segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Marx, Trotsky, Lenine e outros Santos Padroeiros


Hoje deparamo-nos com várias correntes e pontos de vista que florescem. Uns mais à esquerda outros mais à direita. Vimos neste século o florescimento de teóricos como Toni Negri, David Harvey, Tony Judt, Slavoz Zizek, Noam Chomsky, Elinor Ostrom, Boaventura Sousa Santos, José Reis, entre muitos outros a desempenharem um papel essencial na cena intelectual e no debate teórico à esquerda tanto a nível nacional como internacional.

Enquanto uma esquerda mais moderna ouve atentamente os novos teóricos, outra limita-se a repezinhar os velhos santos padroeiros da esquerda e a adoptar os seus discursos, análises, e livros como fundamentalistas religiosos.

É nestes casos que a religião e a política se assemelham mais intensamente.

Existe um culto em certas áreas políticas de preservar um certo vocabulário que só interessa aos próprios crentes/militantes e que só eles sabem decifrar. Alguns até vibram quando alguma dessas palavras são proferidas, entrando quase em estado pós-hipnótico. Burguesia, proletariado, operariado, entre outros arcaísmos que a sociedade contemporânea percebe, mas que absorve estas palavras como quem come um pastel de nata fora do prazo. As palavras cheiram a bafio. Não têm eco na sociedade, só mesmo nos corredores destes partidos e movimentos. Falar nesta linguagem oitocentista é falar para dentro.

Não só é preciso adoptar um discurso mais contemporâneo. Com uma linguagem que não vá na mesma linhagem que o "Das Kapital" de Karl Marx. Que não caía na constante repetição da análise marxista que todos nós conhecemos. Que tem todo o mérito. Mas que não basta, e é insuficiente para os dias de hoje. É preciso uma renovação do método de análise da sociedade.

Depois de uma revolução tecnológica, cientifica digital e de uma sociedade pós-moderna que enfrenta desafios novos e complexos, não será viável perder muito tempo a revisitar santos como Lenine, Trotsky, Mao, como muitos outros. Não faz sentido. A não ser num ponto de vista mais historicista e numa "de aprender com os erros do passado".

É preciso romper com o tradicionalismo de esquerda e com todo o sacralismo que alguns gostam de fazer à volta de figuras como essas, transformando-as em santos rebeldes e anti-capitalistas, e os seus fiéis em gentes de uma procissão esquizofrénica e oitocentista, que ruma em direcção a uma pátria vermelha que os próprios não sabem dizer o que é. Mas que julgam sentir ao longe como um evangélico sente Deus quando entra em transe.

É preciso acabar com esta mitologia, com esta sacralização, com esta ideia de fado, com o repisar os mesmos ídolos e personagens o resto da vida. São coisas que não fazem sentido à maior parte da juventude de hoje e até a mais seniores. Quer-se uma ideia radical? Essas não o são de certeza, a de Trotsky, Lenine e Mao, que já há algum tempo foram corcomidas pelas traças.

A resposta está nos vivos, e não em mortos que já jazem nas suas campas há mais de um século.
É preciso não esquecer as suas obras, mas daí vai uma diferença enquanto a por as mesmas no pedestal da actualidade, e a procurar respostas para os problemas actuais vindas daí.

É preciso menos teoria crítica pura e menos alternativa política à priori. É urgente uma análise cientifica baseada em factos e em experiências empíricas e com métodos científicos do século XXI, coisa que a esquerda não se tem empenhado a fazer.

É preciso uma esquerda que experimente, que pesquise, que analise com mais detalhe e rigor cientifico. Uma que desconstrua os dogmas e que acabe com o espírito messiânico de uma certa esquerda inspirada inconscientemente pelo messianismo judaico-cristão. Paira por aí uma esquerda que espera por uma "revolução", que nascerá num dia de nevoeiro sabe-se lá por que razão e instaurará a utopia socialista, e seremos todos felizes para sempre. Esta crença tem que ser desconstruída. Para o bem de quem quer mudar as coisas realmente existentes.

Deixar o fetiche puramente ideológico e as utopias puras e ingénuas e pensar nas sociedades que foram mais longe na realidade em termos de alcançar os ideais do bem-estar, justiça social, democracia, liberdade e solidariedade. E pensar em métodos organizacionais que possam ser aplicados na realidade e experimentá-los. Exemplos como o OE participativo, o conceito "the commons" (de Elinor Ostrom), Demoex, entre outros projectos bastante interessantes que precisam de ser postos em prática que envolvam relações sociais novas, e novas formas de produção e preservação naturais.

É preciso desconstruir o mito de que o próximo modo de produção será determinadamente o modo de produção socialista e por consequente comunista. Isto é uma das crenças mais irracionais do pensamento marxista, que deve ser desconstruído e posta a nu.

Apelo a todos os interessados no debate e no progresso social que se faça um debate mais inovador, baseado mais em factos e experiências empíricas que em dogmas e escrituras de autores que já morreram há mais de um século.

É altura do método científico ser utilizado com mais intensidade. É altura de começar a incluir teorias e análises vindas de áreas como a sociobiologia, e de incluir mais análises vindas de áreas como a criminologia ou ciências jurídicas.

As análises sociais, e as alternativas sociais venham de onde vierem só poderão ser realmente positivas se envolverem no seu processo intelectual uma riqueza e pluralidade de análises, de disciplinas, de pessoas diferentes mas tolerantes. Não precisamos de mais dogmas ou esquerdas messiânicas que usam "O Capital" nas suas rezas ou outro holy book.

A esquerda advoga a mudança, mas a mudança na esquerda também é complicada.

Ar fresco. Anti-dogmático. Racionalidade, pragmatismo, tolerância e muita pluralidade.

O pior defeito da esquerda não está em ser demasiado anti-capitalista ou social-democrata, mas em ser dogmática.

Não deixa de ser engraçado como uma certa esquerda se aproxima da religião na sua lógica irracional, fé messiânica, determinismo e culto de personagens e livros de uma forma sacra, literal e tão pouco crítica e mesmo conservadora.

21 comentários:

  1. a esquerda é totalmente religiosa... é moralista, julga as pessoas, distingue os maus dos bons, dogmática, estática, define modelos de comportamento e de organização, e é contra o hedonismo da sociedade e a natureza do homem como qualquer bom católico...

    já agora falta no seu texto os esquerdistas que acham Cuba um bom exemplo e Lenine um ídolo...

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  2. Eu sou de esquerda. Não acho que toda a esquerda seja assim. Mas alguma dela é como descreveu.

    Tal como toda a Direita, existe Direita dogmática e menos dogmática.

    Não devemos cair em generalizações. Mas registo a sua opinião.

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  3. eu não sou de esquerda nem de direita. os termos são em si generalistas. Não devemos cair em generalizações ;)

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  4. Outch..doeu porque é muito verdade. Perfeito *

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  5. O texto é muito bom, bem escrito, a apontar na direcção certa e com uma critica justa e necessária a certa esquerda.
    Mas tem uma contradição subjacente. É que ao apelar a uma esquerda que olhe para a frente em vez de repisar e repetir formulas antigas está, ele próprio, a repisar e a usar uma ideia mais do que batida na esquerda.

    A sério que n quero retirar mérito ao texto, que é muito bom, mas amigo(n uso camarada pq... já explicaste) quando o Marx nasceu já esta ideia tinha barbas...

    Não é por acaso que se chamam progressistas...

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  6. Mais vale repisar(e usar)uma ideia de progresso, que mil ideais de atraso.

    Só assim é que a esquerda poderá evoluir e evoluiu até hoje. Na minha perspectiva, é claro.

    Não tenho nada contra o "repisar", respeito muito esse verbo, tenho é contra o que se "repisa".

    O que se repisa é que é o "objecto" da questão, e não o "acto de repisar".

    Eu não condeno o acto de "repisar" por si só. Eu condeno o "acto de repisar a análise marxista, e as fórmulas trotskistas, maoistas e leninistas"

    Ou ouve um mal entendido da minha parte na expressão, ou existiu uma inferência lógica errada. Mas eu não vejo qual a contradição.

    Onde é que eu no texto condeno o "acto de repisar" por si só?

    Se calhar eu não me explicitei bem no texto, mas foi isso que quis dizer. Obrigado pela leitura e peço desculpa pelo que possa ter ficado mais mal entendido.

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  7. Caro senhor Sacramento

    Alguma vez se deu ao trabalho de ler os nomes que acabou de escrever? Não estou a falar dos "padroeiros" mas até daqueles que você anda a defender.
    É que a mim parece-me que você está é a gastar muito tempo a ler títulos na secção e filosofia e política da FNAC sem necessariamente os ler porque se o fizesse não poria no mesmo parágrafo Tony Judt e Zizek.
    Sinceramente, não li todos mas dos que li posso dizer que prefiro esses velhos, esse Lenine, esse Trotsky, esse Mao... esses homens que em vez de esperarem por um "evento" (o senhor não deve precisar de explicação porque certamente respondeu que sim à pergunta anterior) decidiram fazê-lo.
    Acho que ainda não aprendeu que o crítico tem que conhecer aquilo que critica melhor do que ninguém... mas eu entendo, ler dá trabalho, aprender dá trabalho, estudar filosofia, história, política, economia, é tudo muito difícil.
    Tão difícil que Marx se dedicou a estudá-los e a compreender melhor o desenvolvimento de um sistema que na altura estava na sua génese: o capitalismo, não o comunismo.
    Mas "Das Kapital" é grande e nada poético por isso deve ter ficado pelo "Grundrisse" ou então não e preferiu o tão portátil manifesto (bela edição da penguin que sem dúvida deve ter encontrado na fnac?).
    Fez bem em quedar-se meu caro. O manifesto foi escrito para pessoas como você – relativamente deseducadas mas lúcidas o suficiente para entenderem a situação injusta que é a sua vida.
    É que a utopia que Marx e todos esses "padroeiros" (não me canso mesmo desta maravilhosa expressão) procuravam era isso: um estado, uma organização de poderes, uma sociedade em que o homem poderia deixar de se sentir injustiçado; em que pudéssemos transcender (imanentemente, mas não preciso de dizer isto porque obviamente o senhor já deve ter lido Nietzsche mesmo se só as citações) a nossa condição de escravos.
    A mim parece-me que esta utopia é a única pela qual devemos lutar... mas posso estar errado claro. Isto de revoluções digitais complica as coisas; demasiadas imagens por todos o lado, tão fáceis de digerir que nos julgamos alimentados.
    O meu problema com o seu post é que me parece uma opinião mal fundamentada e puramente demagógica de alguém que ainda não encontrou ninguém que de facto leu e estudou os problemas em que você sem dúvida deseja tomar parte mas que por uma busca de protagonismo (queremos ser rápidos como as imagens que nos rodeiam) não conseguiu dar-se tempo para estudar.
    Sem dúvida que Marx está etimologicamente datado, mas por isso mesmo surgiram as escolas neo-marxistas. Adorno, Horkheimer, Habermas e até mesmo Zizek; creia ou não, Zizek é um desses "evangélicos em transe", aliás é um defensor de um "evangélico" bastante mais importante que é Badiou e que infelizmente talvez ainda não tenha conhecido ou tivesse preferido não mencionar ou fosse a lista tornar-se verborreica (acima de tudo elogio a sua capacidade de evitar a verborreia).
    Nada é mais triste que um demagogo, porque ele sabe o vazio da sua mensagem. A única coisa que eu espero conseguir com este comentário não é necessariamente desdizer o que você afirma, porque de facto não afirma nada.
    Apenas desejo que ao ler isto o senhor Sacramento (através da vergonha - um dos poucos impulsos que guardamos) sinta despertar essa vontade de mudar as coisas, esse ímpeto tão depressa adormecido, dado o extremo trabalho necessário para ser-se protagonista da questão mais pertinente das sociedades: a condição do indivíduo.
    Se a esquerda não tem mensagem, se a esquerda lhe parece sem resposta para os nossos problemas não é porque continua a usar a mesma velha lição... é porque a perdeu. É porque na vontade imensa de seguir em frente, tomada pelo progresso se esqueceu que o passado é o único sítio onde conseguimos avistar um troço do que é verdadeiro ou que pelo menos anseia sê-lo.
    Volte aos livros que criticou. Entenda a mensagem
    Não entre nestes jogos tão feios de falso conhecimento e ignorância pretensiosa.

    Seu
    Nuno Atalaia

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  8. Sem esquecer.
    O meu contacto:
    nunoatalaia@gmail.com

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  9. Meu caro amigo. Se preferir o insulto fácil e as dissertações e especulações sobre os livros e a fnac e a minha vida pessoal, aconselho-o a fazer comentários noutro blog. Porque esse não é o meu estilo de debate. Eu debato ideias, ideais e não pseudo-insultos.

    Ponho Tony Judt e Zizek no mesmo parágrafo não por serem próximos em termos ideológicos, uma é um post-marxista, um marxista não ortodoxo, e ooutro é social-democrata. Mas por terem e estarem empenhados na inovação da análise social e na mudança de linguagem ou discurso na esquerda, é que os pus no mesmo parágrafo.

    Além de tudo isso, eu não referi que os defendia, referi sim:

    "Vimos neste século o florescimento de teóricos como Toni Negri, David Harvey, Tony Judt, Slavoj Zizek, Noam Chomsky, Elinor Ostrom, Boaventura Sousa Santos, José Reis, entre muitos outros a desempenharem um papel essencial na cena intelectual"

    É um constatação. O que eu digo é interessante a esquerda dar mais atenção a estes autores contemporâneos que por acaso nuns conheço o trabalho melhor do que noutros. Existe uma inferência lógica errada na sua crítica e interpretação do texto.

    Não sei se alguma vez leu "Ill fares the land" de Tony Judt, mas um dos principais apelos é o da mudança do discurso da esquerda. O que Zizek faz é uma abordagem diferente do marxismo, poderá se dizer que é um post-marxismo mas que rejeita visão de que o Estado é um elemento crucial para atingir o socialismo/comunismo, analisado e complementado à luz da psicanálise Lacaniana o seu pensamento, Zizek tem uma tradição mais hegeliana que marxista seja dita a verdade. Não sei se conhece algum dos seus livros, não sei se conhece sequer a sua forma de escrita, que se não conhecer, aconselho vivamente porque é dinâmica, ritmada e cheia de curiosidades. Além disso Zizek, se quer saber, não escreve só sobre política, mas também sobre cinema, e costuma encruzilhar esses dois paradigmas na crítica social.

    Enquanto ao caso da revolução digital, não comento as suas ridicularizações, por tornarem um assunto sério de uma maneira redutora superficial e simplista, que não estou habituado.

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  10. Não sei se sabe, mas a suposta "revolução" não se faz com o "Capital" na mão e com uma utopia minoritária, mas com pessoas e apoio popular largo e com isso não se faz com os escrito de Marx, até porque Marx não desenha uma alternativa concreta, se leu ou está a par dos seus escritos.

    Aconselho-o a adoptar outro modo de debate sem ser a tentativa de insultar. Não é dessa maneira que estou habituado a conversar.

    Pelas suas bastantes afirmações, deduzo que não existe uma diferença muito grande entre você e um fundamentalista religioso.

    Vejo que você tem mais fé e utopia. Que outra coisa. Como um fundamentalista islâmico tem em chegar ao céu para ir ter com o seu harém.

    "relativamente deseducadas mas lúcidas o suficiente para entenderem a situação injusta que é a sua vida."

    Isto é muito o argumento que muitos envagélicos usam quando eu lhes digo que não acredito em Deus. Costuma usar um estilo "iluminado" e um tom insultuoso de estilo algo autoritário. Vendo a "educação" de uma forma muito linear e redutora. Do género, "não tens a minha ideologia", "então és um "deseducado", "porque só os iluminados são como eu".

    Eu deixo-o pensar que é um "iluminado", e eu um deseducado. Mas tal não se trata de uma outra fé.

    "Zizek é um desses "evangélicos em transe", aliás é um defensor de um "evangélico"

    Onde é que eu no texto disse que era defensor de Zizek?

    "porque de facto não afirma nada"

    Você é tão educado, ou, iluminado, que nem sabe o que é uma "afirmação". Aconselho-o a aprender o básico, com a pergunta, o que é uma afirmação?

    "problemas não é porque continua a usar a mesma velha lição... é porque a perdeu. É porque na vontade imensa de seguir em frente, tomada pelo progresso se esqueceu que o passado é o único sítio onde conseguimos avistar um troço do que é verdadeiro"

    Pois, eu acho o contrário. Penso que um dos principais problemas da esquerda é olhar demasiado para o passado e olhar demasiado em fés e utopias puras, do que a transformação, onde aí o que contam são as pessoas, e não Marx, onde o que conta é o pragmatismo, e não a ideologia sectária.

    Se você entendesse a mensagem dos escritos de Marx, percebia que nem ele era Marxista.

    Se você entendesse o que representa "O Capital", ou seja uma inovação metodologia de análise social, você não era passadista mas sim progressista. Porque eu acho que muitos Capitais ainda hão de vir e espero, porque esse não é um livro sagrado, e não é com esse que se vai mudar a actualidade.

    O mais importante do que isto tudo, marxismos, é a tolerância e o saber debater com alguns princípios. Já que você diz que eu sou um "deseducado", eu não gosto desse termo. Mas vou usar a mesma linguagem que você, para ver se me entende melhor. Você é um deseducado a debater, como demonstrou no seu post. E é uma pessoa extremamente educada a entender o marxismo como uma religião.

    Abraço.

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  11. Caro Senhor Sacramento

    É tarde, voltarei em breve.

    Não, sinceramente isto sim é debate. Prefiro ver um pouco de espuma na boca para acreditar nas palavras que saem dela.
    Quanto ao "Ill fares the land" (uma boa escolha, um livro que cabe em qualquer sacola) é simplesmente mais uma repetição daquilo que o senhor Tony Judt já ia dizendo durante todo "Um século esquecido", para mim a procura de uma utopia no passado.
    Quanto a utopia minoritária gostava que esclarecesse porque essa saiu tão de repente que ainda estou a pensar o que raio é que quererá dizer.
    Bato palmas interiormente pelo comentário do fundamentalista islâmico porque aí encontro a verdadeira elegância de um senhor que não está habituado a insultar.
    Quanto à revolução digital eu só não o vejo como um verdadeiro singularitariano porque obviamente não quer ter nada a ver com religião, uma palavra que o senhor adora usar... mas peço-lhe, vá vá, comente as minhas ridicularizações.
    Creio que talvez troque certos conceitos como religião... e fé... e doutrina... e fundamentalismo... e progressista (que palavra bonita cheia de vértices)... sinceramente ainda estou a tentar decifrar essa utopia minoritária que pelos vistos foi cair na minha mão. Ah e a utopia pura, também gostava de saber que lhe aconteceu... aquafresh?
    Quanto a Marx não ser Marxista, temo insónias só de tentar entender esse estranho contorcionismo que leva uma pessoa a não se ser (e assim abro-lhe as portas para citar quanto Pessoa bem lhe apetecer que sem dúvida deve ser um dos seus poetas de cabeceira). Aliás, gostava que o senhor me explicasse o que entende por Marxista e o que quer dizer por Marx não ser Marxista. Aqui vai uma pista... leia Bakunin que esse sim sabia criticá-lo.
    Eu agora vou dormir a sonhar com todos os capitaisinhos à espera de aparecer e deixo apenas o conselho de se preparar para eles, lendo o original.

    Porque o senhor não o leu.

    Já agora
    Afirmação - do latim affirmatio - asserção, fortalecer de uma crença... ainda não vi sinceramente nada parecido nos seus textos para além de eu estar à espera de um harém e ser para com os textos um fundamentalista religioso. Também não encontro ideias... e nada de mim existe que seja pseudo; estou mesmo a insultá-lo - é o que faço quando me insultam.

    Eu não sou deseducado. Sou mal educado meu caro; ao menos tenho alguma. Também sou um sacana e mais - daqueles que se divertem.

    Cumprimentos

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  12. Caro Nuno Atalaia,
    "O que é certo é que eu próprio não sou um marxista"
    -- Marx (cit. por Engels in "carta a Bernstein, 2-3 Novembro 1882)
    Abraços

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  13. "Prefiro ver um pouco de espuma na boca para acreditar nas palavras que saem dela."

    Enquanto a esse fetiches seus nada posso dizer, a não ser que são no mínimo mórbidos e tipicamente evangélicos, quando este entra em transe.

    Enquanto a utopia pura e minoritária pense mais sobre isso e aprofunde o pensamento.

    O caso Marx não ser Marxista, aconselho-o a ler alguma coisa sobre esse assunto, que é os escritos de marx. Enquanto às insónias, não sou médico ou farmacêutico, portanto não lhe poderei receitar nada, sem ser uma boa dose de cultura marxista.

    Conheço bem Bakunine, também Kropotkine, que desde já é bastante mais interessante e desafiador.

    A par dos aquafresh e das fnacs e de todas essas imagens do digital que o fazem espumar.
    Vamos falar do que interessa, meu caro iluminado.

    Falhas da análise marxista à luz do contemporaneidade.

    - O determinismo de que o próximo modo de produção será o marxista e em seguida o comunista.

    - O facto de o Estado ser o instrumento político principal da luta de classes na análise marxista e o facto de no mundo actual esse já não ser o agente político principal. E de este ser uma entidade política em plena decadência, cujo seus poderes estão a ser transferidos para outros agentes políticos. Marx não equaciona isso.

    - Marx, não faz uma análise onde integre as ciências jurídicas reduzindo-as "ciências burguesas". O que é de todo uma maneira simplista de arrumar essa tão importante disciplina para o conhecimento do mundo actual. A falta de análise mais profunda sobre essa ordem normativa, principal e imperativa, e um dos erros crassos.

    - O facto de não equacionar, o conceito "trabalho imaterial" na sua análise, o trabalho em que o modo de produção é o intelecto, e que está em expansão nas sociedades actuais.

    - O facto de não aprofundar a análise sobre tecidos produtivos maioritariamente terciários, que hoje é realidade mais banal.

    - O facto de não equacionar, o novo facto que é a "produção de bens a custo zero", que é um novo paradigma de produção e distribuição. E de não equacionar o problema que é a escassez artificial.

    - O não equacionar disciplinas como a sociobiologia, que darão um contributo fundamental, que Kropotkin já o tinha percebido há muito tempo (não sociobiologia mas mais propriamente zoologia).

    - O facto de Marx, não equacionar o facto de no século XXI, o marxismo estar ligado a crimes contra a humanidade e de opressão das liberdades e garantias dos povos.

    - O facto de o marxismo ser uma concepção do mundo e do ser humano totalizante o que o faz ter contornos muito parecidos que os das religiões, propiciando um campo fértil para instauração do dogma e de um fundamentalismo sectário e exclusivista.

    - As novas organizações, relações sociais, de produção e distribuição que o mundo digital nos tem vindo a impor e a promover. Marx não equaciona isso. Juntamente com encurtar do tempo-espaço na sociedade actuais.

    - A sociedade de informação. Onde a informação tem um poder crucial. Marx não equaciona isso.

    - Os novos tipos de opressões, causas lgbt, e outras, que não sejam de carácter estritamente produtivo ou laboral.

    - A relação homem-ambiente, e os problemas ambientais relacionados com a escassez de recursos. Marx não equaciona isso.

    - A abundância das profissões liberais e uma maior democratização do ensino fazem com que o marxismo ortodoxo seja difícil de se impor. Devido a uma maior pluralidade de escolas e pensamentos da esquerda à direita que florescem.

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  14. Estas são algumas das falhas, a meu ver, a meu e de muitos outros, que admiramos a análise marxista mas que reconhecê-mos que é insuficiente para os dias de hoje.

    Infelizmente não é Marx que faz o Marxismo, mas as pessoas que dos seus escritos se dizem Marxistas, muitas vezes não percebendo o que Marx representou acima de tudo. "Um olhar em frente, uma ideia de ruptura com o passado, uma ideia de progresso e não de passadismo e nostalgia."

    Para se mudar a sociedade são precisas pessoas, e as pessoas são cépticas enquanto ao caso Marxismo ortodoxo (puro e duro), porque viram as experiências que se fizeram sobre esse nome.

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  15. Aprofunde o seus conhecimentos sobre as novas ciências e os novos métodos de análise em vez de estar a olhar para os mesmo escritos oitocentistas e de carácter bíblico, enquanto vê anúncios da aquafresh.

    Poderá ir muitas vezes à fnac, que eu prefiro os e-books, não sei se sabe o que é.

    Abraço e menos dogmatismos (era isso que Marx queria que fizesse se tivesse vivo!)

    PS: Escrevi isto em 3 comentários porque o comentário era demasiado grande para ser publicado num só.

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  16. Caro senhor Sacramento

    Mal o reconheço.
    Parece que a raiva o forçou a largar o conteúdo que há tanto tempo nos andava a esconder. Sim, de facto já foram trocados suficientes insultos para que de uma vez largasse o negócio fácil de copiar farpas e fico contente que já deixámos essa frases poéticas "corcomidas por traças" para algum criticismo sério. Só me pergunto porque é que não começou por aí em vez de acusar todo aquele que realmente se preocupa com conteúdo textual e ideológico de ser passadista ortodoxo (ainda me falta tempo para ser velho do restelo mas se quiser já me pode começar a chamar isso, sem dúvida uma expressão ao mesmo nível que "padroeiro" e que fará as delícias aos seus habitués).
    Mas sabe, isto não me chega. É que eu ainda só ando a ver listas de queixas presentes para criticar um homem que no passado infelizmente não nos conseguiu prever os nomes das revistas cor de rosa de hoje. Bom, eu gosto de pensar em Marx como um filósofo do seu tempo, você ainda parece um pouco aborrecido que ele não fosse oráculo para ver no futuro. Eu posso ser um extremista religioso à procura do harém virtual mas você obviamente prefere uma aproximação shamanista, mais rente à terra, religião biológica, para longe as doutrinas geneticamente modificadas. O fetiche do progressista parece ser o passado mais longínquo de todos. Não espanta que Kropotkin lhe agrade tanto.

    Gosto que a crítica tenha algum conteúdo positivo, ou melhor, algum conteúdo de todo que não seja simplesmente apontar faltas especialmente faltas de teor principalmente etimológico ou resultado dos habituais "excessos imaginativos" que tanto gosta de acarinhar.
    Obviamente que o senhor não vai á fnac ou sequer
    a qualquer loja; provavelmente até só faz compras online porque como "anti-capitalista" que é recusa-se a tocar em dinheiro e limita-se ao digitar do código de visa. Pingo doce ou amazon, o facto é que escrever listas de compras nunca sai de moda. Mas não se preocupe que eu vou agarrar na sua lista com cuidado e tentarei dar-lhe uma refutação positiva.
    Enquanto isso gostava que começasse a dar algumas respostas às perguntas que eu ponho. Respostas a sério, não me mande limpar os dentes, ou tomar comprimidos para as insónias... vá, utopia exclusivista e pura, quero saber isso, aliás, gostava de entender o seu contínuo ataque a utopias porque obviamente não anda á procura de nenhuma. Explique lá, é que alguns de nós não conseguimos comprar um kindle porque por muito barato que seja, pouca coisa ainda é de "custo zero" (até gostava de saber qual o talão que lhe deram para sacar essa outra pérola um bocado dúbia). Já agora e "libertinagem socialista", sabe?
    Eu por mim prefiro os livros mesmo, aqueles de papel, gosto do material nos meus dedos, gosto de me lembrar que palavras e ideias precisam de objectos para surgirem, sejam esse papel para as imprimir ou pessoas para as pensar (não aparecem no talão já lhe aviso). De facto você prefere a imagem ao toque (Debord, alguém?) ou então questões manuais estão abaixo de si ou ainda, é alérgico ao pó o que de facto explicaria a sua aversão a qualquer coisa que tenha demasiados anos em cima... se o diz de Marx o que não dirá de outros.
    Que a coisa vai mal, que a solução não é óbvia, que a busca ainda não terminou, isso de facto tem razão mas eu tenho sempre problemas com os berros pouco compreensíveis de um chiffonier.

    "On voit un chiffonnier qui vient, hochant la tête,
    Butant, et se cognant aux murs comme un poète,
    Et, sans prendre souci des mouchards, ses sujets,
    Epanche tout son coeur en glorieux projets."

    "Il prête des serments, dicte des lois sublimes,
    Terrasse les méchants, relève les victimes,
    Et sous le firmament comme un dais suspendu
    S'enivre des splendeurs de sa propre vertu"

    Reconhece? Não se preocupe, pesquise no google que ele lhe dá logo resposta. Se alguma coisa que Marx não previu de todo foi o intelectual na era da sua reproductibilidade técnica.
    Cumprimentos e até breve

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  17. Uma pequena resposta ao senhor Gil Henriques.

    Bravo pelo touché, no entanto vamos tentar contextualizar essa frase.

    Gostava de apontar que na carta de Engels, aliás no mesmo parágrafo (talvez lhe tenha passado despercebido), está-se a fazer referência à má interpretação de textos Marxistas por alguns intelectuais franceses que se gostam de pronunciar "marxistas".
    Esta interpretação falaciosa dos seus escritos levou a que Marx proferisse IRONICAMENTE essa bela pérola que, totalmente desprovida de contexto, pode ser usada em qualquer festa de cocktail.
    A árvore isolada, pouca justiça faz da floresta.

    O que se critica não é quem defende ou estuda uma ideologia mas quem não a sabe compreender e tenta imprimir a sua própria agenda no trabalho de outro.

    Não nos esqueçamos com o que é que começa a palavra marx-ismo.

    Cumprimentos

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  18. No meio dessa verborreia e floreados, não disse lá muita coisa de verdadeiramente interessante para o debate. Continuou o seu habitual estilo de quem prefere a converseta inútil ao debate sério de argumentos e refutações.

    Fico triste, por se dedicar a esse tipo de "masturbação escrita" que é só palavreado, como diz o ditado, muita parra e pouca uva.

    Como já lá vão os ditados populares passadistas esses que você deve ser um fã assíduo, tal como os anúncios da aquafresh, vou agora ver se consigo falar a mesma linguagem que você. Já viu, o versátil que tento ser, até o sei imitar no estilo de insulto. Que diga-se de passagem não é muito difícil.

    Continuando sintonizado neste tom, que parece ser o único que o fascina e que assimila melhor, pois tudo o que envolve argumentos e refutações, é difícil, pois envolve "estudo" e não está nas revistas cor-de-rosa. Que chatice. Deveria pedir que pusessem uma secção de filosofia ao lado do sudoku, se calhar assim o seu estilo de linguagem e conversa mudava.

    Digo-lhe que é pena não gostar de debater conteúdos e preferir a ridicularização simplista. Se quiser debater ciêntificamente aqui estou, se quiser continuar a converseta de fés e religiosidades embrenhadas em insultos pessoais, só lhe posso dizer uma coisa. Dedique mais tempo à flauta, que isto é tempo inútil.

    É sempre bom tê-lo por estas bandas, é sempre uma boa fonte de treino para o pseudo-insulto pessoal de que é tão adepto, já conseguindo angariar um, mas só nos tempos livres. Mas compreendo que não será bastante prazeroso para si ter uma converseta com alguém que ainda só está aprender essa linguagem, e é simplesmente um amador.

    Enquanto a isto:

    "Bom, eu gosto de pensar em Marx como um filósofo do seu tempo, você ainda parece um pouco aborrecido que ele não fosse oráculo para ver no futuro."

    Você bem disse que "estudar é difícil" no seu caso deve ser bastante.
    Porque interpretar não é o seu forte.

    Enquanto às perguntas que disse que me ia colocar, não identifiquei nenhuma que valesse realmente a pena, sem ser na onda do "mecherico", que deve ser uma prática sua conhecida, a par da flauta é claro.

    Vê, também sei falar na mesma linguagem que você. Que parece ser a única que entende a par das "revistas cor-de-rosa", que parece nutrir tanto fascínio.

    "o pequeno filho-da-puta
    é sempre
    um pequeno filho-da-puta;
    mas não há filho-da-puta,
    por pequeno que seja,
    que não tenha
    a sua própria
    grandeza"

    Reconhece?

    Cumprimentos, e não se esqueça dos comprimidos.
    Um antes de deitar e outro depois do almoço.

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  19. A unica questão que abordou de algum interesse é a questão de reprodutibilidade técnica.
    A única coisa que disse de interessante abordo neste segundo comentário que evitei colar no primeiro por ser sintonizado numa linguagem mais séria, talvez uma que não esteja habituado.

    A reprodutibilidade técnica não é necessariamente uma reprodução/produção a "custo zero". Mas toda a reprodução/produção a custo zero brota da reprodutibilidade técnica.
    Nem toda a reprodutibilidade técnica é de custo zero. Para impedir a "reprodutibilidade técnica a custo zero" é que foram criadas os direitos de propriedade intelectual e industrial, que impõe uma escassez artificial a bens que poderiam ser reproduzidos a custos mínimos tornando-se assim abundante e nada lucrativos para as empresas que os exploram. Mas o alvo destes direitos, ou, destas restrições, não são feitas propriamente à reprodutibilidade técnica, em si, mas à produção/reprodução de custo zero.

    Este assunto da produção/reprodução a custo zero parece um detalhe no tecido produtivo actual, mas é um novo paradigma que Marx não aborda nos seus escritos por condicionantes temporais. Hoje este paradigma é essencial e estruturante para o conhecimento da economia e da produção existentes. Daí os escritos de Marx terem de ser secundarizados, pois é preciso produção teórica nova e nova análise que enfrente estes novos desafios.

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  20. Daí a diferença de abordagens dos escritos de Marx e do próprio Marxismo. Vamos identificar algumas delas. Por uma lado temos:

    A Abordagem Actualisto-Historicista do Marxismo:

    Que se caracteriza por interpretar os escritos de Marx e dos "santos marxistas" à luz do conhecimento e métodos de análise novos, tendo em vista o vislumbramento de respostas perante os novos desafios da actualidade vindas desses mesmos escritos.

    Abordagem Progressista e secundarizante do Marxismo:

    É uma abordagem que parte dos escritos de Marx e de outros autores não-marxistas, com o intuito de actualizar os métodos de análise e de acumular mais conhecimento novo vindos de outras áreas que não sejam propriamente marxistas, mas que sejam essenciais para o conhecimento do mundo moderno, secundarizando os escritos de Marx e não extraindo respostas para o mundo actual vindas só desses escritos e dos santos padroeiros. É uma abordagem mais virada para o progresso da análise que para o aprisionamento a dogmas marxistas ou tentativa de os colmatar à luz do conhecimento actual.

    Abordagem Marxista Ortodoxa:

    É uma abordagem do Marxismo como se este fosse uma ciência, e que todas as respostas para o mundo actual estão em Marx e nos Santos Padroeiros, e que a actualização e progresso dos métodos de análise são desvios pequeno-burgueses ou sociais-democratas. O que é importante é voltar à velha teoria e deixar de aventuras.

    Abordagem Heterodoxa do Marxismo:

    Aborda o Marxismo complementando-o com o conhecimento e métodos de análise novos, deslumbra falhas na análise marxista antiga, mas continua a usar os escritos de Karl Marx e dos Santos Pdroeiros como estruturantes da sua análise política/económica/social e ect.
    Esta é uma abordagem menos dogmática do Marxismo, mas que peca por não ser demasiado inclusiva. De entre a abordagem Ortodoxa e Actualisto-Historicista é a que tem mais mérito.
    Um exemplo de um autor com este tipo de abordagem é Toni Negri.

    De todas estas abordagens diferentes do Marxismo que classifiquei, eu defendo uma abordagem mais "Progressista e Secundarizante do Marxismo", por achar este tipo de abordagem mais inclusiva de análises vindas de sectores não-marxistas em exponencial progresso e de absorver métodos de análise novos e conhecimento novo. Além de ter uma atitude menos dogmática em relação ao Marxismo, tem uma atitude mais convergente da esquerda e menos sectária.

    Daí o meu texto "Marx, Trotsky, Lenine e outros santos padroeiros" que é um texto de apologia ao progresso de combate aos dogmas e de "dessacralização" da análise marxista, numa linguagem acessível a todos, pretende ser um agente corrosivo para contra os "reaccionários marxistas".

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