sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Trocar ideais por votos


Nos livros O Príncipe e Discursos, Niccolò Machiavelli discutiu o tema da religião, lembrando, no espírito de realpolitik calculista que caracteriza a sua filosofia pragmática, que a mesma tem um papel central na formação de autoridade política, sendo um excelente instrumento para manter o poder político. Que o digam a dinastia Bush e o GOP («Deus disse-me para invadir o Iraque», não foi essa a «justificação» dada ao povo americano para aquela campanha militar?), por exemplo.

Nestas eleições brasileiras, Dilma Rousseff parece estar a tirar partido das lições políticas do passado, como relata o Correio da Manhã:

«A candidata governamental à presidência, Dilma Rousseff, que se mostrou sempre distante da religião, vai tentar hoje, último dia de campanha na rádio e televisão, convencer os eleitores de que é religiosa e que o voto nela é a maior garantia da preservação da liberdade religiosa no Brasil.

De olho no imenso eleitorado católico e evangélico, Dilma assegurará ainda ser contra o aborto e o casamento entre homossexuais.

(…) Marina Silva, que apesar de evangélica defende um plebiscito para a questão do aborto, atacou de imediato a sua rival. “A ministra Dilma mudou de ideia por conveniência eleitoral. Num caso desta importância, não se pode dizer uma coisa e depois outra”, afirmou a candidata do Partido Verde.»

3 comentários:

  1. não sei até que ponto as coisas serão tão lineares assim, não sei até que ponto a forma trivial como tudo isso é explicado pelo correio da manhã não tem nada a ver com HEY o correio da manhã ser o correio da manhã, a coisa mais sencionalista que há de jornal neste país.. nada contra o post, apenas quanto à integridade da notícia do jornal.
    De acordo com o Público, que Dilma apoiasse a legalizaçao do aborto, era um boato. Ainda assim, segundo o público, tambem, ela falou em 2007 de mudanças na lei. Não é que seja bom não apoiar a legalizaçao do aborto, mas a questão já nao pode ser posta como "conveniencia eleitoral".
    Eu diria que a citação de Marina, que se aproveita de uma polémica criada, tanto quanto sabemos, com base em suposiçoes, essa sim poderá ser oportunista, já que esta é Evangélica.
    Passo a citar, então:

    "O provável é que Marina fique neutra, mas o PSDB vai fazer um esforço para a ter." Mais que o PT, acha Merval (jornalista brasileiro). "Muita gente saiu da Dilma para a Marina por causa do [rumor de que Dilma apoiaria a legalização do] aborto. E esse grupo não volta para a Dilma."

    "Mas a quebra mais recente terá a ver com o aborto, que não é legal no Brasil. Em 2007, Dilma falou em mudanças na lei. Agora, páginas na Internet mostraram-na como uma defensora da prática de aborto. Para conter o clamor religioso, ela veio dizer que era contra a prática e não tomaria iniciativas para a legalizar."

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  2. ...reparo que a citação que tu próprio usaste diz: "Para conter o clamor religioso, ela veio dizer que era contra a prática [do aborto]". Parece-me, sim, bastante linear.

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  3. é linear que ela é contra o aborto. não é linear que não o tenha sido e de repente volte a ser de forma oportunista como é apresentado pelo correio da manhã. lê o que escrevo "Não é que seja bom não apoiar a legalizaçao do aborto, mas a questão já nao pode ser posta como "conveniencia eleitoral"." Sim, ela afirma-se contra o aborto, mas não, não é assim tão obvio que isso tenha sido uma posição tomada exclusivamente para as eleições. é este ponto que eu foco, nada mais.

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