sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A beleza empacotada e capitalizada - Parte I: A Indústria dos Esqueletos


Morreu, no passado dia 17 de Novembro de 2010, a modelo e actriz francesa anoréctica Isabelle Caro. A notícia foi apenas divulgada dia 29 de Dezembro, pelos média. Recordemos que esta modelo aceitou ser fotografada nua para o polémico fotógrafo Oliviero Toscani na Campanha "No Anorexia" pela Benetton. A Campanha tinha como objectivo alertar @s jovens adolescentes e a Indústria da Moda para os efeitos negativos deste distúrbio alimentar (as fotografias da campanha estão à esquerda do texto). Segundo consta, a modelo morreu de complicações associadas a pneumonia.
( http://www.euronews.net/newswires/664045-french-no-anorexia-model-dies-at-age-of-28/ , http://www.youtube.com/watch?v=D9jHlBoAMyU&feature=channel )

Após a publicação destas fotografias, muitas acções se multiplicaram, aqui e ali. Algumas vozes fingiram gritos de preocupação. Gritos associados a uma súbita "descoberta" do número de pessoas com estes distúrbios alimentares (de entre os quais se inclui a bulimia). "Descoberta" esta há muito feita por psicólogos e cientistas. Na verdade, não era preciso uma grande inteligência ou perspicácia para o perceber. Também por volta desta altura, houve a divulgação e exploração mediática de casos de mortes causadas por complicações graves de sintomas do distúrbio alimentar, nomeadamente a da modelo brasileira Ana Carolina Reston que morreu, em 2006, de complicações associadas à anorexia, pesava 40 quilos e media 1.74 metros.

Enquanto tudo isso se passava, cresciam várias comunidades online, ligados ao “grupo” ANA. Este "grupo" vê a anorexia como mais um estilo de vida e personifica a anorexia como uma amiga: a ANA. Essas comunidades dão, na sua generalidade, diversos conselhos sobre como perder peso e atingir o objectivo de magreza mais rapidamente. ( http://www.youtube.com/watch?v=uB1dsmTGFbI )

Evidenciou-se toda a preocupação por parte dos média internacionais sobre o assunto, recorreu-se a entrevistas, reportagens, peritos. Perante esta novidade, o Governo Francês e o Brasileiro (segundo pesquisei, os únicos) decidem tomar uma posição e acção política. Foi então instaurada a lei do punimento de comportamentos que incitem à anorexia ou bulimia, que poderia ir desde uma multa de 30.000 euros a 2 anos de prisão.( http://diganaoaerotizacaoinfantil.wordpress.com/2008/04/15/bons-exemplos-franca-vota-lei-para-punir-incitacao-a-anorexia/ ) Por outro lado, estipulou-se que as modelos exageradamente magras seriam excluídas das passerelles (ninguém se preocupou em fornecer ajuda psicológica a todas, caso fosse necessário). Duas leis que nem feriram de raspão o problema. Coincidência?
De qualquer forma, ambas as leis foram muito aclamadas e aplaudidas "afinal eles até se preocupam com os nossos assuntos", pensou o sempre naîve Zé Povinho.
Em Portugal realizaram-se tímidas medidas de combate ao conceito de "magreza como forma única de beleza", por parte de independentes da Indústria.

O Governo demonstrou interesse, o Povo escutou e aplaudiu. Tudo feliz e contente, parecia que finalmente este assunto tinha sido resolvido de vez e as mortes das jovens tinham sido "vingadas". Muito bem. Os média pararam de incidir e explorar freneticamente o assunto, estava tudo resolvido. Foram brincar com outro brinquedo como seria de esperar de uma criança a quem lhe vão tirando brinquedos sucessivos por ser proibida a sua descoberta. Afinal, argumento que foi aplaudido por muitos, tanta informação só faria com que as jovens desejassem com maior fervor atingir o extremo de magreza.

Por fim, o brinquedo foi deitado para o lixo, ou melhor dizendo, foi guardado na prateleira dos adultos. Depressa entendi que o drama não tinha parado, mas tinha sido antes convenientemente abafado para bem da imagem Governamental e da Indústria da Moda. Coitados que nada poderiam fazer, pois o mal estaria sempre nas adolescentes confusas e perturbadas. "Só necessitam de ajuda psicológica, pois já cortámos com as causas associadas à pressão social."

Mais um passo generoso por parte desta Indústria devoradora de saúde, tal como é a Indústria da Dança e todas as que se preocupem com um conceito fabricado de beleza física-magreza. Muito aplaudido e até com direito a presença no programa "Oprah", gurus que sempre se preocuparam com a imagem "bonita" do magro, assim como em incentivar a anorexia, ousaram organizar desfiles para mulheres "gordas" [com números correspondentes ao 38]. Um dos casos mais marcantes é o facto da actual "Fashion Week", em Paris, incluir números "grandes". Que boa esta caridadezinha por parte dos sistemas Capitalistas! Pelos vistos, estas Multinacionais não magoam ninguém e fazem tudo ao seu alcance pelas pessoas.

Maus maus, piores que os gurus, são os que ainda criticam. Deitam abaixo uma criança que está a aprender erradamente os primeiros passos. Não sejamos tão hipócritas, naîves e esquecidos quanto estes todos. Desde então, fizeram-se críticas satisfatoriamente claras a este sistema pré-fabricado. ( http://www.movimentorevolucionario.org/artigos/anorexia.html ). Estava encontrada a raíz principal e a sua relação com as falhas de um sistema arruinado.

Antes de mais, explicitaremos o peso da intervenção da pressão social na raiz dos distúrbios alimentares:

Para os que não são entendidos na matéria, a anorexia é “uma disfunção alimentar, caracterizada por uma rígida e insuficiente dieta alimentar (caracterizando em baixo peso corporal) e stress físico. (…) A anorexia nervosa é uma doença complexa, envolvendo componentes psicológicos, fisiológicos e sociais.” e a bulimia é “ uma disfunção alimentar. Cerca de 90% dos casos ocorre em mulheres. A pessoa bulímica, de acordo com os critérios diagnósticos do CID 10, tende a apresentar períodos em que se alimenta em excesso, muito mais do que a maioria das pessoas se conseguiriam alimentar num determinado espaço de tempo, seguidos pelo sentimento de culpa e tentativas para evitar o ganho de peso com jejuns, exercícios, vómitos auto-induzidos, laxantes, diuréticos e/ou enemas.”

Definições à parte, não erremos ao julgar que as causas destes distúrbios são somente devidas à pressão social do conceito de beleza, à criação de modelos errados para jovens adolescentes, à discriminação e à constante exclusão de pessoas com formas corporais diferentes das estipuladas pela sociedade. Existem variados motivos, os quais não enunciarei aqui, mas deixarei dois sites com um resumo de alguns (http://en.wikipedia.org/wiki/Anorexia_nervosa , http://en.wikipedia.org/wiki/Bulimia_nervosa ). Não obstante, não podemos ignorar o elevado peso, especialmente num(a) jovem que ainda está a responder à pergunta "Quem sou eu?", da imposição de modelos de beleza (que em certos pontos até contradizem os conceitos biológicos e adaptativos da mesma) e do sentimento de impotência, frustração, exclusão e aumento da falta de auto-estima. Tudo isto pode levar ao trauma de um indivíduo em crescimento.

Deste modo, não seria de esperar que a anorexia de Isabelle Caro fosse fruto de apenas uma causa. Segundo relatou, duas são claras: a pressão e ansiedade criadas pela mãe e a imposição do modelo de beleza feminino fomentado pela Indústria da Moda. Ao longo do tempo, os motivos continuaram a ser os mesmos, mas o valor das implicações foram alteradas ao longo das entrevistas e do crescimento da mediatização sobre o assunto. Misteriosamente, o argumento inicial com maior influência para o desenvolvimento da doença (o modelo de beleza) foi diminuindo de importância e o problema familiar tornou-se mais popular. Curiosa conveniência? Pois bem. (http://www.youtube.com/watch?v=D9jHlBoAMyU&feature=channel - CBS: entrevista em que a modelo fala sobre as causas da sua doença)

Este problema não é exclusivo do mundo feminino. Embora com menor incidência, a Indústria da Moda também estabelece pressão sobre a beleza masculina, estando a aumentar o número de casos observados em homens e fomentando a obsessão pela imagem, tendo por base o mesmo motivo.

Acalmemos as massas. Não é caso único. Outra Indústria do Esqueleto é a da Dança, que sempre exigiu um modelo do esbelto e magro como modelo ideal. Levando à magreza extrema como é o caso de Ana Lacerda (fotografada à esquerda) que, mesmo assim, continua a ter uma posição chave na Companhia Nacional de Bailado. Contraditoriamente, a pressão realizada em bailarinos/dançarinos masculinos é muito menor. A procura de uma mesma profissão para tão pouco investimento dá no que dá.

A notícia passou de boca em boca: desde séries a novelas, programas a anúncios, tudo bate no mesmo. The Biggest Loser, Family Fat Surgeon, Morangos com Açúcar são exemplos. Hoje em dia, quem não incita a este modelo de beleza tem um negócio praticamente arruinado. Parece ser tudo o que o cidadão comum deseja.

Actualmente, duvido que alguém se sinta isento da pressão criada para preencher esta caixinha que não nos cabe.
Essa pressão não está em passerelles, palcos, mas no nosso dia-a-dia, afectando as nossas relações e auto-estima. Quantos de nós não olharam para uma gordurinha como algo negativo? Quantos de nós se sente realmente bem com a sua imagem?

Mas quem nos traz essa visão e qual o interesse nisso?

Ao reduzir os números produzidos, quanto menos tecido for utilizado (menos recursos), e ao criar este desejo louco por um número/figura/ideia, maior compra desses produtos haverá, maior lucro. O desejo tornou-se parte de nós que, levando “pancada” diária e constantes lavagens cerebrais com anúncios, o desejamos mais do que o próprio desejo que realmente sentimos. Tudo por imposição social. Uma evidente técnica capitalista com consequências gravosas.

Após este breve achego à situação actual, inicio a minha crítica política, social e activista. Não estou aqui para fazer mais textos reflexivos, já muito se falou e pouco se fez.

A alternativa será a criação de todo o tipo de tamanhos, sem imposição, mas aceitação da realidade como ela é: variada. Demonstrar um "leque de opções", sem os objectificar nem massificar, mas personalizar. Não se exclui as pessoas naturalmente magras, mas incluem-se as mesmas num leque maior. A criação de pequenas indústrias mas com sucesso, que se importam com o bem-estar e não só com o lucro. A incentivação da personalidade e beleza de cada um. A destruição do modelo único de manequim, que em nada corresponde à realidade. Diminuição da pressão social nos média. Penalização das empresas capitalistas que fomentam esta repressão. Disto todos sabem e falam, mas ataques certeiros e activistas ninguém os faz.

A Associação dos Familiares e Amigos dos Anorécticos e Bulímicos (AFAAB) ( http://afaab.org/index.php?secid=5 ) tem feito muito trabalho, mas não consegue ter uma acção activista e política forte e clara o suficiente para enfrentar "os grandes", até porque não é este o seu objectivo principal.

Por outro lado, não têm existido movimentos, medidas ou decisões políticas concretas, arrebatadoras e capazes de enfrentar quem quer que seja sobre o assunto. Muito se faz sobre Multinacionais, mas não neste tópico. Nem da esquerda.

Rejeito medidas ineficazes como as tomadas pelo Governo Francês, mas medidas anti-capitalista, “pró-personalidade própria” e capazes de fomentar a valorização do direito à diferença seriam certamente valorizadas.

Assim como os especuladores, os fraudulentos e os mercados financeiros não são um conceito abstracto e têm nomes, culpa e vergonha escritas na cara, a criadora destes conceitos irreais são Multinacionais e Companhias reais.
Para uma pessoa de classe média e cliente habitual de Centros Comerciais, estes nomes são comuns: Bershka, Pimkie, C&A ( não tanto mas também), Stradivarius, Triumph, Women’Secret, Pull and Bear (não tanto na secção masculina), Gant, anúncios a perfumes, entre muitos, muitos outros. Basta um dia de compras para nos apercebermos deste facto. Na Dança: o Conservatório Nacional, Companhia Nacional, entre quase todas as Companhias e Conservatórios existentes.
Enquanto o segundo grupo pode ser um ataque polémico quanto à organização da própria arte, que pode ter imensas implicações e levantar mais questões que a ajudar à concretização de objectivos activistas, o primeiro grupo afecta-nos intimamente, é de "fácil" compreensão e resolução e é claramente o maior responsável desta perversão de conceitos.

Temos contra quem nos virar, alvos reais, palpáveis e presentes, não fazemos porque não o desejamos. Talvez porque são grandes demais. Mas nada é grande demais para levar com a responsabilidade do que fazem.
Uma decisão política não chega, mas ajuda. Uma nacional e outra, essencialmente, internacional.

Isto afecta-nos mais do que julgamos. Destrói-nos a personalidade, tal como um bully destrói a das vitimas num bullying constante e masoquista. O Miguel apelidou os portugueses de masoquistas, eu direi que é um problema além-fronteiras. Somos ovelhas reprimidas, homossexuais em tentativa de tratamento de reconversão.

Afinal, o Capitalismo louco é para ser combatido em todas as suas vertentes ou só em algumas?

A notícia desastrosa da morte da modelo foi apenas um pretexto para relembrar a relutância social e partidária em mudar estes conceitos, a custo de vidas e da felicidade dos próprios. Como sempre, temos a noção que somos nós que temos tudo errado, o sistema sabe sempre mais que os próprios. Este é um balanço altamente negativo, feito ao longo de 7 anos, que revela o desinteresse no assunto e a falta de coragem que por aí anda.

Na minha opinião, todas as tentativa com vista à mudança real falharam. É preciso atacar o coração e não só braço, se quisermos realmente matar o mal. Um ataque certeiro e feroz.

Para quando a nossa vida? Continuamos a fingir desejar esqueletos, mesmo que não os desejemos? Continuamos a vender-nos a qualquer preço? A fechar os olhos? A ignorar a importância do assunto? A sermos iguais num sistema que nos quer igual? A fazer tudo por aceitação? Ou está na altura da revolta?!

Caros leitores, as reais porcas da Indústria dos esqueletos somos nós próprios.

Catarina.

[A continuação da crítica à Indústria da Moda continua no post seguinte]


Alguns dos artigos consultados:

http://en.wikipedia.org/wiki/Beauty
http://www.euronews.net/newswires/664045-french-no-anorexia-model-dies-at-age-of-28/
http://www.youtube.com/watch?v=aTIjRxT_Y9g
http://www.youtube.com/watch?v=D9jHlBoAMyU&feature=channel
http://www.youtube.com/watch?v=uB1dsmTGFbI
http://diganaoaerotizacaoinfantil.wordpress.com/2008/04/15/bons-exemplos-franca-vota-lei-para-punir-incitacao-a-anorexia/
http://www.movimentorevolucionario.org/artigos/anorexia.html [20/04/2008]
http://en.wikipedia.org/wiki/Bulimia
http://en.wikipedia.org/wiki/Anorexia_nervosa
http://en.wikipedia.org/wiki/Anti-fat_bias
http://en.wikipedia.org/wiki/Fasting_girls
http://br.noticias.yahoo.com/s/29122010/11/saude-anorexia-morte-modelo-reaviva-alerta.html
"Anorexia e Bulimia" de Isabel do Carmo.

10 comentários:

  1. texto imaturo, presunçoso e estúpido.. culpar o capitalismo pelos comportamentos das pessoas é tão primário que dá vontade de rir. O capitalismo torna-se o bicho papão dos "activistas" prontos a criar leis que ajudem a termos uma sociedade melhor. A cada lei, uma melhoria na nossa vida.

    Sugiro depois do ataque à industria da moda, o ataque à industria da música, em especial de certos géneros como o black metal por ex, que causam insociabilidade nos jovens e contribuem para a depressão e para o isolamento, podendo em ultimo caso levar ao suicídio.

    Vamos também proibir musicas como a Fiona Apple que contribuem para a propagação da anorexia!

    Vamos também destruir qualquer industria musical capitalista que contribuía para a auto degradação através do abuso de drogas e que resulta na morte de milhares de pessoas todos os anos. Estou-me a lembrar dos ramones, dos beach boys, dos beatles, dos pink floyd, dos led zeppelin e tantos outros.

    Vamos revoltar-nos contra os capitalistas da industria musical! Força camaradas!

    Ah catarina, pode ver já agora as marcas que usa? veja lá se não tem nenhuma mango, ou pepe jeans, levis, hm, ou nenhuma dessas marcas propagadoras do mal no mundo que utilize modelos magras nas suas campanhas publicitárias... não estou a querer insinuar nada, só curiosidade...

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  2. Caro Anónim@,

    Primeiro que tudo, quem quer que se preze na escrita de um comentário tem em conta a generalidade do texto, o texto todo e a leitura dos links a si relacionados, bem como estar ciente da matéria que está a ser tratada. Por outro lado, tem de ter o cuidado de utilizar mais argumentos e menos ofensas gratuidas. Mas nada disto vale a pena discutir, pois nada tem a ver com o post.
    Passemos ao teu suposto argumento:

    1) O capitalismo nada tem a ver com "os comportamentos das pessoas"
    2) Esses "comportamentos" estão tão relacionado com a Indústria da Moda, tal como a Indústria da Música (Rock N' Roll) está relacionada com os problemas de drogas, etc.

    "Sociocultural studies have highlighted the role of cultural factors, such as the promotion of thinness as the ideal female form in Western industrialized nations, particularly through the media.[76] A recent epidemiological study of 989,871 Swedish residents indicated that gender, ethnicity and socio-economic status were large influences on the chance of developing anorexia, with those with non-European parents among the least likely to be diagnosed with the condition, and those in wealthy, white families being most at risk.[77] People in professions where there is a particular social pressure to be thin (such as models and dancers) were much more likely to develop anorexia during the course of their career,[78] and further research has suggested that those with anorexia have much higher contact with cultural sources that promote weight-loss."

    Está hoje cientificamente provado, através de estudos feitos por disciplinas como sociologia e da psicologia social, a forte ligação entre a pressão dos média, do conceito de magreza como sendo uma das principais causas de Anorexia. Nomeadamente, a pressão por parte da Indústria da Moda. Durante o desenvolvimento de um adolescente, este tenta procurar o seu modelo. Graças à pressão social feita pelos média, essencialmente anúncios comerciais. O adolescente forma uma imagem negativa de si própri@ com base em conceitos de modelo de beleza. Onde estão esses modelos [de magreza]? Nas Indústrias da Moda, desde os números que apresentam, às manequins. Isto são os modelos irreais fundamentados pela pressão social que nos são apresentados diariamente.Sem eles, haveria uma menor probabilidade do avanço destes distúrbios. Não há como negar isto.

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  3. Também não há como negar que o sistema Capitalista nesta Indústria está intimamente ligado à conveniente propagação deste modelo. Ou então ofereceriam todos os números e os modelos de beleza seriam variadíssimos.
    Se o objectivo é a obtenção de maior lucro, acho que realmente a utilização de mais recursos [no fabrico de números maiores] faria com que o obtessem. Basta ver que em lojas regionais não existe tanto esta escassez. Não sejamos hipócritas, camarada.

    2) Fizeste uma enorme confusão entre "comportamentos" e distúrbios alimentares. Outra confusão é a entre alguém que vê como único modelo de beleza o do magro e o de alguém que se identifica com outro. No primeiro trata-se de um conjunto de imagens (de magreza) que o jovem associa ao ideal, não uma única pessoa que ele vê como seu ídolo. A primeira pressupõe a criação de pressão social, enquanto a segunda se trata de idolatração. São assuntos distintos. A segunda é particularizada e digamos que não há anúncios em todo o lado com drogas e pessoas a cortarem-se nos média a toda a hora.
    Deixo a definição de pressão social.
    "PRESSÃO SOCIAL. Conjunto das influências que se exerce sobre os indivíduos ou grupos com o propósito de modificar a sua conduta, para conseguir certos objectivos claramente definidos. Com um sentido mais restrito, entende-se que é uma forma de opinião pública (veja OPINIÃO PÚBLICA), cujo peso se faz valer com frequência perante os funcionários públicos ou os corpos legislativos, para levar a cabo determinadas acções a respeito de problemas sociais (veja PROBLEMAS SOCIAIS) concretos (Watson)." http://www.prof2000.pt/users/dicsoc/soc_p.html

    nem percebi bem sequer quais eram as tuas dúvidas.

    Sabes que existe mundo sem empresas famintas por lucro sem olhar para as pessoas, certo? Ou até com cabelo como a publicidade andas? Ataques sem fundo intelectual não são bem vindos numa discussão. Pelo menos introduz argumentos.

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  4. Cara cat, primeiro de tudo não fiz nenhum ataque, acalme-se lá...

    na sua resposta escreveu muito, acrescentou pouco, e não percebeu o verdadeiro ponto da questão. Toda a gente sabe que a moda e os media propagam uma imagem de beleza associada à magreza excessiva e que isso influencia os casos de anorexia. E não é preciso estudos cientificos para perceber uma coisa do senso comum. Podia ter citado o zé da esquina que era a mesma coisa.
    Se diz que a anorexia é somente um distúrbio alimentar que nada tem a ver com comportamentos, então para isso não tenho argumentos. Mas não é, e a Cat sabe isso se não estaria a ter esse discurso.

    E já agora muitas vezes a anorexia não está associada a casos de idolatração? Tal como está associada a questões de obsessão, por exemplo. Existe na grande parte das vezes um pressuposto que vai facilitar o desenvolvimento desse disturbio. E claro que os media ajudam nisso.

    Mas a questão não era essa.

    Uma coisa é a crítica livre dos media e da moda pelo uso dessas imagens, tal como as pessoas criticam a música pela propagação de certas ideias, outra coisa é querer que essas influencias sejam detidas por uma via legal, criando regulações e imposições que é o parece ser o caso do seu texto, e que eu sou completamente contra. Em ultimo caso é uma questão de liberdade que está em discussão. Se uma industria de moda quer fazer uma campanha exaltando a magreza extrema pode fazer, quer eu concorde ou não, quer tenha consequências más quer não tenha. O seu texto apesar das excelentes intenções contém nele uma pitada de autoritarismo e de controlo sobre a liberdade, muito próprio destes grupos activistas...

    E culpar o capitalismo por isso continua a ser estúpido e primário...

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  5. "primeiro de tudo não fiz nenhum ataque, acalme-se lá..."

    Calminha de volta, muita mesmo. Tanto paternalismo desse lado.

    "Toda a gente sabe que a moda e os media propagam uma imagem de beleza associada à magreza excessiva e que isso influencia os casos de anorexia. E não é preciso estudos cientificos para perceber uma coisa do senso comum. Podia ter citado o zé da esquina que era a mesma coisa."

    Não era a mesma coisa. A sua influencia tem de estar demonstrada, senão o argumento é falso.
    Talvez não tenha entendido o ponto porque no meio de tantos adjectivos prejurativos não houve grande explicação do argumento utilizado.

    "Se diz que a anorexia é somente um distúrbio alimentar que nada tem a ver com comportamentos, então para isso não tenho argumentos. Mas não é, e a Cat sabe isso se não estaria a ter esse discurso."

    De novo, confusão de conceitos. A anorexia não é um comportamento. Um comportamento é uma conduta, um conjunto de acções. Por exemplo, não comer é um comportamento. Por outro lado, anorexia é um conjunto de sintomas que têm causa e é patológico ( http://virtualpsy.locaweb.com.br/dsm_janela.php?cod=11 ). Não é a mesma coisa que comportamento.

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  6. "E já agora muitas vezes a anorexia não está associada a casos de idolatração? Tal como está associada a questões de obsessão, por exemplo. Existe na grande parte das vezes um pressuposto que vai facilitar o desenvolvimento desse disturbio. E claro que os media ajudam nisso."

    Não modifiquemos os números conforme dá jeito. O impacto do pressuposto, fomentado pelos media, é muito maior do que as questões de obcessão ou idolatração. A probabilidade de a causa com maior impacto ser a desse conceito fabricado é muito maior.
    Tem causas, cujo impacto pode ser diminuido, causando com que a probabilidade de ocorrencia destes distúrbios sejam menores.

    Assim como, se puseres sempre um ar condicionado gelado ao pe da garganta, todo o ano, haverá uma maior probabilidade apanhares uma constipação.

    "Uma coisa é a crítica livre dos media e da moda pelo uso dessas imagens, tal como as pessoas criticam a música pela propagação de certas ideias, outra coisa é querer que essas influencias sejam detidas por uma via legal, criando regulações e imposições que é o parece ser o caso do seu texto, e que eu sou completamente contra. "

    Uma coisa é uma banda que propaga ideias num determinado sentido, outra é as empresas de moda que fomentam um conceito que leva a distúrbios alimentares graves como a anorexia.
    O Estado tem por dever proteger os seus cidadãos. Nesse sentido, tem o dever de ter uma decisão sobre este assunto, no sentido de diminuir as causas culpadas pelo distúrbio grave. Na comparação dada, de desligar o ar condicionado, para não ficarmos pior.

    "Em ultimo caso é uma questão de liberdade que está em discussão. Se uma industria de moda quer fazer uma campanha exaltando a magreza extrema pode fazer, quer eu concorde ou não, quer tenha consequências más quer não tenha. O seu texto apesar das excelentes intenções contém nele uma pitada de autoritarismo e de controlo sobre a liberdade, muito próprio destes grupos activistas..."

    Corrijo: as consequências são desastrosas (a morte não é má) e afectam gravemente a saúde das pessoas.
    Não é uma questão de liberdade, é uma questão de protecção da saúde dos indivíduos. Não estamos a falar em consequências como haver uma nodoa numa camisa, estamos a falar em mortes. Por outro lado, não estamos a falar em medidas que impedem a Indústria da Moda de funcionar, são medidas que, aliás, incentivam uma maior criatividade para um maior espectro de pessoas e até mais emprego, pela necessidade de criação de peças para pessoas com formas de corpo diferentes.
    Segundo o que diz, também uma empresa pode, por exemplo, como consequência da sua procura de lucro, matar um milhão de habitantes que pode fazer, "quer eu concorde ou não, quer tenha consequências más quer não tenha", certo?

    Gostaria de saber a que grupos activistas se refere.

    A questão que aqui se levanta, ou que levantou, é a questão de um "deixar passar" sucessivo de graves ataques e consequências para a vida das pessoas ou a protecção dessas mesmas pessoas e eliminação das consequências negativas pela criação de, no caso que apresentei, uma simples medida.

    Não pinte o quadro num "liberal - autoritário" 8 ou 80. Uma medida não faz um Estado sufocante para as empresas ou para os direitos individuais, se proteger os indivíduos.

    "E culpar o capitalismo por isso continua a ser estúpido e primário... "

    Gosto como pões tantos adjectivos prejurativos na frase e não argumentas.

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  7. Voce tem um problema com a lógica, estou a ver.

    A anorexia é causada por comportamentos das pessoas. Se é em si um comportamento ou não, é mais uma questão semântica que outra coisa. Não sendo um comportamento, não altera nada do que afirmei, porque nunca afirmei que era um comportamento. Apenas afirmei que a anorexia tem a ver com comportamentos (por ex não comer, idolatração, obsessão, etc). não devia apoiar a argumentação na semântica, principalmente quando se tem uma discussão informal.

    "Uma coisa é uma banda que propaga ideias num determinado sentido, outra é as empresas de moda que fomentam um conceito que leva a distúrbios alimentares graves como a anorexia. "

    Eu poderia trocar os termos e a frase ficaria assim:

    Uma coisa é uma empresa que propaga ideias num determinado sentido, outra são as bandas fomentam um conceito que leva a utilização de drogas.

    "O Estado tem por dever proteger os seus cidadãos."

    Acima de tudo os cidadãos têm o direito de estar protegidos do Estado. Os fins não justificam os meios. Por muito boas intenções que tenha, não justifica a retirada de liberdade pelo Estado sobre os indivíduos, nem a regulação e regulamentação da vida das pessoas pelo Estado.

    E todos os grupos activistas têm em si a criação de medidas autoritárias sobre os indivíduos. Grupos feministas, anti tabagistas (também causa a morte), anti álcool, grupo ambientais, anti pornografia, a lista não pára...

    "Segundo o que diz, também uma empresa pode, por exemplo, como consequência da sua procura de lucro, matar um milhão de habitantes que pode fazer, "quer eu concorde ou não, quer tenha consequências más quer não tenha", certo?"

    Se a industria do alcool deixasse de existir eram salvas milhoes de pessoas por ano. Por isso respondendo à sua pergunta demagógica (outra coisa nao seria de esperar)- sim.

    e já agora, pejorativo e não "prejurativos", obsessão e não "obcessão"

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  8. adenda: não são todos os grupos activistas, mas uma parte significativa.

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  9. "outra coisa é querer que essas influencias sejam detidas por uma via legal, criando regulações e imposições que é o parece ser o caso do seu texto, e que eu sou completamente contra."

    (permite entrar nesta discussão que achei interessante.)

    Sou de acordo que exista regulação e imposições à indústria da moda. E isso já existe, em França e no Brasil por exemplo.

    "proíbe a "exibição pública ao vivo ou em vídeo, e na forma de fotografia impressa ou digital" das modelos com IMC abaixo de 18, em todo o país, está prevista a aplicação de multa a promotores de eventos e patrocinadores, agências de modelo, recrutadores e orgãos de comunicação. Os valores variam entre R$ 1.000 e R$ 5 milhões e podem ser dobrados em caso de reincidência."

    Da mesma maneira que sou de a favor da restrição e do controlo de armas, que no Estados Unidos é liberalizado. Da mesma maneira que sou a favor da restrição e multa sobre as indústrias altamente poluentes.

    "A liberdade do homem livre é a opressão dos escravos."

    É engraçado, na tua óptica as grandes indústrias podem influenciar altamente as nossas vidas e as nossas escolhas à vontade como fazem diariamente, o Estado que é democrático já não!

    O Estado somos nós que pagamos impostos e somos cidadãos vinculado juridicamente pela nacionalidade ao Estado português. Não confundir Governo com Estado.

    O Estado português, queiras quer não, tem de prosseguir os objectivos da Justiça, Bem-Estar e Segurança, e garantir os 12 princípios fundamentais do nosso ordenamento jurídico. Pois, isto não sou eu que digo, mas o que a constituição da república constata.

    O Estado como ente minimamente democrático deve regular o mercado, e não deixar que as pessoas sejam transformados em paus mandados e servis obedientes dos senhores da ganância.

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