terça-feira, 14 de setembro de 2010

Educação como um processo totalizante.

Educação, uma palavra, com muito poder, mais do que aquele que podemos imaginar.
Educação necessita de estimular e de motivar o educando ao gosto pelo saber, espírito crítico e autonomia, o que não acontece nos dias que correm. Tentar esquematizar os principais "endoutrinadores" de um processo complexo e totalizante: A educação, total, ao serviço do Mercado.


Processo Educativo Totalizante e Destrutivo da consciência política

O que é realmente o processo educativo num mundo globalizado, onde a lógica de mercado submete a vida social, política e económica à sua mercê. Hoje podemos afirmar que vivemos numa sociedade onde tudo é produto, mercantilizado, desde o nosso lápis, passando pelos nossos ténis e acabando no nosso pensamento, educação e diploma. Tudo pode ser comprado, tudo pode ser vendido, tudo tem um preço.

Nas sociedades actuais a educação não deixa de ser instrumentalizada pelas forças de mercado, trazendo à educação uma lógica que não era a sua. Uma lógica que se concentra na formação de consumidores/produtores rentáveis para o mercado em vez de educar cidadãos criativos com espírito crítico e gosto pelo saber. O modelo de extrema competitividade crescente do mercado laboral reflecte-se também nos alunos e na relação entre si, o modo de ver o outro, colega, é encarado cada vez mais como um adversário a ser ganho. Pois não é só no mercado laboral que se luta pela sobrevivência mas essa luta começa a brotar já nos modelos de ensino e nas relações estudantis, tornando estes "individualistas" e alienados da comunidade escolar, e deste modo dos problemas da comunidade, e por sua vez da política.

Ou seja, a competitividade do modelo escolar acaba por contribuir para a despolitização dos jovens muito cedo, por anular-lhes um sentimento de pertença a uma comunidade e uma responsabilidade perante os problemas desta.

Alienados da política, e da comunidade envolvente, os alunos encontram-se isolados perante uma educação totalizante que acaba por os vencer hegemonizando o discurso conformista e de apologia ao consumo desenfreado sobre os jovens.

A comunicação social faz também parte deste processo de educação, se não for o principal "educador" (péssimo educador) dos jovens. Pois maior parte do tempo os jovens são expostos a estimulos e "endoutrinados" por uma comunicação social que na sua maioria tem conteúdos de programação de nível muito baixo, e que na sua generalidade não têm qualquer efeito pedagógico que estimule a dúvida e o espírito crítico. O aluno como agente em crescimento numa fase importante da vida é manipulado e endoutrinado em grande parte por uma comunicação social que despreza a qualidade cultural e a cidadania, e que unicamente preza os ideais do consumo, consumo, consumo.

É esta mesma comunicação social que mostra o mundo pelas televisões e jornais aos jovens desde que nasceram, uma noção do mundo e do país muitas vezes distorcida em relação à realidade.

A comunicação social é um educador que educa os jovens para o consumo e que os endoutrina muito bem, transformando-os num apetecível público alvo do mercado.


Micro-lógicas que anulam a subjectividades e as "Novas Oportunofalsidades"



A escola como instituição começa pouco e pouco a integrar modelos de gestão empresarial, ou seja, modelos anti-democráticos que em vez de valorizarem o espírito crítico, criatividade e saber, valorizam as estatísticas e os "números de sucesso" encapotando o abandono escolar, e pondo os alunos que mais trabalho dão em curso chamados "Novas Oportunidades", que não são mais do que meras "vias rápidas" para obtenção de diplomas de 9º ano, parecidos com os que saem na "farinha amparo" ou no Chocapic, o sistema degrada-se, e além de se degradar, marginaliza de uma maneira mascarada os que não se conseguem adaptar a ele, arrastando-os para cursos com uma qualidade que deixa muito a desejar.

Todo esta educação afecta a visão que se tem do mundo, do outro e da política que acaba por se reproduzir na sociedade.

Um exemplo (simbólico) de uma lógica que anula a subjectividade e o cruzamento de informação tão essencial ao saber:
O hábito educativo de seguir um só livro por disciplina como se fosse um manual incontestado e em que o que está lá escrito não pode ser posto em causa, é um hábito que na sua inerência cria uma habituação do aluno à falta de pluralidade de informação e de espírito crítico, pois este aluno não está habituado a fazer pesquisa, a escolher nem a cruzar-informação. A selecção é pré-feita, a escolha da perspectiva também, e o manual é seguido como uma bíblia em disciplinas que são extremamente subjectivas, levado à letra e incontestável.

Micro-lógicas que eliminam o individuo

Tanto como existe este exemplo, existem muitos outras lógicas que não permitem um educação mais liberta.

Toda esta lógica anuladora do espírito crítico, criatividade e autonomia deve ser posta em causa, e deve ser objecto de reflexão.
O exemplo dos programas pouco flexíveis de educação que são incapazes por vezes de se moldar a certos interesses colectivos, e em aprofundar certos assuntos, que por vezes não estão no programa e que têm todo o interesse de serem abordados, e que não o podem ser devido ao programa inflexível e à pressão do tempo. A ausência de tempo para a auto-aprendizagem e para o saber que está fora dos manuais escolares, horários e programa, a falta de incentivo para práticas que cultivem a autonomia no saber agravam o défice de curiosidade e provocam um superavit de ignorância e conformismo que uma sociedade democrática deve combater.

Outro modelo, outro paradigma é necessário.

Deve se rejeitar esta lógica tal como o modelo de gestão empresarial das escolas por não potenciar a cidadania, esta comunicação social foraz que até as escolas invade com publicidade (da Tmn, como aconteceu na minha escola) e que ensina os jovens a viverem para consumir.

Para defender uma escola pública que centre a sua formação na expansão da cidadania, e na potenciação do individuo enquanto agente integrado numa comunidade democrática.
A escola deve ser um local onde há espaço para o debate, espírito critico, criatividade e participação política. Um que crie identidades que sejam reconhecidas pela comunidade como válidas e benéficas. Impulsione e motive os alunos a querer saber e a não ter que saber só para ter um diploma na mão ( a lei da cenoura à frente do burro) . Uma que dê mais importância no reconhecimento do individuo na comunidade do que ás cameras de vigilâncias ou ás aulas de substituição.

Para defender a cultura e uma comunicação social saudável devem-se criar leis que limitam a concentração de poder na comunicação social, deve-se incentivar à pluralidade informativa através de médias independentes. Limitar o espaço da publicidade na televisão e fora dela e intervir através dos canais públicos de televisão no mercado dos média para exigir padrões e elevar a qualidade dos programas informativos.

Tudo isto seria uma educação de cidadãos para cidadãos, para uma real cidadania democrática radical.
Entender que educação não se resume à escola, mas também à imprensa à família, à moral da sociedade ect.

Educação é um processo que envolve uma complexa teia de ligações que supera a instituição escola, é um processo totalizante que começa num toque de saída da aula, passando por um anúncio publicitário e acabando pela família.


2 comentários:

  1. Excelente crítica à educação homogeneizante e totalizante da nossa sociedade; contudo, não deixa de ser importante destacar que a educação, uma boa educação, é sempre o único verdadeiro caminho para a libertação pessoal.

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  2. muito bom texto miguel. pegar no manual unico e dar-lhe uma cota de responsabilidade pelo carácter doutrinal da educação é um ponto pelo qual nunca pensei pegar.. :)

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