Nos últimos anos da década de 1920, um ambicioso cientista com poucos escrúpulos ascendia à direcção da Academia de Ciências Agrícolas da União Soviética. O seu nome era Trofim Lysenko, e lograra convencer Stalin de que toda a ciência genética estava errada. A genética foi estigmatizada como «ciência burguesa» e os mais importantes geneticistas (incluindo Nikolai Vavilov) foram presos, executados ou enviados para campos de trabalhos forçados. Em seu lugar, Lysenko e o mecanismo de Estado propagandearam uma «ciência revolucionária» baseada no princípio antidarwinista e antimendeliano da hereditariedade das características adquiridas, despoletando um conjunto de reformas políticas, sociais e agrícolas em larga escala. Como resultado, milhares de milhar de pessoas morreram de fome, devido às reformas agrícolas catastróficas numa agricultura já enfraquecida pela colectivização apressada (e a biologia soviética sofreu um atraso de décadas).
A história de Lysenko, o charlatão que se tornou responsável pela morte de grande parte da população russa, é um exemplo claro das consequências de permitir a manipulação e a distorção do processo científico a fim de atingir uma conclusão predeterminada, ditada por um preconceito ideológico.
A manipulação ideológica da ciência é um problema que não conhece cor política. Seja o mito marxista do socialismo científico ou o darwinismo social da direita neoliberal, ideólogos de ambos os lados da paisagem política asseguram-nos de que os dados da ciência apoiam as suas ideias. Mas a ciência, análise objectiva da realidade, é cega à política. A própria ideia lysenkoista de «ciência burguesa» ou «ciência revolucionária» deveria fazer um arrepio percorrer a espinha do leitor. E contudo é uma ideia que permanece viva, especialmente entre as ciências sociais e humanas.
Não significa isto, naturalmente, que a ciência não deva iluminar o processo de decisão política. Significa, isso sim, que não podemos, por um lado, extrapolar da ciência mais do que aquilo que ela nos diz (falácia naturalística, conforme cometida pelos darwinistas sociais, por exemplo) e, por outro, escolher a dedo que áreas científicas nos agradam, rejeitando as outras (negacionismo, conforme cometido pelos criacionistas e pelos negacionistas do aquecimento global, por exemplo). Em vez disso, devemos aceitar o corpus científico como um todo e deixar este conhecimento guiar as nossas decisões. Como diz o biólogo Richard Dawkins:
«A ciência não tem métodos para decidir o que é ético. Isso é um assunto para os indivíduos e para a sociedade. Mas pode clarificar as questões que estão a ser feitas e esclarecer mal-entendidos. [Por exemplo,] a ciência não nos pode dizer se o aborto é errado, mas pode apontar que o contínuo (embriológico) que liga um feto não-senciente a um adulto senciente é análogo ao contínuo (evolutivo) que liga os humanos às outras espécies (…), [pelo que] talvez seja inconsistente pensar que o aborto é assassínio mas que matar chimpanzés não o é. (…) A ciência não nos pode dizer se é correcto matar “Mary” para salvar a uma gémea siamesa “Jodie”, mas pode dizer que uma placenta é um clone verdadeiro do bebé que alimenta. (…)» (in A Devil’s Chaplain).
Um dos temas mais perturbados por esta tendência lysenkoista de subordinar a fraseologia científica à ideologia política é a questão do género e da identidade sexual. Mais uma vez, os factos científicos são manipulados, ignorados, inventados, distorcidos, omitidos e seleccionados da forma mais inventiva e, mais uma vez, nenhum dos lados do espectro político é inocente.
A esquerda, por exemplo, é culpada de ignorar a influência biológica nos comportamentos associados ao género. Esta questão é parte de um leitmotif mais abrangente da esquerda: a negação do substrato biológico como influência do comportamento humano. Ninguém duvida que os genes podem dar forma à anatomia. Contudo, a ideia de que também podem dar forma ao comportamento é oposta ao conhecimento convencional que dominou a psicologia e todas as outras ciências sociais no século XX — ciências sociais essas que têm sido vastamente influenciadas pelo pensamento esquerdista. Assim, a academia esquerdista tem tendência a acusar tudo aquilo que entende (erradamente) como «determinismo genético» — um conceito mal definido e, em grande medida, inventado, que não é defendido por nenhum cientista sério — enquanto o substitui, bizarramente, por outras formas diversas de determinismo para ocupar o seu lugar: cultural, linguístico, parental-freudiano, socioeconómico, político, paritário, de estímulo/resposta, entre outros. Assim, numa diversão que durou quase um século, os cientistas sociais lograram persuadir pensadores de muitos tipos que a causalidade biológica era determinismo enquanto que a causalidade ambiental preservava o livre arbítrio.
Desta forma, sociólogos e psicólogos behaviouristas, marxistas e freudianos (por exemplo) tapam os ouvidos à evidência de que a biologia influencia o comportamento associado ao género. «Os rapazes só brincam com carros, e as meninas com bonecas, porque a sociedade assim o determina!», asseguram, apesar da evidência experimental em contrário (como os estudos em que macacos preferem brincar com carros ou bonecas, dependendo de serem machos ou fêmeas, embora não haja pressão social nesse sentido dentro das suas «sociedades»).
Nos anos 1960, nos Estados Unidos, uma circuncisão mal-sucedida deixou um rapaz com o pénis gravemente danificado, que o médico decidiu amputar. Foi decidido tornar o bebé numa rapariga por castração, cirurgia e tratamento hormonal. John tornou-se Joan: vestia vestidos e jogava com bonecas. Em 1973, John Money, um psicólogo freudiano, afirmou publicamente que Joan era uma adolescente bem ajustada, pondo um fim à especulação: os comportamentos associados ao género eram, proclamou Money, constructos sociais. Só em 1977 é que alguém verificou os factos. Quando Milton Diamond e Keith Sigmundson procuraram Joan, encontraram um homem, alegremente casado com uma mulher. A sua história era muito diferente da contada por Money: tinha-se sentido profundamente descontente enquanto criança, sempre quisera usar calças, misturar-se com os rapazes e urinar de pé. Terminou o tratamento hormonal, mudou o seu nome de novo para John e casou-se aos 25 anos.
A conclusão é que os rapazes e as raparigas têm interesses sistematicamente diferentes desde o próprio começo do comportamento autónomo. Convergentemente, evidência cromossómica (o chamado imprinting genético) sugere que o cérebro é um órgão com um género inato.
Que a cultura influencia os comportamentos associados ao género, não há dúvida. A questão não é se a cultura terá algum papel a tomar, porque ninguém alguma vez negou que o faça. Mas que a biologia não tem qualquer influência nos mesmos é uma falsidade igualmente grande. O debate nature vs nurture (natureza vs educação) baseia-se sobre uma falsa dicotomia, e a evidência combinada da biologia, da psicologia e da sociologia converge agora para a ideia de que tanto o substrato biológico como o ambiente social desempenham o seu papel na determinação do comportamento.
Temo ser mal interpretado na minha exposição: quase consigo ouvir teóricos queer a acusarem-me de promover uma dicotomia inexistente entre «rapaz» e «rapariga», lembrando-me de que não há uma relação causal entre sexo e identidade de género. Porém, tais hipotéticas críticas são desnecessárias e falham o ponto, na medida em que eu concordo que a distinção entre as identidades de género é artificial e arbitrária — é uma distinção abrupta entre dois géneros conformes aos preconceitos de uma sociedade heteronormativa e essencialista.
Como disse Lineu, o biólogo que sistematizou a nomenclatura científica binominal para as espécies vivas, natura non facit saltum («a natureza não faz saltos»): a biologia funciona em espectros contínuos e não em pretos e brancos. É de esperar que a distribuição dos comportamentos associados ao género seja, estatisticamente, gaussiana, caindo os comportamentos numa curva em forma de sino. As proposições da biologia são, pela natureza desta ciência, aproximações e generalizações: o comportamento heteronormativo corresponde à média da curva (o ponto de ordenada mais elevada), mas é de esperar todo o contínuo de posições associadas aos restantes pontos do domínio da função.
Portanto, quando dizemos que «os rapazes e as raparigas têm interesses sistematicamente diferentes», referimo-nos a casos-tipo e não se exclui (pelo contrário, é de esperar) que existam indivíduos com comportamento dissociado daquele identificado para a média da população de igual sexo anatómico.
Em adição, é importante não cair na já mencionada falácia naturalística: estas constatações não significam que comportamentos associados ao género oposto, ou mais genericamente não-heteronormativos, devem ser desencorajados, ou punidos, ou que são antinaturais. Tratar os comportamentos não-heteronormativos como anómalos é contrário a uma correcta interpretação estatística dos dados científicos.
As hipotéticas críticas segundo as quais a influência biológica no comportamento associado ao género é contrária à teoria queer são, portanto, infundadas.
Mas dizia eu, anteriormente, que o lysenkoismo é um pecado cometido tanto à esquerda como à direita. Nenhum dos lados do espectro político é inocente. Se, por um lado, a esquerda na qual me integro ignora a influência do condicionamento genético, por outro lado, a direita conservadora é profícua em neuroses sexuais, impondo normas de vida que distinguem as pessoas em géneros polarizados (masculino e feminino) com papéis naturais distintos e cumpridos através de relações sexuais e maritais heterossexuais.
Os conservadores caem, portanto, no erro oposto: procuram moralizar o comportamento que vêem como «natural», associando comportamentos não-heteronormativos a piáculos antinaturais que devem ser reprimidos. Por esta altura, o leitor identificará provavelmente a falácia naturalística inerente a este pensamento.
Mas a intolerância conservadora em relação ao comportamento não-heteronormativo vai frequentemente mais além desta abordagem, procurando caracterizar tais comportamentos como «doenças que podem ser tratadas» ou como «escolhas».
«Devemos ter cuidado em aceitar a afirmação de que algumas pessoas ‘nascem para ser gays’, não apenas por ser falsa, mas porque providencia apoio às organizações de direitos dos homossexuais», escreveu a conservadora Lady Young no Daily Telegraph a 29 de Julho de 1998.
Contrariamente, a evidência científica aponta para a conclusão de que a homossexualidade é uma propensão inata, biológica, em vez de ser consequência de pressões culturais ou de escolha consciente. Não há qualquer sombra de dúvida de que a homossexualidade é altamente hereditária. Num estudo, por exemplo, entre cinquenta e quatro homens gays que eram gémeos falsos, doze tinham gémeos que também eram gays; e entre cinquenta e seis homens gays que eram gémeos idênticos, vinte e nove tinham gémeos que também eram gays. Dado que os gémeos partilham do mesmo ambiente, quer sejam falsos, quer sejam idênticos, tais resultados implicam que um ou mais genes são responsáveis por cerca de metade da tendência para um homem ser gay. Uma dúzia de outros estudos chegou à mesma conclusão.
Qual é, então, a explicação genética da homossexualidade? Este é um tema complexo que não está perto de chegar a uma resposta definitiva; porém, parece haver dois indícios que explicam satisfatoriamente a homossexualidade no caso de homens (pessoas com sexo biológico masculino, i.e., com um cromossoma Y funcional). As explicações para o lesbianismo não são claras, mas a assumpção razoável é que são igualmente genéticas (embora não pareçam ser determinadas pelos mesmos genes que actuam no caso da homossexualidade em homens).
A primeira explicação para a homossexualidade em homens parte de um estudo de Dean Hamer, que entrevistou 110 famílias com membros gays, tendo notado que a homossexualidade em homens corre pela linha feminina. Isto sugere que o gene para a homossexualidade jaz no cromossoma X (o único conjunto de genes que um homem herda exclusivamente da sua mãe). Comparações de marcadores genéticos apontam especificamente para a região Xq28 (homens gays partilham a mesma versão desta região 75 % das vezes, o que estatisticamente exclui a possibilidade de coincidência com um intervalo de confiança CI = 99 %).
A ideia de um alelo (versão de um gene) que determine a homossexualidade parece bizarra, porque tal alelo seria rapidamente eliminado pela selecção natural (esta mesma razão exclui, a propósito, explicações adaptacionistas para a homossexualidade). Contudo, o biólogo evolutivo Robert Trivers sugeriu uma justificação baseado no estudo de Dean Hamer: um cromossoma X passa o dobro do tempo em mulheres do que em homens (as mulheres têm genótipo XX, os homens XY). Assim, um gene sexualmente antagonístico (i.e., que tem um efeito diferente dependendo de estar num homem ou numa mulher) que beneficie a fertilidade feminina (aumentando as hipóteses de os seus portadores se reproduzirem se forem mulheres) sobrevive, mesmo que tenha um efeito deletério duplamente grande na fertilidade masculina.
A segunda explicação para a homossexualidade parte da constatação, cada vez mais clara, de que a orientação sexual está correlacionada com a ordem de nascimento: um homem com irmãos mais velhos tem maior tendência para ser gay (cada irmão mais velho parece aumentar a probabilidade em um terço). Este efeito foi verificado na Grã-Bretanha, na Holanda, no Canada e nos EUA, em muitas amostras populacionais diversas.
A explicação freudiana para este efeito (que a dinâmica de crescer numa família com irmãos mais velhos predispõe para a homossexualidade) está provavelmente errada. A resposta jaz uma vez mais no antagonismo sexual genético.
Não há efeito análogo para lésbicas, que estão distribuídas aleatoriamente dentro das suas famílias. Em adição, o número de irmãs mais velhas é irrelevante na previsão de homossexualidade masculina. A melhor explicação diz respeito a um conjunto de três genes activos no cromossoma Y (aos quais chamaremos genes H-Y) que sintetizam o «antigénio menor de histocompatibilidade H-Y». Este composto sintetizado pelos genes H-Y é semelhante (mas não igual) à hormona anti-Mulleriana, uma substância vital à masculinização física dos genitais.
Um antigénio (como o composto sintetizado pelos genes H-Y) é um composto que, quando introduzido no corpo de outra pessoa, provoca uma reacção do sistema imunitário. Por exemplo, muitas bactérias patogénicas têm antigénios, pelo que ao serem introduzidas no nosso corpo, o nosso sistema imunitário reage contra elas. No caso dos genes H-Y, a síntese do composto por parte do bebé provoca uma reacção do sistema imunitário da mãe durante a gravidez. O sistema imunitário da mãe procura combater este composto.
Ora, da mesma forma que após uma infecção por parte de determinada bactéria patogénica ficamos imunizados contra ela (i.e., o sistema imunitário «aprendeu» a reagir contra os antigénios bacterianos), assim acontece nas sucessivas gravidezes masculinas. O sistema imunitário da mãe «aprende», nas sucessivas gravidezes, a reagir contra os antigénios produzidos pelos genes H-Y.
Desta forma, um ventre que já alojou bebés masculinos está imunizado contra o antigénio produzido pelos genes H-Y do bebé e impede que este actue sobre o mesmo. O efeito da ausência deste antigénio no bebé parece ser a maior tendência para a homossexualidade. Numa experiência em que ratos de laboratório bebés foram imunizados contra os antigénios H-Y, eles cresceram incapazes de se reproduzirem.
Estes são os dados experimentais, empíricos e verificáveis que a ciência nos fornece. São filtrados pelo processo de revisão paritária, porque nas revistas científicas os editores procuram revisores que critiquem os artigos a fim de assegurar a sua validade. Estas são as formas encontradas pela ciência para promover a objectividade das suas conclusões. A ciência pode dar, portanto, grandes contributos na resolução dos nossos problemas sociais, ao ajudar-nos a basear as nossas políticas e julgamentos na realidade.
Os ideólogos, por contraste, preferem inventar as leis da natureza. Quando ideólogos ditam a ciência, ficam emaranhados nas suas próprias mentiras; a sociedade, tendo abandonado o método científico, perde o seu referencial empírico, e a verdade torna-se relativa.
Tal politização lysenkoista da ciência, tanto da esquerda como da direita, tenderá a crescer à medida que a biologia afecta cada vez mais as nossas vidas — desvendando os segredos dos nossos genes e do nosso cérebro, dando novas formas às nossas origens e à nossa natureza, adicionando novas dimensões à nossa compreensão do comportamento social.
A lição crucial a tirar da história de Lysenko é o perigo de propagar ideologias políticas sob a guisa de ciência.
Excelente artigo!
ResponderEliminarA objectividade na análise da realidade é crucial.
Gil, foi com muito agrado que li este post, porque criou uma actualização da ligação biologia/psicologia - questão lgbt's. Mas tenho alguns comentários e "reparos" a fazer:
ResponderEliminarQuanto à questão identidade de género:
- "(...)subordinar a fraseologia científica à ideologia política é a questão do género e da identidade sexual"
A questão social liberalidade - conservadorismo, embora fazendo parte de um ramo político, não pode ser considerado em si uma ideologia. Até porque muitos dos novos "associativismo" lgbt não a depreendem.
Quanto à "identidade sexual", não é o mesmo que identidade de género e pode causar discriminação, invisibilidade e exclusão no contexto.
"sexo, s.m.: Conformação física que distingue o macho da fêmea; Prazer orgânico ou satisfação decorrentes da excitação dos orgãos sexuais, tendo ou não em vista a reprodução; fazer sexo: tirar prazer do sexo, em especial copulando.
sexual, adj.: que pertence ou se refere ao sexo ou à sexualidade.
género, adj.:Conjunto de seres ou objectos que têm uma ou várias características comuns."
In Dicionário Actual da Língua Portuguesa
"sexo, s.m.: características estruturais e funcionais que permitem distinguir os organismos macho e fêmea.
género, s.m.: conjkunto de seres com os mesmos caracteres essenciais; reunião de espécies que têm muito próximas; por ex. raça, casta, variedade, ordem, família, modo, qualidade, estilo, modo de escrever, de trabalhar, de executar."
In Dicionário Completo da Língua Portuguesa.
Deste modo, o sexo implica a componente física (quer sejam características primárias ou secundárias), enquanto que o género é mais geral. Assim, é geralmente utilizado para definir mais do que a parte física.
Ora vejemos, identidade de género é a forma como alguém se identifica com um determinado género (e não papel social de género) e que remete para o psicológico. Uma identidade de género não-conformante com o conjunto de caracteres sexuais (físicos) não implica que se queira uma mudança no que toca ao físico. Uma pessoa fisicamente macho pode identificar-se como mulher, sem que isto implique desejo de mudança de corpo, pode não implicar uma identidade sexual diferente.
Infelizmente, a constante confusão entre transgéneros e transexuais é mais uma prova da falta de comunicação e ignorância dos casos de transgenerismo no Mundo e da falta de capacidade da comunidade lgbt de a transmitir (que por sinal pouco se interessou ao longo da história pela questão t). A relação transgéneros /transexuais é unidireccional, um transexual é certamente um transgénero, no entanto um transgénero não é necessariamente um transexual. Um transexual tem usualmente um desejo (de gradação variada) de mudar algumas das suas caracteristicas sexuais e também tem uma identidade de género correspondente ao sexo oposto. Essencialmente a definição pode estar no desejo permanente de uma identidade de género do sexo oposto. Mas o espectro é mais diverso.
( ainda nao terminei)
(continuaçao)
ResponderEliminarUma prova desta brilhante exclusão dos outros indivíduos transgénero são as declarações do famoso Dr. Décio (ui, que fui eu dizer). Perito em cirurgias de redesignação de sexo, é parte integrante do sistema "transexual -> doença -> cura -> cirurgia total". Num célebre comentário, com ataques feroses ao movimento STOP Trans Patholization 2012, terá até dito que os indivíduos transexuais que não desejam uma cirurgia completa (porque os existem) são "transexuais falsos", enquanto que os que se sujeitam a ela e à designação de doença são "transexuais verdadeiros". Extremamente conveniente.
Ser um indivíduo transgénero implica uma identidade de género, papel social de género (modo de vestir, de andar, masculinidade-feminilidade etc) distinto do definido pelo sexo.
Ainda há o caso dos intersexuais, ou cientificamente designados de hermafroditas. Que geralmente têm uma identidade de género diferente ou ambígua.
Continuando, a questão de género não é a questão de identidade de género. É distinto na medida em que a questão de género é muitas vezes utilizada para designar o combate "homem-mulher". Conceito que os transgéneros que não transexuais com desejo de uma cirurgia total têm destruído.
Como vi uma vez num vídeo sobre identidade de género: é a que cada um escolhe e é tão variada quanto a pluralidade de indivíduos existentes.
"A esquerda, por exemplo, é culpada de ignorar a influência biológica nos comportamentos associados ao género. "
A esquerda não implica liberalidade neste assuntos, assim como a direita não implica conservadorismo. Veja-se o caso da organização do Parlamento Europeu.
Associados ao sexo, embora em ciência se utilizem os termos como sinónimos.
"(..)(como os estudos em que macacos preferem brincar com carros ou bonecas, dependendo de serem machos ou fêmeas, embora não haja pressão social nesse sentido dentro das suas «sociedades»).
(...)A sua história era muito diferente da contada por Money: tinha-se sentido profundamente descontente enquanto criança, sempre quisera usar calças, misturar-se com os rapazes e urinar de pé. Terminou o tratamento hormonal, mudou o seu nome de novo para John e casou-se aos 25 anos.
A conclusão é que os rapazes e as raparigas têm interesses sistematicamente diferentes desde o próprio começo do comportamento autónomo. Convergentemente, evidência cromossómica (o chamado imprinting genético) sugere que o cérebro é um órgão com um género inato."
O "mal" não está na naturalidade da dicotomia entre sexos e os seus comportamentos característicos evidenciada pela biologia, como descreveste muito bem. O "mal" está precisamente na imposição de um sistema que não cabe a todos. Embora caiba à maioria, não cabe a todos e faz com que se observe a transfobia e subida de taxas de suicídio por transgéneros.
(continuaçao)
ResponderEliminar"é uma distinção abrupta entre dois géneros conformes aos preconceitos de uma sociedade heteronormativa e essencialista."
Não quiseste dizer: cisgeneronormativa? (cisgénero: indivíduo com identidade de género e sexo conformes). A heterossexualidade (de heteronormatividade) não está correcto no contexto.
"Se, por um lado, a esquerda na qual me integro ignora a influência do condicionamento genético, por outro lado, a direita conservadora é profícua em neuroses sexuais, impondo normas de vida que distinguem as pessoas em géneros polarizados (masculino e feminino) com papéis naturais distintos e cumpridos através de relações sexuais e maritais heterossexuais."
Não percebi bem porque é que juntaste a um post claramente sobre identidade de género a heterossexualidade/não-heterossexualidade. Sim, está nos pressupostos da sociedade, mas quanto a isso também estão muitos outros como a sexualidade (vontade sexual) de um indivíduo. E, no entanto sabemos que existem indivíduos assexuais (não são assexuados) que não sentem algum desejo sexual.Repensa a ideia natural e biológica de reprodução como forma adaptativa ou questiona a mesma? Claramente, tal como os comportamentos anatomicamente homossexuais. Contudo, não está NECESSARIAMENTE ligada à noção de papel biológico de género, ao qual te referias.
É lamentável a constante confusão entre orientação sexual e identidade de género, que consta desde a altura em que um explorador francês terá avistado um homem transvestido, apelidando-o de "homossexual" (palavra criada até então, pois ao contrário do que ocorreu na cultura ocidental, fomentada pela igreja naquela altura, muitas tribos americanas -caso dos Mojave - encaravam naturalmente a transexualidade e homossexualidade). Ao longo da história há registo de "invertidos sexuais" que, embora heterossexuais se transvestiam. Contudo a confusão estava instalada e quando foi tempo da comunidade lgbt nos EUA (p.e), com a Stonewall houve uma junção de forças entre os dois grupos, embora claramente distintos.
É sempre bom recordar que já tinha havido uma revolta de transgéneros independentes mesmo antes do Stonewall. Contudo, visto ter corrido mal foi altamente abafada pelo movimento lgb na altura. Invisibilidade e confusão que tem sido nociva para ambas as comunidades (lgbt e t) e que tem criado mais invisibilidade, no caso dos t's. Basta pensar que Harvey Milk não defendeu de forma acesa o movimento T,embora muitos "tranny" boys se metessem no seu activismo. Dá que pensar. Sempre se julgou a questão de identidade de género não-conforme como sendo "mais difícil" de explicar à comunidade religiosa e conservadora, assim como o casamento homossexual (nome ao qual me oponho vivamente) se dizia empatar a questão económica. Por algum motivo os homossexuais já têm direito legal de casar e os transgéneros não têm direito ao reconhecimento sem cirurgia total e letreiro de "doente" à frente. É bom distinguir alhos de bogalhos.
(continuação)
ResponderEliminar"Qual é, então, a explicação genética da homossexualidade?"
E qual é a do transgenerismo e transexualidade e porque é que é considerada uma doença pela OMS?
"Desta forma, um ventre que já alojou bebés masculinos está imunizado contra o antigénio produzido pelos genes H-Y do bebé e impede que este actue sobre o mesmo. O efeito da ausência deste antigénio no bebé parece ser a maior tendência para a homossexualidade. Numa experiência em que ratos de laboratório bebés foram imunizados contra os antigénios H-Y, eles cresceram incapazes de se reproduzirem."
Encontrei um interesse bestial na tua exposição, fiquei a pensar como estão os estudos no caso da bissexualidade ou pansexualidade (avançados por Kinsey, mas que de mais não tenho conhecimento).
Não percebi bem esta parte. Ou seja, imaginemos o caso de um casal que tem um filho (ou vários do sexo masculino), tem a tal reacção com uma bactéria "invasora" e "aprende". Posteriormente tem uma filha. Há uma maior probabilidade de esta ser homossexual?
"Contrariamente, a evidência científica aponta para a conclusão de que a homossexualidade é uma propensão inata, biológica, em vez de ser consequência de pressões culturais ou de escolha consciente. "
Ou seja, o argumento de um indivíduo "nascer homossexual/bissexual/pansexual" é cientificamente verdadeiro?
"Mais uma vez, os factos científicos são smanipulados, ignorados, inventados, distorcidos, omitidos e seleccionados da forma mais inventiva e, mais uma vez, nenhum dos lados do espectro político é inocente."
É verdade. O movimento LGBT, especialmente as actuais "associações" que dizem promover a difusão de informação quanto a assuntos LGBT's, dúvidas de jovens e pais, fazem-no constantemente, e não direi que alteram completamente, mas eliminam algumas verdades científicas de forma a distorcer altamente a verdade a seu favor. Tens razão, "uma mão lava a outra", a ciência pode ajudar e muito o movimento LGBT.
Contudo, vejamos os dados circunstanciais e o porquê destas alteração, não em busca de uma desculpa, mas apenas de uma exposição dos possíveis motivos para melhor distorção da "aberração" dessa distorção, da qual discordo totalmente.
(continuação)
ResponderEliminarA comunidade LGBT sempre foi discriminada, de uma forma ou de outra. Embora durante a Grécia Antiga e Império Romano a homossexualidade masculina fosse vista como algo natural e até "fomentado", não podemos esquecer o facto de que a homossexualidade feminina e algumas formas de transgenerismo eram discriminadas e tinham um carácter negativo. Simultaneamente, em algumas tribos americanas e africanas a transexualidade e o transvestismo tinham um carácter fortemente positivo, assim como a homossexualidade. Contudo, a homossexualidade feminina era ignorada.
Posteriormente, com a popularização de religiões como a Cristã, o Islamismo, o Hinduísmo ou o Budismo, que, na sua generalidade vêem os comportamentos homossexuais e transgenero com um carácter bastante negativo.
Desde a Idade Média até à altura em que foram descriminalizadas (muito após o 25 de Abril e apenas graças aos enormes esforços de activistas independentes lgbt), comportamentos homossexuais e transgeneros foram punidos por fogueira ou tortura, encarceramento e morte (no caso da Ditatura). E após o 25 de Abril nem tudo foi um mar de rosas, levou muito tempo de encarceramento por lgbts(já para não falar da violência policial ou o próprio "ignorar" de violência feita a lgbts na prisão). Mesmo assim, ainda existe uma grande pressão social e discriminação permanente. Há quem diga que quanto à homossexualidade feminina quase não existe, esquecendo que a visão da lésbica como "objecto sexual" é em si uma discriminação quanto à questão de género e quanto à própria integridade e visão da homossexualidade, partindo da premissa "todos as lésbicas são sexuais e querem fazer sexo com um homem ou fazer um menáge-à-trois".
Basta ver um programa televisivo para analizar os constantes ataques de carácter negativo feitos à não-heterossexualidade e ao transgenerismo e o preconceito neles. Mesmo os americanos que se dizem muito liberais.
Já para não falar da eminente violência que um indivíduo transgénero experimenta e, já agora, do não -reconhecimento do Estado dele. Os transgéneros que não se deixam ser "doentes" não existem - é o que o estado diz.
Para além disso, muitos elementos da própria família e amigos deixam de falar. Subitamente não somos os mesmos para os olhos, não somos inseridos. Os pais e amigos sentem uma culpa enorme, porque acham que o ambiente que criaram a propiciou.
A sensação e experiência traumática de que estamos a falar propencia uma ENORME necessidade de sentimento de pertença e aceitação, seja de que maneira for. Por um lado, experiências de reconverção, por outro, o fingimento "taking a pretend heterossexual and cisgender life". Não são coisas assim tão raras. Até mesmo eu o senti e o fiz. É impossível viver uma vida não-heterossexual ou cisgénera, com pais preconceituosos, sem demonstrar uma enorme coragem e confiança em nós mesmos.
Enfim, esta história toda para dizer que isto se deve à necessidade desesperada de pertença. Por um medo irracional de a ciência os expulsarem e discriminarem mais uma vez. Não estou a dizer isto como desculpa, mas para se esclarecer o contexto antes de apontar o dedo.
Está errado. Erradíssimo. Uma ponte TEM de ser feita entre ciência e lgbts, no sentido de responder mais correctamente às questões colocadas pelos pais/jovens.
(conclusão)
ResponderEliminarPor vezes há certos preconceitos que, explicados com base em ciência, são facilmente mal-interpretados pelos preconceitos prejurativos que já estão na mente das pessoas à partida.
Mas uma coisa, disseste que da verdade científica não se pode ser extrapolado algum julgamento. Bem verdade. Mas podem-se pesquisar coisas e fazer experiências apenas numa determinada área, não dando azo a outras. É o caso de muitos cientistas. Não se extrapola um julgamento, mas pode guiar o que se pesquisa.
Enfim, tens razão de forma generalizada. É uma questão de mudar, se os outros não mudam (sim, já fiz variadas tentativas), mudamos nós. (: Obrigado pelo alerta para esta importante falha, especialmente nos panfletos informativos. Assim como as ideologias queer, que se podem adaptar.
Todos os argumentos e descobertas que referiste estão actualizados? Que mais descobertas se fizeram no caso dos transgénero? Quanto à transexualidade, o que faz (cientificamente) com que se considere ser uma doença? Assim como a homossexualidade era?
E assim, com este longo texto, termino o meu enorme comentário. Podemos mudar.
Bem hajas!
Casa comigo. Não li até ao fim (faltou-me só um bocadinho mas o TLDR foi mais forte que eu), mas casa comigo.
ResponderEliminarJá li até ao fim. A homossexualidade corre-me no sangue por isso não posso casar contigo.
ResponderEliminarQue redutor a "homossexualidade", Ana. Nunca julguei. E casar...por favor. Ainda se fosse ter uma uniao de facto. ai ai
ResponderEliminarQuanto ao meu comentário esqueci-me de comentar o suposto "ataque" à teoria queer. Acho que como ideologia e teoria, pode ser adaptada, renovada, melhorada. Nao considero um ataque mas uma oportunidade para renovaçao.
"quase consigo ouvir teóricos queer a acusarem-me de promover uma dicotomia inexistente entre «rapaz» e «rapariga», lembrando-me de que não há uma relação causal entre sexo e identidade de género"
ResponderEliminarestava imenso xD
Adorei o artigo, com a excepção de que acho que incorre num erro de base no que toca à semântica (sempre que citas dawkins eu critico a semântica xD).
Falamos na fac ;) Abraço
Eu sou muito gay.
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ResponderEliminarBolas Catarina, consegues fazer um comentário quase maior do que o artigo. =P Obrigado pelo trabalho a responder. Tipo, concordo com muitas coisas que dizes: às vezes expressei-me mal ou confundi conceitos, outras foste tu que leste mais no que eu escrevi do que eu escrevi de facto. Seja como for só vou responder aos aspectos em que sinto precisar de me ‘defender’ em relação ao que dizes (tudo o que eu não responder é porque concordo).
ResponderEliminar“A esquerda não implica liberalidade neste assuntos, assim como a direita não implica conservadorismo.”
Os termos “esquerda” e “direita” são abrangentes, mal-definidos e relativos. A direita pode ser progressista e a esquerda conservadora, tão facilmente como o oposto. Mas aqui uso-os no sentido mais comum, associando esquerda a progressismo e direita a conservadorismo. Não procurei ser rigoroso nestas definições, porque é um ponto que não é assim tão importante. Tudo o que eu queria mostrar era que o lysenkoismo não é característico de um ou outro lado do espectro político, mas antes, verifica-se em ambos.
“O "mal" não está na naturalidade da dicotomia entre sexos e os seus comportamentos característicos evidenciada pela biologia, como descreveste muito bem. O "mal" está precisamente na imposição de um sistema que não cabe a todos. Embora caiba à maioria, não cabe a todos e faz com que se observe a transfobia e subida de taxas de suicídio por transgéneros.”
Tentei ser muito explícito no meu post a este respeito, quando disse que “é de esperar que existam indivíduos com comportamento dissociado daquele identificado para a média da população de igual sexo anatómico” e “tratar os comportamentos não-heteronormativos como anómalos é contrário a uma correcta interpretação estatística dos dados científicos”.
“Não quiseste dizer: cisgeneronormativa? (cisgénero: indivíduo com identidade de género e sexo conformes). A heterossexualidade (de heteronormatividade) não está correcto no contexto.”
ResponderEliminarÉ claro que são conceitos diferentes, mas usei heteronormativo como um subconjunto de cisgeneronormativo. Veja-se a definição da wikipedia, «Consequently, a "heteronormative" view is one that involves alignment of biological sex, gender identity, and gender roles» A palavra é adequada ao contexto.
“Não percebi bem porque é que juntaste a um post claramente sobre identidade de género a heterossexualidade/não-heterossexualidade. (…) Contudo, não está NECESSARIAMENTE ligada à noção de papel biológico de género, ao qual te referias.”
Repara, o meu ponto é que ambos os lados do espectro político caem no mesmo erro, e procurei mostrá-lo usando um exemplo para cada lado. Os exemplos não são realmente sobre o mesmo assunto, simplesmente procurei fazê-los coincidir vagamente para não parecer muito fora de contexto. Portanto, escolhi dois exemplos relacionados com o sexo. A este respeito, lamento ter escolhido um mau título para o post, acho que vou mudá-lo.
“E qual é a do transgenerismo e transexualidade e porque é que é considerada uma doença pela OMS?”
Não faço ideia. Uma coisa de cada vez. Propus-me a explicar o motivo genético para a homossexualidade (se bem te lembras, perguntaste-ma uma vez :P) e foi o que fiz. O transgenerismo, a transexualidade e toda a míriade de comportamentos sexuais terão motivos diferentes.
“Não percebi bem esta parte. Ou seja, imaginemos o caso de um casal que tem um filho (ou vários do sexo masculino), tem a tal reacção com uma bactéria "invasora" e "aprende". Posteriormente tem uma filha. Há uma maior probabilidade de esta ser homossexual?”
ResponderEliminarNaturalmente que não. O antigénio é produzido pelo cromossoma Y, e a filha não tem cromossoma Y, portanto não o produz. Mesmo SE ela produzisse o antigénio (e não produz), o facto de o sistema imunitário da mãe combater o antigénio não faria dela homossexual, uma vez que o antigénio é “masculinizante” (sure, sure, caixinhas e tal, tu entendes a ideia).
“Ou seja, o argumento de um indivíduo "nascer homossexual/bissexual/pansexual" é cientificamente verdadeiro?”
Tudo parece apontar para que sim (pelo menos no caso de homens homossexuais, quanto aos restantes não tenho conhecimento para falar, mas parece-me razoável supor que sim).
“Todos os argumentos e descobertas que referiste estão actualizados? Que mais descobertas se fizeram no caso dos transgénero? Quanto à transexualidade, o que faz (cientificamente) com que se considere ser uma doença? Assim como a homossexualidade era?”
Não te sei responder, infelizmente, a estas perguntas. Acredito que as descobertas estejam actualizadas, mas não o posso garantir. Quanto aos transgéneros e transexuais, a resposta mais honesta é que não sei. Mas se quiseres, posso pesquisar.
Obrigado mais uma vez pelo longo comentário ;)
Grande artigo Gil. Obrigada. O melhor artigo que já li sobre esse assunto.
ResponderEliminarBoas Gil,
ResponderEliminarEu sei que o comentário foi longuíssimo, mas é só prova da inspiração que dás ao escrever artigos como estes. Contrariamente, tentarei que este outro comentário seja comparativamente curto. Aproveito para dizer que, relendo o teu artigo, o meu comentário e a tua resposta, encontrei generalizações grotescas e falaciosas de conceitos semânticos, da minha parte. Peço desculpa por isso, mas também é a aprender que se anda.
"Os termos “esquerda” e “direita” são abrangentes, mal-definidos e relativos.(...)Não procurei ser rigoroso nestas definições, porque é um ponto que não é assim tão importante. Tudo o que eu queria mostrar era que o lysenkoismo não é característico de um ou outro lado do espectro político, mas antes, verifica-se em ambos."
Concordo. Contudo, admito ser adepta fervorosa da separação [ainda que interligada] do tema liberalidade/conservadorismo - lado economico, que impeçam a invenção motivos "bizarros" na escolha de prioridades prevertidas, em detrimento de questões sobre direitos humanos, como aconteceu durante a criação de argumentos contra a legalização do casamento homossexual [pa, que nome estupido]. Nesse sentido talvez tenha sido um pouco picuinhas com o assunto, embora continue a achar que não está perfeitamente correcto e definido. Muitos confundem uma esquerda, por vezes ortodoxa, com a liberalidade nem sempre implicita, assim como existe um espectro contínuo ao longo do esquema "esquerda-direita", os chamados "temas fraturantes", note-se as diversas declarações de voto que houve no que toca a esses assuntos e os declarados "engolir de sapos", por vezes preconizados por razões não na zona liberal mas económica. Enfim, talvez possas dizer que é o tomar de um partido na organização política portuguesa, mas, simplesmente, achei que não ficou bem claro e poderá ter alimentado um pouco da confusão já instalada em algumas pessoas. Não que seja o ponto fulcral.
Quanto ao segundo ponto, foi erro meu e o sentimento, talvez involuntariamente, da necessidade de um reforço da ideia. Nem dei por isso. Sorry :/
(continuação..)
ResponderEliminar"É claro que são conceitos diferentes, mas usei heteronormativo como um subconjunto de cisgeneronormativo. Veja-se a definição da wikipedia, «Consequently, a "heteronormative" view is one that involves alignment of biological sex, gender identity, and gender roles» A palavra é adequada ao contexto.""
Contudo, na definição em português: "Heteronormatividade (do grego hetero, "diferente", e norma, "esquadro" em latim) é um termo usado para descrever situações nas quais variações da orientação heterossexual são marginalizadas, ignoradas ou perseguidas por práticas sociais, crenças ou políticas." versus a inglesa "Heteronormativity is any of a set of lifestyle norms that hold that people fall into distinct and complementary genders (male and female) with natural roles in life. It also holds that heterosexuality is the normal sexual orientation, and states that sexual and marital relations are most (or only) fitting between a man and a woman. Consequently, a "heteronormative" view is one that involves alignment of biological sex, gender identity, and gender roles.". Dos artigos de opinião, das situações de activismo lgbt em que estive interpretei como sendo o da definição em português, ou seja, um termo que descreve situações nas quais variações da orientação heterossexual são marginalizadas(...) e, embora possa implicar posteriormente uma visão cisgénera e de papéis de género definidos, na sua ideia principal, não o explicita especificamente. Como referi, ainda há uma fusão muito grande entre termos relativos ao género e à orientação sexual. Poderei estar errada, claro mas, por entender como sendo este o seu significado achei um pouco redutor, numa tentativa que me pareceu com uma intenção mais generalista. Talvez fosse só impressão minha. Contudo, não gostei [pessoalmente, claro; Também sou um pouco culpada neste assunto] da passagem identidade de género/orientação sexual. De novo, também sou muito picuinhas no que toca a este assunto.
No ponto seguinte, acho que foi mesmo sobre o título, embora tenhas posto agora exemplos do género...embora a palavra identidade de género seja redutor, pois consideraste papeis sociais de genero. Enfim, apenas a minha opinião.
Uma questão que me suscitaste: o motivo da homossexualidade feminina nunca foi muito explorado após as dúvidas criadas ou simplesmente não houve muito interesse? E quanto à questão da identidade de género
Agradeciria a pesquisa, pois estou seriamente interessada e confesso não entender nada sobre "antigénios". Mas quando tiveres tempo e paciência, claro.
Obrigada pela leitura do meu longooo comentário (:
Antigénio não é um conceito muito difícil de entender. Define-se como antigénio tudo aquilo que, quando introduzido num organismo, provoca uma resposta do sistema imunitário daquele organismo. O exemplo das bactérias patogénicas é típico. Uma bactéria patogénica tem antigénios, por isso quando entra no teu corpo, o teu sistema imunitário responde ("resposta imunitária" = o teu sistema imunitário procura destruir a coisa que tem antigénios).
ResponderEliminarO composto produzido pelo cromossoma Y dos bebés é um antigénio (antigénio H-Y). Portanto quando, durante a gravidez, o feto produz o antigénio H-Y, o sistema imunitário da mãe reage contra o antigénio. Inactiva-o, impedindo-o de fazer o que quer que ele ia fazer ao cérebro do feto.
Da mesma forma que, no caso de uma invasão bacteriana, o corpo não é lá muito bom a defender-se da primeira vez (i.e. ficas doente), de forma igual o corpo da mãe não é lá muito bom a combater o antigénio na primeira gravidez (i.e. o antigénio não é eliminado e faz lá o que tem a fazer ao cérebro do feto). Mas, quando tu apanhas a bactéria pela segunda ou terceira vez (ou se tiveres sido vacinada), o teu corpo já "aprendeu" a reagir contra ela, certo? Estás imunizada contra aquele antigénio. Da mesma forma, quando a mae já teve várias gravidezes, já está imunizada contra o antigénio do feto e impede-o de actuar.
O ponto aqui é que tens de ver o feto como o que ele realmente é: um parasita. O feto não é "parte" da mãe, é um organismo autónomo e diferente, e portanto os seus antigénios despoletam o sistema imunitário da mãe.
Eu compreendi a tua explicação do antigénio, apenas o referi, porque se o visse hipoteticamente num artigo científico não conseguiria prestar a devida atenção nem automaticamente entender tudo quanto era necessario.
ResponderEliminarAbraços revolucionarios!