Pela blogosfera lêem-se artigos de opinião e certos debates sobre este tema, que aliás, já vem dos primórdios do socialismo e que nada, ou pouco, acrescentam à estratégica para transformação social nos últimos tempos.
Cansado de ouvir opiniões onde se diz cegamente estar sempre do lado da revolução em vez do lado da reforma, é por esse mesmo cansaço que aqui e agora arrisco pronunciar-me sobre esse mesmo tema. Primeiro, a palavra revolução é muito vaga, para militantes mais maleaveis poderá significar muita coisa.
É demagógico e pseudo-revolucionário afirmar estar sempre do lado da revolução quando não se sabe em que espaço e tempo é que o processo se vai desenrolar, e quem serão os seus agentes políticos com poder transformador.
Afirmações como estas é que transformam uma certa esquerda dogmática e presa a processos que nem sempre resultam em todo o tempo, espaço e população, inadaptada para criar um real projecto transformador da sociedade.
A mesma que presa a dogmas e preconceitos cita a tal sacra "revolução" como um mito sebastianista, diz se laica mas no final tem é uma forte influência judaico-cristã, que remota para o Salvador e a Terra Prometida, que por sinal parece nunca mais aparecer.
A tal "revolução" tão esperada e quase mitológica deve aparecer num sábado de nevoeiro? talvez num domingo de chuva? parece estar aí à porta da maneira como alguns falam. Mas a realidade é negra para a Esquerda, na Europa e no mundo, a sua posição não é ofensiva, como eu gostaria, a realidade mostra-nos uma Esquerda frágil, que joga à defesa.
Sonhar é bom e até dizem que é terapêutico, mas não muda a realidade. O interessante é analisar outros movimentos que ainda se dizem revolucionários e que usam a palavra revolução já quase com o sentido de " reformas", apesar de não admitirem que o que advogam neste momento é uma estratégia reformista, têm medo de o admitir, pois isso pareceria muito "social-democrata". O que faz constar que o preconceito mesmo em estado de emergência existe para a esquerda, divindindo este bloco defensivo, tornando-o mais frágil, tendo consequências práticas, reais.
Esta clássica dictomia entre reforma e revolução que opõe de um lado uma parte da esquerda contra outra sua congénere é um eixo político que ponho em causa, muito mais o ponho em causa quando a esquerda se encontra num estado de emergência e de recomposição .
Desde sempre este duelo existiu, e desde sempre fragilizou a esquerda, por um lado os radicais do outro os reformistas, mas quem paga as contas no final somos todos nós, as pessoas comuns, as pessoas que trabalham, as pessoas da multidão.
Em termos reais, as últimas revoluções sem ser a tecnológica a dos Zapatas no México e outras pouco expressivas, tiverem efeitos benéficos no panorama global. As revoluções mais significativas como a "Revolução Bolshevik" e a Cubana mancharam o nome do socialismo/comunismo queiramos, quer não. Por outro lado diz-se que a revolução inspira e é libertadora (coisa que não duvido). Mas por outro podem se tornar burocráticas e muito disformes do que se imaginava. O processo revolucionário pelo curto espaço destrói a médio prazo a essência da revolução e tende-se a tornar burocrático(é isso que a maldita história nos ensina), porquê? A concentração de alterações na máquina institucional num curto espaço de tempo feita por uma vanguarda faz com que seja mais difícil à multidão/sociedade civil escrutinar as mudanças e o rumo global, e devido a esta falta de escrutínio dos poderes existe tendência para a formação de uma nova separação, do poder político das pessoas e dos seus interesses, o que leva por vezes o Estados e os seus novos dirigentes que até então eram revolucionários, a tomarem atitudes reformistas com carácter contra-revolucionário para poderem prepétuar o sistema e o seu novo poder. Nos últimos tempos o acto revolucionário tem custado mais caro ao nome do socialismo e ás pessoas que viveram sob esses regimes do que a outras que viveram sob a égide de uma esquerda reformista, como o exemplo do modelo nórdico que tem todo o seu mérito e que foi uma das maiores conquista das esquerdas nos últimos anos (infelizmente este modelo está a ser desmantelado pelas forças selvagens de mercado). Qual é o sistema mais próximo do que se quer e qual das experiências custou menos caro à esquerda e às pessoas, o sistema Soviético de Stalin ou a Suécia de Olof Palme? Qual destes tornou o nome do socialismo mais aceite do ponto de vista do senso comum e humano? E não era ele reformista?
Quero concluir dizendo que na história contemporânea os reformismos de que tanto mal se fala numa certa esquerda, tiveram melhores resultados práticos que muitas experiência revolucionárias, apesar de terem sido pouco sólidos e não terem tido uma continuidade como se desejava, estiveram certamente mais próximo do socialismo que muitos outros. A antagonia entre atitude revolucionária ou reformista não faz sentido para quem quer mudar o real e quer o socialismo, deve-se optar por uma atitude Transformadora, Reformista Revolucionária e anti-dogmática. O processo para atingir o socialismo não deve ser medido pelo tempo mas sim pelas condições que oferece ao cidadão comum, deve ser um processo aberto que em vez de excluir, inclua o melhor dos dois processos. Sou revolucionário quando a multidão assim o quiser até lá não sou religioso mas antes algo pragmático. Uma condição para se ser revolucionário é a multidão, sem ela não há revolução por mais que sonhemos. Uma condição para se ser revolucionário sem ter multidão é a fé. Todo o grande revolucionário depois da revolução é um contra-revolucionário reformista (até ver), todo o reformista acaba por não mudar tão profundamente (até ver).
A reforma e a revolução não são conceitos opostos, mas sim complementares de um processo de transformação democrático e radical.
Até porque a noção de Revolução como a mudança do paradigma social (o seu primeiro significado) é perfeitamente conciliável com o espírito reformista. A dicotomia deveria antes ser posta em termos de reformistas e rupturistas.
ResponderEliminarAté parece que não há reformas que são revolucionárias! :)
fjo
Isso mesmo! é essa noção de oposição que acho não fazer sentido, uma coisa complementa outra!
ResponderEliminarA esse respeito, é de notar a cegueira da ortodoxia marxista-leninista, como por exemplo Lenin que afirma que "sem revolução violenta é impossível substituir o Estado proletário pelo Estado burguês" [1], mas nunca explica em que medida é que uma transformação reformista é impossível. Isto particularmente tendo em conta que ele admite a possibilidade da "transformação da quantidade em qualidade" [1]. Por exemplo, algumas medidas tomadas pela Comuna de Paris, diz ele, possibilitaram que "a democracia, de burguesa, se transformasse em proletária" [1]. Ora, se o simples acumular de medidas revolucionárias (quantidade) pode dar lugar à mudança de paradigma social (qualidade), o Autor cai em contradição ao exigir uma revolução-ruptura violenta como única via conducente ao socialismo.
ResponderEliminarFONTES:
[1] LENIN, Vladimir: "O Estado e a Revolução"