sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A Imbecilidade do Imperador

O Imperador Palpatine Joseph Ratzinger, mais conhecido pelo nom de guerre de Darth Sidious Bento XVI, não tem, para pôr as coisas de forma suave, um registo histórico brilhante, mesmo para os padrões da profissão que exerce. As suas posições ultraconservadoras e autoritárias, que lhe valeram a liderança da corporação [1] que encabeça (a Igreja Católica Apostólica Romana), asseguraram atrás dele um rasto vergonhoso que inclui, mas não está limitado a:
  • Participação na Juventude Hitleriana [2];
  • Afirmações no sentido de negar a supramencionada participação [3], mais tarde desmentidas por evidências várias, incluindo fotográficas [4];
  • Negação da utilidade da contracepção para prevenir doenças sexualmente transmissíveis, em países africanos com alta taxa de HIV-SIDA e a uma população facilmente influenciável [5];
  • Culpabilizar o ateísmo e a laicidade pelas alterações climáticas [6];
  • Reforço da condenação ao amor livre, à homossexualidade e à interrupção voluntária da gravidez [7];
  • Liderança da Congregação para a Doutrina da Fé (anteriormente conhecida como a Santa Inquisição [8]);
  • Encobrimento bem documentado de casos de abuso sexual a menores por parte da hierarquia da corporação que encabeça, conspirando para proteger os perpetradores [9];
  • Declaração de que a ordenação de mulheres é tão má como o abuso sexual a menores [10];
  • Etc.

Contudo, durante um discurso perante a Rainha de Inglaterra, na visita ao Reino Unido que está a decorrer, o CEO da ICAR (e “monarca absoluto” — usando a definição presente no próprio website do Vaticano [11] — de um “Estado” que não é reconhecido por qualquer lei internacional, tendo sido criado por especial acordo com Mussolini [12]) acrescentou uma nova declaração digna de se acrescentar à lista acima: segundo ele, o ateísmo e o laicismo são directamente responsáveis pelo nazi-fascismo!

«Mesmo no nosso próprio tempo de vida, podemos recordar-nos de como a Grã-Bretanha e os seus líderes enfrentaram uma tirania nazi que pretendia erradicar Deus da sociedade e negava a nossa humanidade comum a muitos, especialmente os judeus, que eram considerados inaptos para viver. Lembro também a atitude do regime contra os pastores cristãos e religiosos que falaram a verdade em amor, se opuseram aos nazis e pagaram por essa oposição com as suas vidas. Enquanto reflectimos sobre as lições aterradoras do extremismo ateísta do século vinte, não nos esqueçamos de como a exclusão de Deus, da religião e da virtude da vida pública conduz, em última análise, a uma visão truncada do homem e da sociedade.» [13]

O Papa — não um qualquer redneck armado no Texas, mas sim o líder da maior facção religiosa do mundo! — responsabilizou o ateísmo, responsabilizou colectivamente uma minoria significativa da população mundial, pelo nazi-fascismo!

E não se ergueu uma sobrancelha, não se levantou uma voz que seja em protesto nos media convencionais. Imagine-se o ultraje que percorreria os meios de comunicação sociais se qualquer outra minoria fosse culpabilizada. Contudo, quando os ateus são culpados por um dos actos mais terríveis a que a História já assistiu, os repórteres e os comentadores nem se dão conta, não mais do que quando o presidente americano recordou, num discurso recente, que os EUA são «uma nação sob Deus» [14].



A quantidade de maneiras em que esta afirmação é
, mais do que errada, profundamente ultrajante é tão grande que se torna difícil decidir por onde começar a objectar. Deverei lembrar a imiscuidade, a cumplicidade, mais, o apoio manifesto do Vaticano ao nazi-fascismo, tanto nas suas vertentes alemãs como italianas, e vice-versa, mutatis mutandis? Deverei recordar que o anti-semitismo nazi é causado directamente por raízes históricas de origem cristã, bastando recordar a Inquisição e os linchamentos populares contra judeus, instigados pela Igreja? Deverei afirmar o óbvio, e apontar que a exclusão de Deus e da religião da vida pública, o secularismo, é um princípio fundamental de qualquer Estado que se afirme democrático? Deverei constatar que um ateu cometer um crime não faz do ateísmo algo de criminoso, mais do que os cristãos que empreenderam as Cruzadas fazem do cristianismo algo de assassino? Deverei apontar o carácter surreal da noção de que são as pessoas irreligiosas do Reino Unido que querem forçar os seus pontos de vista sobre os outros, vinda de um homem cuja organização actua internacionalmente para impor a sua exclusiva forma de moralidade e minar os direitos humanos das mulheres, crianças e homossexuais?

Qualquer uma destas abordagens daria, por si só, para escrever um livro completo. De facto, esta verborreia papal é uma afirmação tão absurdamente estúpida que é difícil encontrar algum padrão de comparação. A hipocrisia religiosa não conhece limites.

Vou abordar esta questão por um ângulo diferente de todos os que mencionei acima. Vou lembrar os leitores de que o alegadamente ateu líder do regime nacional-socialista alemão, Adolf Hitler, proibiu todos os grupos de livres-pensadores e de ateus em 1933 [15]. E vou citar o próprio Hitler, esse exemplo do ateísmo:

«Os meus sentimentos como cristão apontam-me para o meu Senhor e Salvador como um guerreiro. Apontam-me para o homem que outrora, em solidão, rodeado apenas por alguns seguidores, reconheceu naqueles judeus o que eles eram e invocou homens para os combater e que, verdade divina!, foi maior não como um sofredor mas como um guerreiro. Em amor incondicional como um cristão e como um homem li eu a passagem que nos conta como o Senhor enfim se ergueu em todo o Seu poder e afugentou para fora do Templo as crias de víboras e serpentes. Quão terrífica foi a sua luta contra o veneno judeu. Hoje, após dois mil anos, com a mais profunda emoção reconheço mais profundamente do que nunca antes o facto de que foi por isto que Ele teve de espalhar o seu sangue sobre a Cruz. Como um cristão, não tenho nenhum dever de me permitir a mim mesmo ser enganado, mas tenho o dever de ser um guerreiro da verdade e da justiça… E se algo pode demonstrar que estamos a agir correctamente, é a angústia que cresce diariamente. Pois como um cristão, também tenho um dever para com o meu próprio povo. E quanto olho para o meu povo vejo-os trabalhar e trabalhar e labutar e laborar, e no fim da semana apenas têm como salários dejectos e miséria. Quando saio de casa, de manhã, e vejo estes homens nas suas filas e olho para as suas caras exaustas, aí eu acredito que não seria um cristão, mas o próprio diabo, se não sentisse pena deles, se não, como fez o nosso Senhor há dois mil anos, me erguesse contra aqueles por culpa de quem estes pobres de hoje são explorados e expostos.»

— Adolf Hitler, discurso em Munique, 12 de Abril de 1922.

«Assim, nós assumimos a luta contra o movimento ateu, e não apenas com algumas declarações teóricas: nós eliminámo-lo.»

— Adolf Hitler, discurso em Berlim, 24 de Outubro de 1933.

«Escolas laicas não podem alguma vez ser toleradas porque escolas dessas não têm instrução religiosa; uma instrução moral sem fundação religiosa é construída no ar; consequentemente toda a formação do carácter deve ser assente na fé.»

— Adolf Hitler, discurso de 26 de Abril de 1933.

«Imbuídos do desejo de garantir ao povo alemão os grandiosos valores religiosos, morais e culturais enraizados nas duas confissões cristãs, nós abolimos as organizações políticas mas fortalecemos as instituições religiosas.»

— Adolf Hitler, discurso no Reichstag, Berlim, 30 de Janeiro de 1934.

Muitas, muitas outras citações de Hitler que demonstram o seu "ateísmo" e como "o secularismo foi directamente responsável pelo Holocausto" podem ser encontradas na lista compilada por Douglas Theobald [16].


FONTES (consultadas a 17 de Setembro, 2010):

[1] RAMOS, Rosa, em i online: http://www.ionline.pt/conteudo/67593-os-escandalos-do-banco-do-vaticano-igreja-nao-vive-so-ave-marias

[2] Em BBC News: http://www.bbc.co.uk/news/world-europe-11141340

[3] HIDER, James, em The Sunday Times: http://www.timesonline.co.uk/tol/comment/faith/article6274826.ece

[4] Fotografia em http://askmrmilo.com/PopeHitlerYouthv1.jpg

[5] SQUIRES, Nick, em Telegraph: http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/europe/vaticancityandholysee/5005357/Pope-Benedict-XVI-condoms-make-Aids-crisis-worse.html

[6] STONE, Michael, em Examiner: http://www.examiner.com/humanist-in-portland/pope-blames-atheists-for-global-warming

[7] JOHN, Andrew, em Digital Journal: http://www.digitaljournal.com/article/291987

[8] Em The Galileo Project: http://galileo.rice.edu/chr/inquisition.html

[9] FLACCUS, Gillian, em MSNBC: http://www.msnbc.msn.com/id/36325154/39097839

[10] TAYLOR, Jerome, em The Independent: http://www.independent.co.uk/news/world/europe/vatican-female-priests-as-bad-as-paedophiles-2027722.html

[11] Em Vatican City State: http://www.vaticanstate.va/EN/State_and_Government/StateDepartments/index.htm

[12] TOTARO, Paola, em The Age: http://www.theage.com.au/world/treat-vatican-as-a-rogue-state-says-qc-20100908-1518j.html

[13] RATZINGER, Joseph, citado em Guardian: http://www.guardian.co.uk/world/2010/sep/16/pope-speech-faith-uk

[14] OBAMA, Barack, citado em CNN: http://news.blogs.cnn.com/2010/09/10/obama-to-hold-question-and-answer/

[15] CLINE, Austin, em About.com: http://atheism.about.com/od/adolfhitlernazigermany/tp/HitlerNazisAtheismSecularism.htm

[16] HITLER, Adolf, citado por THEOBALD, Douglas, citado por MYERS, Paul Z., em Pharyngula: http://scienceblogs.com/pharyngula/2010/09/list_of_hitler_quotes_in_honor.php

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