carinho e generosidade; aposte numa ambiguidade crescente entre as acções tomadas e o que defende, de forma a confundir a opinião pública e convencer o povo de que é O homem de confiança; refira convenientemente a importância da moral e da família.

Após estas medidas depressa se tornará na figura mais querida do povo português. Do que está à espera? Pode ficar como Cavaco nas sondagens: 67,1% !


[Nota: Aposte, também, na manutenção de um bonito cabelo grisalho.]

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Opinião : Infelizmente, a lei vetada a 6 de Janeiro de 2011 não trazia qualquer vantagem. Ali ficou: vetada. Não nos esqueçamos disto ao aplaudir a promulgação do casamento homossexual por parte de Cavaco Silva.

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