segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Um Cão como Nós e a Grande Porca da nossa Política.







Todos nós sabemos, e já dizia o Fernando Pessoa, que os poetas são fruto das contradições e das incoerências. De múltiplos sentimentos contrários e de ideias ou ideais que por vezes entram em contradição quando analisada a obra no seu conjunto. Mas é esta dialéctica de emoções e ideias onde nasce o poeta, onde nasce o escritor.

Estas contradições são boas quando se trata de escrita criativa, mas não na política.

Pelo soar das últimas notícias e dos primeiros passos dos debates eleitorais. Enfrentamos candidatos cujas contradições são imensas. Deparamo-nos com um Cavaco que afirma ter sido o padrinho deste Orçamento de Estado, mas no final diz que este é um mau orçamento. Com um Fernando Nobre que é supra tudo, que tanto apoia a causa monárquica, como autarcas do PSD, eurodeputados do B.E, e que faz de tudo para não se clarificar ideologicamente.

De outro lado da barricada temos o suposto maior candidato da Esquerda, que esquizofrénicamente fala em nome do governo e da oposição. Que tanto dá uma no ferro e outra na ferradura. Não obstante disto a lista de comissão de honra do mesmo contem nomes como Francisco Louçã e José Sócrates na mesma. O mais engraçado de tudo é que parece que por parte dos dois partidos que apoiam este candidato, cada um vê nele o que realmente ele não é. Um oportunista que tem um fetiche de ser Presidente de República tal como os outros todos, à custa de tudo e de todos, e até das suas contradições. Além disso a vida de Manuel Alegre não tem sido a mais exemplar, mas sim uma carregada de privilégios dos quais não abdica. Sempre viveu à custa do PS e do Estado português. Não sei como é que mesmo assim alguns da esquerda socialista ainda conseguem fingir tão bem, ou, até mesmo acreditar piamente que este é o candidato ideal. Recordo alguns que no passado recente diziam que não o apoiariam e hoje aparecem empenhados na sua campanha de cara lavada, tristemente alegre.

O PS tenta a todo o custo dizer que Alegre é o seu candidato, timidamente tenta ocultar aqui e ali o apoio do BE.
Por sua vez o BE, no seu portal, esquerda.net, censura aqui e ali os apoios de José Sócrates e os seus amigos. Como podemos notar numa última noticia deste portal que ao divulgar nomes de pessoas relevantes da cultura e política portuguesa que apoiam a candidatura de Manuel Alegre, excluem desses nomes aqueles que mais incomodam aos seus militantes, como o de José Sócrates entre outros.

Era bom que o BE deixasse de maquilhagens no que toca à candidatura de Manuel Alegre e que assuma transparentemente e sem tabús que está a apoiar a mesma candidatura de José Sócrates e do Governo. E além disso uma candidatura que subtilmente diz que este OE é inevitável.

Estas eleições presidenciais são marcadas por uma incoerência e de um enorme desprezo do povo português face à política. Os cidadãos não percebem este jogo de contradições e estão fartos deste jugo que só serve interesses que não os seus.

Se se apoia um candidato incoerente e contraditório não podemos querer afastar todos os males que este possa acarretar. Mas se realmente nos comprometemos e acreditamos numa candidatura esta tem de ser levada sem tabús e censuras.

Os cidadãos não podem perceber como um partido que faz a oposição mais cerrada ao governo poderá apoiar o candidato deste. Não percebem como um P.R que se diz padrinho da criança orgulhosamente, no outro dia diz não gostar dela. Não percebem um Nobre que é tudo e não é nada, que é monárquico mas candidata-se à presidência. Muito menos ouvem Defensor Moura e aquela patetada.

Cavaco esse político que mais anos teve no poder, continua a pairar na política como nada tivesse haver com ela. Se há alguém responsável pelo estado do país e da política, é Cavaco, que depois do escândalo do BPN continua aparecer como pessoa idónea e com aquele ar sacramental que já nos tem habituado de anjo retardado, assexuado e moralista.

Nos rostos, nas palavras, nos gestos, que se iluminam sobre as luzes das câmaras e dos estúdios, tudo aquilo soa a plástico. Soa a falso. Soa a espectáculo. Soa a mentira. Soa a retórica. Soa a uma política que foi descaracterizada, e vendida ao marketing e a falsos moralistas.

No final de tudo, todos parecem defender o mesmo tentando demonstrar o contrário. Todos parecem poetas, cheios de contradições. Mas isto infelizmente não é poesia, não é "Um cão como nós", mas sim "A grande porca da nossa política".


A verdade é sempre revolucionária

13 comentários:

  1. Adoro :3 ver pessoas a pensar por si mesmas em vez de ecoar aquilo que este ou aquele partido -- que o seu próprio partido -- dizem. Adoro os rompimentos com as imposições da massa ortodoxa (porque dentro do BE, como dentro de qualquer partido, há a omnipresença da ortodoxia bloquista -- embora esta seja a heterodoxia de outros sectores da sociedade). Adoro que haja a abertura e pluralismo que me permitem identificar com um movimento não porque concorde integralmente com ele, mas precisamente porque sei que me é permitido discordar dele e que nele o pensamento livre e autónomo é instigado.

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  2. Eu faço a apologia à heterodoxia. E crítico sem medos. Não gosto de ser papagaio seja de que partido for só porque assim se é melhor aceite. Existe por vezes uma certa disciplina de pensamento mesmo nos partidos mais democráticos que deve ser combatida e posta a a nu.

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  3. Miguelito cada vez gosto mais de ti. Discordo de 90% do que dizes, mas deve ser por isso xD

    temos de ter uma grande conversa nós, é que eu também apareço na lista da comissão de honra ;)

    abraço

    PS: é mesmo isso Gil :)

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  4. concordo. isto INFELIZMENTE não é poesia..

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  5. E eu que já Pensava que o bloco de esquerda nunca errava..

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  6. isboa, 21 dez (Lusa) -- O candidato presidencial Manuel Alegre assinou um documento de compromisso com cerca de uma centena de dirigentes sindicais da CGTP-IN e da UGT, no qual promete usar todos os seus poderes para defender os direitos sociais.

    Intitulado "Um compromisso entre Manuel Alegre e os trabalhadores", o candidato presidencial apoiado pelo PS e pelo Bloco de Esquerda recebe em contrapartida o apoio destes sindicalistas da UGT e CGTP-IN.

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  7. Pois mas no entanto, diz que este OE é inevitável!

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  8. Eu concordo em parte daquilo que dizes.
    Mas esqueceste-te de referir uma parte essencial: então, que cadidato deveria o BE apoiar?
    Concordo que o Alegre tem um fetiche qualquer em ser PR, que mostra algumas incoerências.
    Mas sei também que é o mesmo Alegre que não permitirá uma revisão constitucional para se retirar a saúde e educação (pseudo) gratuitos.
    É o mesmo Alegre que votou contra o novo código de trabalho.
    é o mesmo Alegre que diz que os jovens têm que se mexer para acabar/evitar o futuro precário que lhes espera.
    é o mesmo Alegre que se juntou à manif de estudantes contra o corte nas bolsas.

    é cavaco que vai fazer ou faz isso? não!

    o que é importante perceber (que acho que é uma falha no teu discurso) é que esta eleição é exclusivamente para uma pessoa. não são não sei quantas que entram por método hondt, e portanto ter um candidato próprio, mais à esquerda, com ideias mais claras, com ideias mais "bloquistas" não serviriam para disputar nada. e não é uma questão de voto útil. é a questão do que é necessário. e é necessário derrotar cavaco.

    confesso que demorei muito para aceitar este apoio ao alegre. hoje não tenho dúvidas que, face ao que nos foi apresentado, foi a melhor coisa que o BE poderia ter feito. até pode ser que me arrependa do que estou a dizer. e até agora nada do que o Alegre fez me faz arrepender desta decisão, porque nada me surpreendeu e já sabíamos que iria haver muita coisa que não íamos estar acordo.

    enfim, desculpa o testamento, e obrigado por mostrares que dentro do BE pode haver opiniões diferentes sem recriminação e é possível discutir livremente, sem medos. :)

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  9. "o que é importante perceber (que acho que é uma falha no teu discurso) é que esta eleição é exclusivamente para uma pessoa. não são não sei quantas que entram por método hondt, e portanto ter um candidato próprio, mais à esquerda, com ideias mais claras, com ideias mais "bloquistas" não serviriam para disputar nada. e não é uma questão de voto útil. é a questão do que é necessário. e é necessário derrotar cavaco."

    Tens razão no que dizes, no entanto, esqueces-te de uma coisa.

    Uma das razões para um partido dito anti-capitalista candidatar-se e participar em eleições, não é pura simplesmente a conquista do cargo em causa. É também o que resulta do processo de eleição, que devido às suas características inerentes, nomeadamente os espaços garantidos nos meios de comunicação (tempo de antena, debates, etc) que permite que esse mesmo partido divulgue as suas ideias.


    Inês, falas da natureza do cargo em questão. É evidentemente uma eleição para uma pessoa só. No entanto, levo-te a pensar o que seria uma estratégia mais acertada...

    O bloco poderia muito bem ter um candidato próprio, aproveitar essa oportunidade para semear as suas ideias no seio dos portugueses. E ao mesmo tempo promover todo um discurso contra Cavaco e a direita.

    Como é óbvio, a sua eleição seria quase impossível. No entanto, esta opção seria igualmente útil e eficaz para forçar a uma segunda volta.
    Já que o critério para haver segunda volta, é Cavaco não ter mais de +-50%. Independentemente da forma como os votos são distribuídos pelos outros candidatos.

    Se a minha intenção for forçar uma segunda volta ,é tão eficaz eu votar com confiança num hipotético (Fazenda/Rosas/Louçã/etc) como votar sem convicção num alegre.

    Desta forma o bloco poderia apoiar na mesma alegre na segunda volta. Sendo assim evidentemente o mal menor...

    O bloco da forma como procedeu, desperdiçou uma grande oportunidade de reforçar o seu espaço e quiçá de o expandir..

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  10. "enfim, desculpa o testamento, e obrigado por mostrares que dentro do BE pode haver opiniões diferentes sem recriminação e é possível discutir livremente, sem medos. :)"

    Sim Miguel,
    enquanto permaneceres assim...isolado e não te aproximares daqueles demonios na terra que são os rupturas :)

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  11. Agradeço ao Anónimo que aqui explicitou muito bem as possíveis alternativas.

    Não esqueçamos que este Alegre não esteve na Manifestação de 24 de Novembro.

    Não esqueçamos que este Alegre nunca fez mais nada na vida sem ser viver à conta do Estado português.

    Não nos esqueçamos que este Alegre diz uma coisa num ano e outra noutro quando lhe dá jeito.

    Não nos esqueçamos que muitos que apoiam Alegre não acreditam realmente na sua candidatura. O apoio a Alegre é uma mera estratégia partidária errada e hipócrita.

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  12. Este comentário foi removido pelo autor.

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  13. O já conhecido jogo do gato e o rato, insultos sem provas, respostas não há medida. O costume:

    http://sic.sapo.pt/online/noticias/pais/Cavaco+acusa+Alegre+de+mentir+aos+portugueses+Alegre+diz+que+Presidente+confunde+divergencias+com+in.htm

    Gostei de algumas respostas, mas notei alguma falta de convicção em alguns momentos da fala.
    Gosto especialmente do "a política externa não se faz aos gritos na praça pública" do Cavaquinho.

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