segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Analfabeto político, a ideologia, e o Reality Show.


Um miúdo olhou-me nos olhos, e perguntou-me o que era um analfabeto. Espantado com tal pergunta, apontei para um pobre homem que aparecia na Televisão e que dizia que não precisava da política para nada, e que não sabia política nem queria saber. Voltei a ponta do meu dedo para o ecrã onde estava um homem engravatado a falar, e disse ao miúdo, aquele ali é um deles, um analfabeto.

Sabendo que a ignorância, é o melhor instrumento de domínio. Os vários tipos de analfabetismo aprisionam a sociedade e florescem dentro dela, criam um pensamento réplica da ideologia dominante, e reproduzem-no, ganhando este mais adeptos e assim mais acríticos. Cada vez é menor o analfabetismo literário mas maior o político.

Já dizia Bretch, o pior analfabeto é o político. E cada vez há mais este tipo de analfabeto, um que conformado aceita a realidade social por inteiro sem pôr em questão essa realidade, dando-a como imutável e inevitável. O individuo, torna-se frágil e impotente para imaginar outra realidade e para mudar esta. A realidade social é dada como algo estático.

A democracia liberal é aceita como um dogma, como-se fosse a sociedade melhor possível e a sociedade do fim da história.

Todo o Analfabeto político absorve estas ideias e interioriza-as mesmo podendo não ter consciência de que as está a interiorizar. Mas o apelo ao conformismo e à impossibilidade de mudança está lá e floresce no seu pensamento destruindo qualquer crítica social mais profunda.

A política transforma-se em espetáculo, puro marketing e jogos de aparências, a própria é despolitizada e perde o seu conteúdo e interesse. O Analfabeto rende-se às aparências e às ilusões marketeiras de mudança (Obama.) ou aos populismos circences de políticos do espetáculo (Berlusconi.). As palavras perdem significado, os cortes de cabelo e os vestidos é que contam.
O discurso é feito à medida, encomendado, feito como um bolo de casamento.
Os apoiantes tranformam-se em firgurantes, em objectos que quantificam a popularidade do individuo que discursa palavras encomendadas.

O Estado como antigo orgão soberano, perde o seu poder sobre a realidade social e sob a economia (liberalização). Perdendo o seu poder e impotente para mudar a realidade social, a suposta democracia também perde poder, e acaba por ser inútil. Para quê votar na eleição de alguém, se esse alguém nunca teve tão pouco poder sobre a economia e sobre a realidade social?
A resposta será: Para nada mudar.

O intuito é esse, despolitizar para reinar. Tirar poder ao Estado, mas mesmo assim fingir que ele ainda tem poder e que o acto de eleição ainda significa algo, ainda influência, ainda manda soberanamente, para fingir que ainda existe democracia, que os cidadãos ainda tem uma palavra a dizer.

As Democracias Liberais, a pouco e pouco, estão a revelar a sua natureza, uma natureza cínica enquanto ao conceito de democracia, e a sua realidade oligopolística.
O seu maior apoiante e defensor é o Analfabeto político, que sem saber reproduz as suas intenções perpetuando o sistema e a sua ideologia.

Passado uns belos anos, o miúdo, agora adulto, perguntou-me:
Qual é o pior analfabeto?

5 comentários:

  1. Mesmo hoje tentaram dar-me um desses bolinhos pecaminosos ao pequeno-almoço. Ora veja-se:

    Num artigo [que NAO explicitava ser de opiniao] do jornal DESTAK de 28/09/10:

    "BLOCO E PCP CONTRARIAM BLOCO CENTRAL
    Dificilmente BE e PCP poderão alguma vez entender-se com o PS para chegar ao poder, pelo que não tem preocupações de governação. Este facto permite-lhes manter em toda a linha o seu discurso, especialmente num contexto em que o desencanto popular com o momento actual é maior. Face à crise, as alternativas propostas por BE e PCP tenderão a recolher mais apoiantes (como tem acontecido noutros países), pelo que os dois partidos vão tentar aproveitar ao máximo esta crise política"

    Do lado esquerdo deste mesmo artigo lê-se:

    "PSD E CDS TENTAM SER ALTERNATIVA
    Com Passos Coelho como líder, o PSD tem recusado sistematicamente um aumento de imposto. Já cedeu uma vez com a aprovação do PEC, pelo que novo recuo poderia minar definitivamente a credibilidade do partido. Por outro lado, ao insistir que é possível reduzir o défice baixando a despesa, o PSD diferencia-se do PS, tentando convencer a classe média que costuma votar num dos dois partidos do poder. O CDS procura não ceder o seu eleitorado e assumir-se como parceiro do Governo do PSD"

    Acho no mínimo interessante que se considerem estes artigos factuais e não de opinião.

    A meterem-me estes bolos pela boca dentro ainda me torno bulímica.

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  2. E aqueles que não são analfabetos mas nunca fazem perguntas?

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  3. Essa é uma das especiais características do analfabeto político, fazer poucas perguntas ou nenhuma. Não pôr em causa.

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