Este é um documentário realizado por Joris Ivens, Jean-Luc Godard, William Klein, Chris Marker, Agnès Varda, Claude Lelouch e Alain Resnais. Todos estes realizadores colaboraram para este filme no sentido de criarem um documentário propagandístico contra a guerra do Vietnam( guerra que só viria a terminar quase 10 anos mais tarde de o realizarem).
Cada uma das contribuições acrescentou algo único ao conjunto e isso fez com que se completassem de uma forma excepcional. Desde os realizadores que conseguiram filmar o cenário de guerra, aos que em França ou na América, filmavam o cenário de apoio ou protesto à guerra; cada um deles acabou quase sempre por abordar os dois lados da guerra, nenhum deles prescindível. Por um lado uma América imperialista onde tanto se observam protestos pela paz como marchas de apoio aos soldados, por outro um Vietname a defender-se com os meios que tinha (meios esses muito inferiores tecnologicamente aos dos Estados Unidos).
Godard fez uma abordagem através desta curta-metragem, que podem ver integralmente em cima, de uma forma memorável. Este realizador (ao contrário de outros) não obteve autorização (por motivos políticos) para se deslocar ao Vietname com o fim de recolher filmagens. Assim sendo, realizou todo o segmento em Paris. Esta barreira de falar do Vietname “sem ter lá estado” ou “sem nunca o ter visto” fez desta curta metragem única. Godard enquanto fala, creio eu que resume o seu filme quando diz que “Na impossibilidade de invadir o Vietname, temos que dar oportunidade ao Vietname de ser ele a invadirmo-nos”. E é disso mesmo que se trata este filme, trata-se de pensar no Vietname muito mais além do que ele sozinho representa. Trata-se de pensar sobre afinal o que é este fenómeno, o que é uma nação dominada, o que é uma pessoa “ocupada”, o que é uma sociedade invadida.
Nesta intervenção, a dificuldade de se ser um olhar de fora eleva a critica anti-guerra a um patamar onde poucos realizadores a elevaram.
Numa conversa, Godard em voz off, fala-nos das formas que encontrou de “em vez” de filmar a guerra, a ilustrar. Por exemplo, a imagem da reacção do corpo de uma mulher ao ataque de uma bomba. Este seu estudo e reflexão sobre as várias formas de retratar a guerra através do cinema, de retratar uma guerra à distância, levantou uma questão, a meu ver, extremamente importante que é até que ponto o Vietname é o único invadido. Isto é, até que ponto é que pode existir apenas uma nação invadida. O realizador fala-nos da impossibilidade de não sermos nós também o Vietname, dando como exemplo a sua luta contra a estética imperialista do cinema americano. Este extenso pensamento de que tudo é o Vietname e dos tantos Vietnames que continuam a sua luta tão silenciosa, faz-nos ver esta e outra qualquer guerra não só pelo lado do invadido e invasor mas pelo lado de todos os que assistem e se tornam assim também invadidos.
Um documentário que continua contemporâneo quer na questão do imperialismo americano tanto a nível económico como cultural, quer nos povos que continuamos a ver invadidos e que assim nos invadem também.
Muito bom. Há um Vietname em cada um de nós.
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