domingo, 26 de setembro de 2010

A proibição do véu integral islâmico em França

Foi no dia 13 de Setembro do presente ano aprovada, em França, a proibição de ter a cara coberta em lugares públicos. Esta lei foi votada, tanto pelo partido do governo, como por esquerda e direita, abstendo-se o partido socialista.

A adesão a esta proposta foi grande, mas teme-se que possa ser reprovada pelo Conselho Constitucional. A argumentação que é feita no sentido desta lei apela àquilo que são os "valores republicanos" que estão na base da sociedade francesa.

Gostaria de fazer comentários acerca deste assunto, que se torna muito mais complicado do que parece, e que, a meu ver, vai bem além do pragmatismo adoptado em favor dos "valores republicanos" franceses.

Em primeiro lugar, é preciso ter muita atenção a quem se dirige esta lei. Não são todas as mulheres muçulmanas em França que usam, de facto, cobertura de rosto. Muitas delas usarão lenços como forma de cobrir o cabelo. É de notar que destas mulheres que se cobrem totalmente serão, de acordo com o Público, 1900 em toda a França.
A grandeza deste número é variante conforme a perspectiva. Observe-se desta forma: Temos 1900 mulheres para quem se legisla, que terão de pagar 150euros caso não cumpram a lei; mas temos, segundo o público, entre 5 e 6 milhões de pessoas muçulmanas em França.
Podemos concluir que os em nome das 1900 mulheres que atentam "gravemente" contra os "valores republicanos" franceses, cria-se um problema de discordância de 5 milhões de pessoas.

Depois de ter tido o privilégio de passar bons tempos em Istambul, Turquia, este Verão, um país conhecido por ser particularmente liberal quanto às diferentes práticas religiosas, pude ter um contacto com jovens de religião islâmica.

Assim, ao me propor a escrever sobre este assunto, enviei uma mensagem à minha amiga Esra, residente em Istambul, estudante Universitária, pedindo que me desse a sua opinião quanto a esta nova legislação em França. Esra, simpaticamente, enviou-me um texto escrito por si…



“Olá a todos! O meu nome é Esra, da Turquia,
E gostaria de partilhar um pouco sobre um tópico muito recente e que desperta em mim preocupação como à maioria das pessoas.

Após uma certa idade, (geralmente considerada como o inicio da idade adulta), nós, raparigas islâmicas, começamos a vestir uma nova peça de vestuário para sair à rua… um lenço para cobrir o cabelo.
Porque usamos nós isto? Porque usamos este lenço ainda que esteja tanto calor e sol? Se não se encontram informados sobre o Islão, pode-vos parecer estranho ver algumas mulheres cobrindo os cabeços com um lenço, certo?

Então vou tentar explicar de forma mais simples, sendo eu uma rapariga de religião islâmica, que também usa o lenço.
No Sagrado Corão, está escrito que as mulheres que atingem uma certa idade deverão cobrir certas partes do seu corpo. Ainda que certos estudiosos tenham pontos de vista diferentes quanto às partes do corpo que se deverão cobrir, é no entanto bastante claro que a cabeça deve ser coberta.

Eu sou de religião Islâmica, eu acredito em Allah e o seu Sagrado Corão, ele disse-nos no seu livro para procedermos de determinada forma… e esse é o motivo para o fazer, para cobrir a minha cabeça com um lenço. A verdade é que existem mulheres de religião islâmica por esse mundo fora, que, de outra perspectiva, entendem que, para além da cabeça, deverão cobrir o rosto. Façamos claro que isto é uma opção, não uma obrigação. Eu pessoalmente não quero cobrir a minha cara, mas enquanto pessoa que ama a tolerância e o respeito, não tento fazer da cobertura de cara, algo negativo.

E agora, pessoas estão proibidas, em França, de cobrir os seus rostos? Em nome de quê? Segurança? Secularismo? De certeza que não em nome da Liberdade. Esperava que a França fosse um país que não interferisse com as ideias livres de cada pessoa, e os seus estilos de vida.

Sinceramente, sou uma pessoa extremamente optimista, embora por vezes, saia magoada com a realidade.
Um dia seremos capazes de nos respeitar uns aos outros. Espero que esse dia não demore a chegar. “

Esta é a opinião de uma jovem de religião islâmica, que, embora não seja directamente ofendida pela legislação, tanto por não cobrir a sua cara, como por não ser cidadã francesa, mas que se sente indignada. É em nome de um "problema", (é muito discutivel se será ou não um problema), que se cria um problema de indignação tanto a nivel de toda a comunidade islâmica francesa, como também a nivel mundial, como podemos verificar pelo testemunho de Esra.

Fico-me com um video que descobri no Youtube, em que Miguel Portas fala sobre este assunto.


1 comentário:

  1. Ricardo
    Se quiseres ler uma tentativa de artigo marxista de Rita Silva e Timóteo Macedo (da Solidariedade Imigrante) e de mim próprio sobre a burca poderás fazê-lo aqui: http://www.acomuna.net/content/view/334/28/
    Onde entram os "direitos individuais" e como se relacionam com a responsabilidade do Estado?

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