terça-feira, 21 de setembro de 2010

A liberdade do homem forte é a servidão dos escravos.

Crítica ao Anarco-Capitalismo


Há para aí uns bichos estranhos, denominados Anarco-capitalistas, bichos exóticos acabados de vir das novas gerações da Escola de Chicago e uns tantos outros de algum Hospital psiquiátrico qualquer. Acreditam que poderá existir Capitalismo sem Estado, pergunto a estes quem é que hoje garante o direito à propriedade? não é o mesmo Estado coercivo?

Esta gente diz-se contra o Estado, e até o poderia dizer com toda a razão. Afirmam a plenos pulmões que o Estado é um orgão coercivo. E é verdade. Contam-nos histórias de que não deverá existir segurança pública mas só segurança privada, ou seja, concorrência de polícias. Na cabeça destes meninos deverá ser tudo privado, e deverá estar tudo nas mãos do privado (que belo sítio, na volta até patenteavam o acto sexual, lindos meninos!).

Estes meninos imberbes dos subúrbios de Lisboa, esquecem-se, ou não sabem realmente, o que é coerção. Pois estes defendem o Capitalismo sem restrições. Se calhar por muito crentes que sejam, acreditam que um mundo governado por empresários (talvez santos) e mercenários (bonzinhos) será algo de desejável e nada coercivo. Confiam muito estes jovens na bondade sem fins, destes maravilhosos empresários, que com Estado mal se governam, quanto mais sem ele!
Mas enganam-se.

O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente.


Se o modo de produção capitalista estruturalmente tende a concentrar o poder económico. Se este não tivesse regulação e se não houvessem alguns mecanismos de distribuição, este poder tenderia a concentrar-se mais. E sejamos honestos, poder económico traz poder político, poder político é coerção quanto mais concentrado é o poder mais poderosa é a coerção. A coerção não existe só no Estado, mas também na propriedade privada e no mercado, mais ou menos dependentemente da concentração de poder.

"Coerção é o acto de induzir, pressionar ou compelir alguém a fazer algo pela força, intimidação ou ameaça."

É preciso não querer ver para chegar à conclusão de que o Capitalismo é um modo de produção coercivo. Pergunto se num livre-mercado despedir uma pessoa sem dar razão, não é um acto coercivo? Privar um ser humano da terra, da água, e da sua própria natureza só por alguém dizer que "é seu" não é coerção? Além disso o sistema de livre-mercado é um sistema intrinsecamente coercivo por que baseia-se numa competição entre indivíduos para que estes possam manter o trabalho e agradar os seus patrões para poderem ser promovidos, assemelhando-se ao chamado darwinismo social, não será este sistema coercivo também?

Uma das formas melhores de coação é fazer depender o "agente vítima" do "agente coercivo", e esta dependência sobre um capitalismo selvagem é uma dependência económica muito grande. Dada esta dependência económica do trabalhador pelo Capitalista, este poderá usar e abusar da "coerção económica" para pressionar ou compelir os trabalhadores a trabalhar mais, ou, a poderem não se expressar livremente.

Sem regulação, e num mercado-livre, onde até a polícia é privada, a lógica é a nanotecnologia também o ser, e por sua vez a biotecnologia e a genética, ou seja até o próprio ADN humano poderá ser patenteado. A própria natureza humana poderia ser patenteada, nem vale a pena falar dos problemas que poderiam surgir desta brincadeira.

É claro que só pessoas num estado (o não coercivo) mental débil, ou filhos de grandes empresários sem quaisquer escrúpulos, é que poderiam defender algo como isto. Tal situação iria agravar o colapso ambiental e humano, e iria se dar a formação de um gênero de Oligopólio dos grupos empresariais mais poderosos para controlar a sociedade e poder monopoliza-la. Iria se agravar a desigualdade na distribuição de recursos naturais e bens. Quem tem mais recursos tende a exercer coerção sobre as outras classes como forma de domínio e perpetuação do roubo. Quanto maior a desigualdade maior o domínio de uns sobre outros.


Coerção Capitalista mais de perto.

O capitalismo é um sistema caracterizado pela exploração injusta. É um sistema onde a autonomia é violada, o que resulta numa distribuição injusta dos benefícios e dos encargos. Nunca será um sistema anti-autoritário.

Para revogar o anti-autoritarismo, os trabalhadores têm de ter "direitos de auto-propriedade" (usando a linguagem do Anarco-capitalistas para justificar o marxismo.) sobre si próprios e, assim, serão "possuidores" daquilo que é produzido pelo seu trabalho. Porque ao trabalhador é pago um salário menor que o valor que ele cria através do trabalho, o capitalista extrai a mais-valia a partir do trabalho do trabalhador e, consequentemente, rouba parte do que produz o trabalhador, o tempo do trabalhador e suas competências.

Pois eu advogo o Auto-direito à propriedade, e advogo a abolição da mais-valia para o capitalista por que isso é uma forma de "Imposto" sobre o trabalho individual, um imposto invisível mas que está lá. Numa sociedade em que se defenda o individualismo ao extremo, é condição necessária abolir o capitalismo, pois se toda a gente trabalhar para si e só para si, não haverá mais-valia para o capitalista, não haverá capitalismo. O capitalismo é um sistema que necessita de mão-de-obra pouco individualista e massificada, se esta mão-de-obra fosse individualista ao máximo não teria patrões e seria a patroa de si mesmo.

O Anarco-capitalismo não defende o individualismo, nem as liberdades individuais, o anarco-capitalismo defende a lei da selva e acumulação sem limites e pudor, mascarando este interesse de classe sob os ideais de um individualismo vulgar, sedutor mas pouco verdadeiro. Quem-se rende a este individualismo, rende-se a um individualismo vulgar, que de individualismo pouco tem. Os verdadeiros individualistas não parasitam o trabalho dos outros, e não fazem dinheiro à custa dos outros mas sim à custa do grande esforço e trabalho individual.

A terra não é de quem lá chegar primeiro nem de quem a ganhar, a terra é dos homens.

Antes alguma coerção que uma coerção absoluta.

Não nos podemos esquecer que é a liberdade que também forma regimes totalitários, é a liberdade que forma os democráticos, a liberdade forma os regimes que forma consoante o detentor dessa liberdade, e eu confio que a liberdade deve ser do povo independentemente se este tem ou não capital.

A liberdade do homem forte é a servidão dos escravos.

10 comentários:

  1. erros:

    1- só há verdadeiro capitalismo sem intervenção do estado.
    2- só há verdadeiro capitalismo sem qualquer tipo de coerção.
    3- as ideias não são propriedade de ninguém. por isso tais coisas como as patentes não existiriam num mercado livre.
    4- as grandes empresas não defendem o capitalismo verdadeiro, porque vivem à custa de privilégios e de subsidios do estado, assim como de favorecimentos politicos. as grandes empresas adoram o estado, que é só o maior criador de monópolios.
    5- referiu mais-valia na sua argumentação

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  2. Tantos erros, mas então onde é que ele existe?

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  3. Sem intervenção do estado não há capitalismo, ou já alguma vez existiu um capitalismo sem estado?

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  4. Onde existe o tal capitalismo e o tal mercado perfeito?

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  5. por exemplo, um lugar onde consegues ver uma forma aproximada do capitalismo é nas feiras.
    e quanto mais clandestina, mais capitalista é. a legislação quase não entra lá, o vendedor ganha conforme a sua capacidade de vender ou a qualidade do produto, o cliente tem a oportunidade de negociar, não há regras que definam o q se deve vender nem o que se deve comprar. é a ordem natural. mas isso certamente vai mudar, porque vamos ficar mais civilizados e vai chegar a asae, e vai chegar a policia do estado a defender os interesses das grandes marcas de roupa, e vão controlar o q as pessoas vendem e compram e por quanto vendem e por quanto compram, etc etc.. mas o mais o interessante é que as mais clandestinas (as que têm menos policias) são aquelas que beneficiam as pessoas mais pobres. mais uma vez é o estado a zelar pelos nossos interesses e dos mais pobres...

    recentemente fui a bolivia e pude ver como funcionam os transportes colectivos. toda a população tem capacidade para andar de transportes colectivos, nao existe tal coisa como táxis em q pagas uma pequena fortuna, e não esperas 30 min por um autocarro. e porque? nao, não é o plano de transportes públicos do evo morales, mas a simples iniciativa individual das pessoas, e a pouca legislação q atrapalha a vida das pessoas. quanto menos regulação e menos intervenção do estado melhor a população será servida, principalmente a mais pobre.

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  6. A população do mundo não beneficia da ecónomia clandestinina, é essa tal clandestinidade do tráfico humano, de orgãos e de armas, esses devem ser os teus mercados favoritos!! Os mercados clandestinos não são só feiras, são também mercados internacionais que vendem armas sem pudor clandestinamente, e vais me dizer que é a favor dos pobres? Vê o que aconteceu na Holanda com a privatização da água. Ainda me hás de explicar como é que funcionará a rede de iluminação pública num sistema anarco-capitalista.

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  7. o meu mercado favorito é o mercado livre. por vezes as pessoas para subsistirem têm que recorrer à clandestinidade para contornar leis que as prejudicam. não afirmo com isso que sou favoravel a mercados como o tráfico humano. não tem comparação e só prova como não percebeste. (e o tráfico de armas, está muito relacionado com os estados.)apontei as feiras que acontecem todos os dias em portugal e tu falas de trafico humano e de orgãos...

    eu nunca me apresentei como anarco-capitalista. acredito no capitalismo, acredito no livre mercado, mas nao tenho uma "especialização" economico-filosofica, por assim dizer. (nem conhecimentos que me permitam ter essa especialização)

    não sei o que aconteceu com a privatização da agua, mas sei o que aconteceu com muitas nacionalizações em vários países.

    num sistema privado de iluminação publica não terias luzes acesas durante o dia, não terias luzes em lugares completamente desnecessários, muito provavelmente terias um sistema com luzes mais eficientes a nível energético. poderias negociar com várias empresas e a luz da minha rua não teria ficado uma semana sem funcionar porque infelizmente não moro num bairro rico e com gente que conheça alguém que trabalha na camara. ah e não terias um gajo eleito politicamente a mandar na empresa e a ganhar muito dinheiro sem ter que responder pelo mau serviço que presta..

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  8. Terias como alternativa vastas zonas sem luz porque poderia não compensar e não dar lucro ter postes de iluminação em determinados sítios. Hoje existe uma obrigação por parte dos municípios. Quem é que ficava com os sectores da economia que não dão lucro mas que são essenciais ás populações? Como tu podes saber, há alguns anos atrás o mercado da saúde não dava lucro, não era um mercado atraente tinha muitos gastos para os privados, numa situação de existência de mercados essenciais para a vida social em que não existe interesse privado ou se existe é pouco, o que é que se pode fazer? deixa-se de prestar esse serviço às populações?
    Por exemplo, eu como trabalhador numa empresa teria que gastar dinheiro nos serviços de esgoto privado, iluminação da tua casa e rua privada, saúde privada, segurança privada, educação privada caso tivesse filhos, casa alugada, transportes privados, segurança social privada bancos privados, bibliotecas privadas, praias privadas, montanhas privadas, ruas privadas achas que no meio disto tudo existia alguma sustentabilidade económica? Não pode existir mercado em tudo, deverá existir alguns sectores que devem ser públicos nem que seja para garantir que esses sectores vão fazer com que exista consumo para além dos serviços essenciais. Além disso torna tudo muito mais burocrático e pouco eficaz pensando em termos práticos.... e reais... uma rua é da Lisboa Privada luz, a outra do lado é da Luz e Luz companhia... e ect.

    Numa sociedade anarco-capitalista existiriam classes sociais?

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  9. E sabes que devido a muitas dessas nacionalizações não ocorreram só desastres? Também se atingiram sociedades às quais ainda hoje se apontam, como os modelos nórdicos?

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  10. Sabes que devido a esses mercados-livres, os Estado Unidos têm uma mortalidade infantil superior à de Portugal e à generalidade dos países europeus? Custa muito deixar o radicalismo e a fé no mercado absoluto para tratar destes assuntos que estão a acontecer a todo o minuto.

    Vai explicar o que é coerção a uma pessoa que tem fome por causa que não tem emprego ou se o tem não consegue cobrir as necessidades.
    Vai propor a uma pessoa que receba 800 euros mês ( a média nacional) que deveria ser tudo privado, incluindo a saúde e educação em nome do mercado. Realmente é interessante como há pessoas que usam a inteligência ao favor de coisas inconsequentes e até agravantes dos problemas que temos.

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